Economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, afirmou nesta terça-feira, 11, que, nas próximas reuniões, a instituição pretende elevar as taxas de juros para níveis que assegurem o retorno oportuno da inflação à meta de médio prazo de 2%. “Estamos plenamente cientes de que é necessário percorrer mais terreno nas próximas reuniões para sair do nível altamente acomodatício. Esperamos aumentar ainda mais as taxas de juros para amortecer a demanda e nos proteger contra os riscos de um aumento persistente nas expectativas de inflação”, disse, em discurso na conferência organizada pelo Société Générale.

Além disso, segundo Lane, ao calibrar as futuras decisões de política monetária, será essencial acompanhar de perto o impacto nas diferentes fases do mecanismo de transmissão. Para identificar o nível apropriado da elevação de juros, ele destaca ainda que uma série de fatores deve ser considerada, já que as mudanças nos juros afetam diretamente a liquidez e solidez dos balanços de empresas.

“Em uma direção, se observarmos que a transmissão é mais fraca ou mais lenta do que o esperado, isso exigiria um maior aperto na orientação da política monetária. Na outra direção, se observarmos que a transmissão é mais forte ou mais rápida do que o esperado, isso exigiria uma postura de política monetária menos restritiva”, explicou ela.

No entanto, o banqueiro central comentou que a política monetária não pode trazer a inflação de volta à meta no curto prazo. “Indicadores de mercado sugerem que a inflação voltará a níveis compatíveis com nossa meta ao longo de 2024, enquanto permanecerá elevada no próximo ano”, afirmou.

Apesar disso, ele garantiu que o BCE não está com “ampla desancoragem das expectativas de inflação de médio prazo”. “É uma tarefa essencial para a política monetária garantir que isso continue assim”, completou.

Incorporar repercussões da política monetária internacional

O economista-chefe do BCE destacou ainda que a instituição precisa incorporar as repercussões da política monetária internacional, “devido à natureza profundamente integrada da economia global”.

O banqueiro central explica que há um papel “proeminente” do aperto da política monetária dos EUA na condução do aumento das taxas da zona do euro, da correção nos mercados de ações do bloco e da recente depreciação do euro. “De fato, as repercussões da política monetária dos EUA tiveram pelo menos tanto impacto nos preços dos ativos da área do euro e na taxa de câmbio euro-dólar nos últimos 12 meses quanto as ações de política monetária do BCE”, destacou.

De acordo com Lane, o aperto do Fed provoca grandes efeitos contracionistas na atividade real e, eventualmente, na inflação na zona do euro. “Esses efeitos contracionistas são, de fato, tão grandes quanto os efeitos domésticos nos Estados Unidos”, destacou.