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Com quem Ayrton Senna teve uma de suas primeiras oportunidades no automobilismo inglês? Quem abriu as portas da Fórmula 1 para Michael Schumacher? Quem foi também o padrinho de Rubens Barrichello no circuito? A resposta a essas três perguntas é a mesma: Eddie Jordan, um bem-humorado irlandês de 62 anos, que foi um dos mais extrovertidos magnatas da Fórmula 1. 

Cinco anos atrás, ele decidiu mudar radicalmente de vida. Vendeu sua equipe, a Jordan Grand Prix, por mais de US$ 150 milhões e decidiu dar vazão a uma veia desconhecida: a de roqueiro filantropo. 

 

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Eddie Jordan: fundador da equipe que levava seu nome e hoje é Force India

 

Nascido em Dublin, Eddie Jordan percorreu um caminho inusitado: de caixa do Banco da Irlanda a símbolo da Fórmula 1. Tudo começou com uma corrida de kart despretensiosa, durante férias na Ilha de Jersey, quando era adolescente. Ele se apaixonou pela modalidade e fez o caminho que quase todo aspirante à F-1 faz. 

 

Passou pela Fórmula 3, depois pela Fórmula 2 e depois chegou à Fórmula 1 como um dos chefões da categoria, dono da Jordan Grand Prix, equipe que fundou em 1979 e comandou até 2005. ?Pensei que dirigindo um time seria melhor e teria muito mais longevidade nesta carreira do que como corredor?, disse com exclusividade à DINHEIRO. 

 

E Jordan comandou a equipe numa época mais romântica na qual a relação do dono do negócio era mais visceral com o asfalto, o guard rail, os boxes e os pilotos que defendiam suas cores.

 

Com sua equipe, ele lançou muitos dos principais nomes do automobilismo mundial. ?(Michael) Schumacher, (Rubens) Barrichello, (Giancarlo) Fisichella, (Jarno) Trulli, (Timo) Glock. A todos esses eu dei a primeira chance. Tenho um bom olho para reconhecer talentos. Mas mantê-los não é fácil.? 

 

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“Voltar à F-1? Não sou Schumacher. Prefiro tocar bateria”

 

Ele também admite que não foi fácil administrar a crise da Jordan. Ao longo de 25 anos, a equipe viveu altos e baixos, enfrentou crises com fornecedores de motores, perdeu e ganhou patrocinadores e conquistou quatro vitórias. Em 1999, Eddie vendeu 45% do time, mas se arrependeu e comprou as ações de volta. 

 

Em 2005, após perder o fornecimento dos motores Honda e sem patrocínio, o irlandês vendeu a Jordan à Midland ? hoje a equipe, após ser vendida mais duas vezes, corre com o nome de Force India.

 

A paixão pela F-1, confessa, é maior que pela música. Por isso não hesita em responder quais foram os maiores pilotos: ?Senna e Schumacher. O segundo foi talvez o mais rápido. Mas o mais respeitado, o mais amado e com mais carisma foi Senna.? 

 

Aliás, é só tocar no nome do brasileiro que Eddie se emociona. Ele conta que no ano do acidente que matou o piloto, em 1994, estava negociando com Senna para que ele fizesse parte da sociedade da Jordan. ?Dei a ele sua primeira oportunidade de efetivamente correr na Fórmula 3?, lembra. 

 

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Momentos especiais: Jordan brinca com Rubinho, já na Ferrari, nos bastidores de uma das corridas de 2002.

E comemora com Heinz Frentzen o GP da França em 1999  

 

Hoje, a vida de ex-magnata da Fórmula 1 lhe permite manter um pé na paixão pelo automobilismo, como comentarista das corridas da temporada na BBC, e na paixão número dois, a música. Esse agitado senhor, famoso por seu espírito brincalhão, é baterista da banda de rock ?Eddie & The Robbers? (Eddie & Os Ladrões). 

 

Foi na pele de comentarista e de baterista que ele veio ao Brasil este mês. Com a sua ban?da fez, no consulado britânico em São Paulo, um show beneficente. E encantou a plateia, metade inglesa, metade brasileira, com um vigor de fazer inveja a qualquer garoto de 20 anos ao executar músicas do Eurythmics, Beatles e dos brasileiros Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. 

 

?Tocar bateria me deixa completamente relaxado. Vou para outro mundo. Não penso em finanças, em negócios.? O show arrecadou R$ 12 mil para o projeto Casa do Sol, que atende crianças com necessidades especiais. 

 

Quando não está viajando ou tocando, Eddie vive com a esposa em Oxford, Inglaterra, e comanda a Fundação Clic (Caring for People and Young Children with Cancer), que ajuda crianças com câncer. Sem revelar sua fortuna, admite que tem negócios em Londres, mas nenhum voltado à modalidade que o enriqueceu. 

 

?Às vezes sinto-me frustrado de não mais fazer parte do mundo da F-1. Mas há também grandes satisfações. É gratificante perceber a audiência da corrida crescendo, quando estou narrando o evento na BBC. Pensando bem, não quero e não preciso mais ser o chefe de um time.? 

 

Entre os negócios que ele não revela, DINHEIRO apurou a sociedade na rede hoteleira Ramada, na editora britânica Debrett e em dois fundos de investimento: Clareville e Madara.  Ele diz negar os convites que ainda lhe fazem para voltar a comandar equipes na Fórmula 1. 

 

?É meio parecido com que penso sobre o Schumacher. Não acho que deveria voltar agora. Há outros, mais jo?vens, que podem fazer isso muito bem?, admite. Nem se fosse uma equipe brasileira? ?Uma equipe brasileira precisa de um dirigente brasileiro, para ter o estilo e a paixão do lugar impressos no time.? 

 

Entre as indicações de Eddie para tal posto, se ele existisse, surgem Emerson Fittipaldi e Rubens Barrichello. ?Rubens esteve comigo por quatro anos. Lembro-me de ter falado a seu pai, na cozinha da minha casa, que cuidaria dele como se fosse meu filho. Às vezes, acho que o brasileiro não dá a Rubens o crédito que ele merece.?

 

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