O caminho que o Brasil precisa percorrer para recuperar o atraso na educação é longo

O caminho que o Brasil precisa percorrer para recuperar o atraso na educação é longo

Há um consenso de que a educação brasileira vem registrando melhoras nos últimos anos. Ampliamos o acesso, conseguimos manter os alunos por mais tempo nas escolas e temos indicação de melhora nos índices dos anos iniciais da educação básica. Mas o ritmo de avanço continua a ser um problema que deve ser enfrentado pelo próximo governo. É importante que os candidatos tenham em mente que precisamos cotejar nossa evolução com nossos competidores globais. Não basta melhoramos em relação a nós mesmos. É preciso melhorar significativamente em relação às demais nações, se quisermos conquistar um novo patamar de competitividade na economia global.

Nesse ponto não temos feito uma grande figura. No Pisa, que avalia o desempenho de alunos de 15 anos, ainda seguimos ocupando uma incômoda posição no ranking que contempla 65 nações. Mesmo sendo a sétima maior economia do planeta, somos o 55º em desempenho de leitura, o 58º em matemática e 59º em ciências. Numa das últimas rodadas de testes de matemática realizadas pela OCDE, o Brasil ficou na 38ª posição num universo de 44 países avaliados. Apenas 1,8% dos nossos estudantes conseguiu resolver problemas complexos e 47,3% deles tiveram baixo desempenho, resultado que nos afasta brutalmente de nações como Cingapura, Coreia, Japão e Finlândia e até vizinhos como o Chile.

As más notícias de nosso desempenho no cenário internacional estão expostas para não deixar dúvidas. No relatório Panorama da Educação 2014, recentemente divulgado pela OCDE, o Brasil figura na penúltima posição no quesito investimento por aluno, num contingente de 35 países observados. O resultado dessas deficiências se reflete em nossa produtividade. O trabalhador brasileiro enfrenta longas jornadas, mas tem baixa produtividade, o que reflete na competitividade das empresas, na remuneração e em todo o conjunto da qualidade de vida dos indivíduos e famílias.

Em um mundo pautado pela inovação e pela busca incessante por produtividade, esses indicadores soam como um sinal de alerta que não pode ser ignorado. O país não tem como avançar se não enfrentarmos os dilemas da educação com coragem obsessiva. Ainda há mais de 3 milhões de crianças e jovens fora da escola. De cada 20 crianças que ingressam no sistema de ensino, apenas três concluem a educação básica na idade adequada e com os conhecimentos esperados em português e apenas uma em matemática. E cerca de 23% dos estudantes do ensino médio são reprovados ou abandonam os estudos antes de sua conclusão. Não existe solução mágica para um problema tão complexo.

Mas já há alguns bons norteadores que devem ser seguidos pelos postulantes ao cargo máximo da República e eles estão expressos em cinco metas definidas, em 2006, pelo Movimento Todos pela Educação: toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano; todo jovem de 19 anos com ensino médio concluído; investimento em educação ampliado e bem gerido. São pontos que indicam objetivamente aos governantes o que deve ser perseguido para que o País mude de patamar e construa um sistema educacional de qualidade. Para chegar lá, será necessária uma atuação séria e comprometida com a educação, além de uma participação ativa da sociedade como um todo.

*Antonio Matias é vice-presidente da Fundação Itaú Social e autor do blog Educação no site da DINHEIRO