À frente de um desfile naval luxuoso e na presença de chefes de Estado, incluindo o francês François Hollande, o presidente Abdel Fattah al-Sissi, que dirige o Egito com mão de ferro, inaugurou nesta quinta-feira a expansão do canal de Suez para tentar recuperar a fraca economia do país.

A cerimônia, anunciada como grandiosa pelo governo, corre o risco de ser ofuscada por uma nova atrocidade cometida pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), cujo ramo egípcio ameaçou executar um jovem refém croata que trabalhava para uma companhia francesa.

Neste contexto, Sissi, ex-chefe do Exército que destituiu há dois anos o presidente islâmico Mohamed Mursi e reprimiu implacavelmente toda a oposição, quer tranquilizar os turistas e investidores estrangeiros, proclamando a restauração da segurança.

Inaugurado em 1869, o Canal de Suez liga o Mar Vermelho e o Mediterrâneo e é uma das vias navegáveis com maior tráfego do mundo. Por ser altamente estratégico para o comércio internacional, trata-se de uma valiosa fonte de divisas para o Egito, que procura reviver uma economia em crise desde a revolta de 2011 que derrubou Hosni Mubarak do poder.

A ampliação do Canal é uma das principais obras de Sissi, que lançou com grande alarde este projeto que inclui a abertura de uma nova via de duplicação, ao longo de 35 km, e o alargamento e aprofundamento de um trecho de 37 quilômetros mais.

Com a inauguração da nova via, prevê-se que as receitas do canal passem dos 5,3 bilhões de dólares previstos em 2015 para 13,2 bilhões de dólares em 2023.

O presidente egípcio estipulou um ano para a conclusão do projeto, um desafio cumprido graças a uma subscrição de cerca de US$ 9 bilhões, que atraiu muitos egípcios.

Sissi, em seu uniforme de marechal aposentado, embarcou no início da tarde em Ismailia, no meio do canal, para liderar o desfile a bordo de um iate elegante que transportou a imperatriz francesa Eugenie, a esposa de Napoleão III, na inauguração do canal em 1869.

Convidado de honra da cerimônia, Holland deve admirar em pleno voo os três primeiros aviões de combate francês Rafale vendidos no exterior, que o Egito acaba de comprar.

Estes dispositivos – o Egito encomendou 24 de total – vão abrir um desfile aéreo, ladeada por oito caças F-16 recentemente fornecidos pelo grande aliado americano. A fragata FREMM, também adquirida recentemente da França, deve ser um dos destaques do espetáculo.

O emir do Kuwait e o rei do Bahrein estão entre as figuras esperadas, bem como os presidentes palestino, sudanês e iemenita, além dos primeiros-ministros russo Dmitry Medvedev e grego Alexis Tsipras.

A nova via deve permitir dobrar o tráfego até 2023, assegura o Cairo, permitindo a circulação de 97 navios por dia contra os 49 atuais. A nova artéria também permitirá a circulação nos dois sentidos, reduzindo de 18 para 11 horas a espera dos navios.

Mas para especialistas em comércio internacional, trata-se de um projeto muito custoso, e até um desperdício, no momento em que o crescimento mundial está a passos lentos.

“A prioridade dos armadores é reduzir os custos dos transportes, e não aumentar sua velocidade”, comenta Ralph Leszczynski, diretor de pesquisas da companhia de navegação italiana Branchero Costa.

“A tendência é reduzir a velocidade dos navios para reduzir o consumo de combustível”, explica, concluindo: “no final das contas, todo o mundo está feliz em esperar na fila para passar pelo Canala de Suez”.

Mas para Sissi, ávido de um reconhecimento ocidental desde a destituição de Mursi – primeiro presidente democraticamente eleito no Egito – “este novo canal” tem como objetivo assegurar sua legitimidade no cenário internacional. Ele apresenta a nova via como “o presente do Egito ao mundo”.

A popularidade de Sissi é grande entre os egípcios, que passaram quatro anos em meio ao caos. Mas as organizações de defesa dos direitos Humanos consideram seu regime – que reprime violentamente a oposição islâmica, bem como a liberal e laica – mais repressivo do que o de Mubarak.

Em represália, o Egito tem sido alvo de vários atentados realizados por grupos jihadistas, incluindo a facção egípcia do grupo Estado Islâmico, “Província do Sinai”.

O grupo ameaçou em um vídeo decapitar um croata funcionário de uma sociedade francesa, feito refém no fim de julho, o primeiro estrangeiro sequestrado por jihadistas no Egito desde o começo da insurreição, iniciada há dois anos.

No vídeo divulgado pelos jihadistas, o croata aparece ajoelhado aos pés de um homem encapuzado e com um facão na mão.

Enquanto lê o texto em uma folha de papel, o refém diz que será executado em 48 horas se o governo egípcio não libertar “mulheres muçulmanas” detidas.

O vídeo não informa quando começa a contagem regressiva.

A execução deste pai de duas crianças que trabalha para o grupo francês de serviços petroleiros CGG no Egito poderá ser desastrosa para Sissi, afastando os turistas e as várias empresas no país.