O grupo japonês Nippon e a Ternium, subsidiária do grupo ítalo-argentino Techint, principais acionistas da siderúrgica Usiminas, travam nos tribunais uma das maiores disputas societárias da história recente do País. Há duas semanas, o litígio veio à tona quando a siderúrgica veio a público comunicar a destituição de três dos seus principais executivos: Julián Eguren, presidente, e os diretores Paolo Basseti (de subsidiárias) e Marcelo Chara (industrial), nomes de confiança da Ternium.

A Nippon acusa esses executivos de receberem bônus irregulares. A Ternium discorda e argumenta que o grupo japonês quebrou o acordo de acionistas que prevê consenso nas principais decisões da siderúrgica, como destituir os executivos. Embora travem uma disputa pública na Justiça, o jornal O Estado de S. Paulo apurou que o grupo japonês teria proposto reconduzir os executivos à companhia e discutir a alternância de poder em abril de 2016, quando indicaria seus executivos de confiança. O assunto ainda está em análise, segundo fontes.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo o executivo argentino Eguren disse estar tranquilo e que não houve “qualquer tipo de dolo, dano ou má-fé” em relação aos bônus recebidos. Questionado sobre como teria sido a negociação dos bônus para os executivos, ele contou que um time de executivos começou na Usiminas em janeiro de 2012. O time, diz ele, formado por distintas origens focava o projeto “turnaround” (reestruturação) da empresa. “À época, não havia plano de benefícios para expatriados. Utilizamos o modelo do empreendimento que Nippon e Ternium têm no México, em joint venture, que era pagar esse bônus em uma única parcela.

Ele conta que a Usiminas teria tomado a decisão de compensar com a mesma política, que era chamado de “bônus car”, cujo critério é pagar o equivalente ao preço de um carro (o valor varia de acordo com o cargo). A Nippon concordou, disse. Depois, a Usiminas começou a discutir por meio do comitê de recursos humanos qual seria a política adotada de benefícios, conta.

Concordância

Eguren afirma que o recebimento dos bônus pelos executivos teve a anuência da Nippon. E que, nos meses seguintes a Usiminas decidiu adotar uma política própria (de pagar em quatro parcelas anuais), que foi aprovada em reunião do conselho em novembro do mesmo ano. “Chegamos a receber (os três executivos) R$ 704.115, juntos, mas tivemos de devolver. Uma parte foi tirada do contracheque e a outra, compensada por créditos feitos pela empresa aos expatriados, como benefícios para a mudança (Eguren mostrou troca de e-mails com o RH da Usiminas, nos quais a mensagem mostrava que a situação de Eguren estava regularizada).

A reportagem quis saber se a Nippon adota o mesmo modelo de bônus para expatriados. Eguren diz que os executivos estrangeiros da Nippon, como não dirigem, têm motoristas. E que recebem remuneração no Brasil e benefícios de expatriados pelo Japão. “A Ternium achava que não era uma prática transparente da Usiminas, iria contra a governança – porque, afinal, todos são funcionários da Usiminas”, diz.

Mas então por que esse tema teria virado o ponto da discórdia? Ele conta que o assunto voltou a ser discutido em abril deste ano quando uma auditoria interna apontou que esses bônus não foram integralmente devolvidos. Houve esclarecimentos, que a Nippon não questionou, além de auditorias independentes da Deloitte e EY, que comprovaram que não houve má-fé.

Fim dos contratos

Os contratos dos principais executivos, incluindo o de Eguren, e que venceram em abril de 2014, não foram renovados, segundo o executivo. “Acredito que já havia um pouco de desacordo de acionistas. Mas, em maio, fomos parabenizados pelos resultados por todos os acionistas, incluindo a Nippon e o Penido (Paulo Penido, presidente de administração do conselho) pelo bom desempenho da empresa e recebi aumento salarial.”, diz.

Em 25 de setembro, o conselho se reuniu. Eguren diz que foi para discutir se haveria penalização aos executivos por causa do bônus. Mas não houve consenso na reunião prévia (realizada dia 23). A Ternium entrou na Justiça tentando impedir a reunião do dia 25 por entender que, na falta de consenso, haveria quebra do acordo de acionista, contou. A decisão por consenso, diz, funciona da seguinte forma: os acionistas do bloco de controle (Ternium, Nippon e Caixa dos Empregados da Usiminas) se reúnem previamente para discutir o tema. Se não há consenso (100% de entendimento), o assunto não deve ser levado adiante. “É este ponto que a Ternium discute na Justiça, alegando a quebra do acordo de acionistas”, afirmou Eguren.

Dissonância

Questionado sobre o fato de os dois acionistas não falarem a mesma língua, Eguren diz que a verdadeira diferença entre Ternium e Nippon é que eles têm visões diferentes para a Usiminas. “Para a Nippon, a Usiminas tem de ser dependente do grupo japonês, inclusive com pagamento de royalties de tecnologia (a Usiminas pagava R$ 50 milhões até 2013 à Nippon). Para a Ternium, que tem uma visão de longo prazo para a companhia, a siderúrgica tem de ser autônoma, livre e capaz de fornecer produtos sofisticados para o Brasil. A Usiminas tem de decidir sozinha se vai usar a tecnologia de acionistas”, completa.

E o que teria mudado nesses quatro meses? Eguren avalia que a Nippon teria usado essa auditoria para discutir alternância de poder. “Foi interrompido um processo de transformação e compromisso dos executivos na Usiminas. Promovemos uma ampla reestruturação, com a integração de Ipatinga (MG) e Cubatão (SP), o que provocou alguns incômodos. Fizemos grandes mudanças, ampliando eficiência e produtividade. A Usiminas tem de ser uma companhia brasileira de padrão internacional. Tem de ser uma empresa de personalidade própria. Reduzimos o nível de alavancagem de perto de 5 vezes o Ebtida para 1,8 vez, cumprindo ‘covenants’ (metas de endividamento).”

A reportagem quer saber que há clima para voltar à companhia, caso a decisão de destituição seja revertida. Eguren diz que voltaria tranquilo. “Temos um time maravilhoso. Temos toda a capacidade de manter o trabalho que foi violentamente interrompido. A preocupação é com a Usiminas. Eu desejaria que isso (o processo) terminasse com o entendimento entre os acionistas.

E se a decisão não se reverter? O executivo estudaria processar a Nippon? Ele responde que os executivos analisam ação individual. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.