De seu escritório na Praia do Flamengo, o empresário Eike Batista contempla o Pão de Açúcar, símbolo do Rio de Janeiro. O tempo fechado e a violência nas ruas – carros e ônibus queimados, confrontos entre policiais e bandidos nos morros – diminuem a beleza da Cidade Maravilhosa neste final de novembro, mas não tiram o seu encanto aos olhos do homem mais rico do Brasil e oitavo do mundo, segundo a revista Forbes. 

 

“O Rio tem jeito?”, pergunto. “Claro que tem”, responde Batista, sem pestanejar. Ele não só acredita no que diz como trabalha para isso: doou R$ 24 milhões à campanha que deu ao Rio a vitória na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016. 

 

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E desembolsará mais R$ 20 milhões por ano até 2014  para ajudar o governo a instalar Unidades de Polícia Pacificadora nas comunidades retomadas dos traficantes de drogas e armas. 

 

Além disso, financia a modernização do Hotel Glória e da Marina da Glória, dois ícones cariocas. O resgate da ex-capital federal é tarefa hercúlea e para mais de uma geração, o tipo de missão que só pode ser alcançado pela soma de esforços de gente inconformada, sonhadora, empreendedora, ambiciosa, persistente e competente, tanto no setor público como no privado. “As empresas também têm que fazer a sua parte”, defende Batista, Empreendedor do Ano na Infraestrutura.

 

A julgar pela impressionante trajetória de Eike Batista nos últimos anos, ele não só possui os atributos acima descritos como conseguiu convencer investidores nacionais e estrangeiros de que usará essas qualidades para ter sucesso em seus empreendimentos gigantescos nas áreas de petróleo, mineração, energia, logística e na indústria offshore. 

 

As empresas do Grupo EBX levantaram US$ 10 bilhões no mercado de capitais desde 2004 para financiar investimentos ambiciosos em projetos de longo prazo de maturação. Cinco delas – OGX, MPX, LLX, MMX e OSX – lançaram ações e são listadas no Novo Mercado da Bovespa. 

 

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Eike Batista acompanha a estreia da OSX Brasil na Bovespa, em 
março. Desde 2004, o Grupo EBX captou US$ 10 bilhões no mercado de ações

 

Batista obteve mais US$ 8 bilhões com a venda de ativos, criando uma máquina de exploração mineral que emprega 20 mil pessoas em nove Estados. Investiu US$ 3,4 bilhões até 2009 e está investindo mais US$ 15 bilhões entre 2010 e 2012. “O Brasil é o melhor país do mundo para mexer com recursos naturais”, diz ele.

 

Batista opera três minas de minério de ferro em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul; está procurando (e encontrando) petróleo nas bacias de Campos e Santos, e pôs a mão em enormes jazidas de gás em blocos terrestres da bacia do Parnaíba (MA). “As descobertas no Maranhão são incríveis. Aquilo vai ser meia Bolívia. Vai ser uma loucura”, prevê. 

 

Antes de apostar pesado no Brasil, o empreendedor fez fama e fortuna procurando ouro no Exterior. Fez negócios na Rússia, na Grécia, no Equador, na Venezuela, na Argentina e colocou oito minas de ouro em produção no Brasil, no Chile e no Canadá entre 1980 e 2000. 

 

Aos 54 anos de idade, o segundo dos sete filhos do ex-presidente da Vale Eliezer Batista faz parte de uma geração de brasileiros que viveu em profunda crise econômica durante duas décadas e via mais oportunidades lá fora do que na terra da inflação. Não por acaso, sua cidade natal é Governador Valadares, em Minas Gerais, a maior exportadora de mão de obra brasileira para os Estados Unidos. 

 

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Com o pai, Eliezer Batista, ex-presidente da Companhia Vale do Rio 
Doce. Eike tentou comprar o controle da Vale em 2010, mas não teve êxito

 

A decisão de concentrar seus negócios no Brasil veio em 2000, quando o País já dispunha de uma moeda estável e um mercado interno mais promissor. Desde então, não parou mais. “Tive muito mais sucesso no Brasil do que no resto do mundo”, orgulha-se o empresário, que domina cinco idiomas e os utiliza para atrair investidores americanos, canadenses, europeus, asiáticos e árabes.

 

Em meados de novembro, suas companhias abertas tinham um valor de mercado de US$ 55 bilhões, um fenômeno impressionante para quem ainda tem a maioria dos negócios na fase pré-operacional e gera “somente”   US$ 1 bilhão de caixa por ano com mineração. 

 

Seus outros empreendimentos de capital fechado valem mais US$ 10 bilhões, estima. Ele também investe no Chile e na Colômbia. O ímã financeiro é fruto de duas décadas de trabalho no Exterior e da consistência dos projetos do Grupo EBX, insiste Batista. 

 

“Todo mundo na mídia esquece o que fiz entre 1980 e 2000. Nesses 20 anos, criei US$ 20 bilhões de riqueza, mas sempre era tratado como o marido da Luma de Oliveira e filho do dr. Eliezer”, queixa-se. “Eu achava graça disso.”

 

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Com Dilma Rousseff em maio, quando a presidente eleita ainda era pré-candidata do PT à Presidência

 

Seu status começou a mudar em julho de 2008, quando a OGX Petróleo foi à bolsa e captou R$ 6,7 bilhões. “Foi um negócio avassalador. Pela geração de riqueza, não tem história parecida no mundo. A partir da OGX, todos começaram a estudar as outras companhias do grupo com mais detalhes”, diz Batista. 

 

As ações da OGX viraram blue chip e estão entre as mais negociadas da Bovespa. Seu principal acionista fez questão de mostrar à DINHEIRO, numa sala de trabalho que utiliza projeção em 3D para analisar as descobertas sob o fundo do mar, imagens do petróleo e do gás encontrados pela OGX. 

 

As chamas nas plataformas não deixam dúvida: o Rockefeller brasileiro está dando certo. “Se Deus quiser, em agosto estaremos produzindo”, afirma. “Com exceção  da LLX, todos os nossos negócios estarão gerando caixa no final de 2011.” 

 

Desde já, aumentam as apostas em seu favor. Em 2010, o empreendedor fechou parcerias importantes. O grupo chinês Wuhan Iron and Steel investiu US$ 400 milhões na MMX, da qual comprou  21,52%. 

 

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Em boa companhia com a namorada, Flavia, e a atriz Vera Fischer, em 
2009. Batista sempre foi mais famoso por ter se casado com Luma de Oliveira   

 

A sul-coreana SK Networks aportou mais US$ 1,2 bilhão. Além de reforçar o caixa da mineradora, ele fechou contratos de fornecimento com essas companhias e garantiu demanda para o minério produzido em Minas Gerais e no Chile. 

 

Tem mais. A Usiminas fechou contrato com o Superporto Sudeste, um empreendimento de R$ 1,8 bilhão da MMX em Itaguaí (RJ), previsto para operar em 2012. As duas irão explorar em conjunto uma lavra da Mina Pau de Vinho, em Minas Gerais. 

 

Outra conquista importante foi a parceria da sul-coreana Hyundai Heavy Industries, dona de 10% da OSX Construção Naval, para a criação do Instituto de Tecnologia Naval, o ITN, no Rio. “O ITN será para a indústria naval brasileira o que o ITA foi para a aeronáutica”, prevê Batista. 

 

Ele se entusiasma ao mostrar o mapa do Superporto do Açu, um empreendimento da LLX em São João da Barra (RJ). É o maior investimento em infraestrutura portuária da América Latina, destinado a escoar minério, petróleo, aço, carvão e produtos acabados, como automóveis, que serão fabricados ali mesmo. As obras terminam em 2012. 

 

Três mil pessoas trabalham na construção do porto, um sonho que inclui um complexo industrial de 90 quilômetros quadrados e terá duas siderúrgicas, um estaleiro, uma empresa de geração de energia, montadoras de automóveis e uma cidade de 250 mil pessoas. 

 

Os investimentos de terceiros estão previstos em US$ 36 bilhões. Grupos chineses, coreanos e italianos já se associaram ao projeto. Alemães e americanos estão negociando o mesmo. “Isso é do tamanho de Manhattan, não tem nada parecido no mundo. É para matar chinês de inveja. E paulista também”, diz o empresário mineiro, com um sorriso carioca nos lábios.