10/08/2025 - 12:00
Para o Presidente do Einstein Hospital Israelita, Sidney Klajner, as mudanças climáticas devem agravar quadros de doenças respiratórias e forças o sistema de saúde a lidar com um panorama ainda mais complexo.
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Ao Dinheiro Entrevista, Sidney Klajner conta que o tema deveria ser tratado com uma prioridade ainda maior por profissionais do ramo e pelas partes envolvidas. O médico e executivo tem sido um dos profissionais mais vocais sobre o tema no panorama atual.
“Eu falei muito sobre a parte respiratória na época das queimadas do ano passado. Tivemos queimadas que cobriram 60% do território nacional, considerando o cerrado, interior do estado de São Paulo. Isso trouxe partículas para o ar que quem já tem alguma doença respiratória teve uma piora no quadro e quem não tem passou a ter”, relembra.
“Isso sobrecarregou os hospitais e pronto atendimentos que tiveram de atenderem esses casos. No Einstein mesmo, o pronto atendimento parecia uma fase sazonal de gripe, de tantos casos respiratórios”, completa.
Para o médico, uma solução para lidar com esse tipo de cenário seria simplesmente usar máscaras – o que parece ser uma solução simples, mas, na prática, não é tão elementar.
“O paciente tem que ser avisado, ‘olha, tem uma queimada a tantos quilômetros daqui, é melhor você usar máscara’. Se uma unidade de atendimento fechou porque estava no meio do fogo, tem de haver um plano para ir para outra unidade de atendimento para fazer a prevenção”, explica.
Sobre eventos ‘extremos’, relata que além dos microplásticos, até mesmo os nanoplásticos já tem afetados exames de pacientes.
“Os extremos climáticos, sejam eles ou ondas de calor ou ondas de frio, sempre vão trazer algum tipo de consequência à saúde humana e na maioria das vezes não é nem respiratória, é cardiovascular. Mesmo os problemas respiratórios que possam vir, eles não são maiores que doenças cardiovasculares por causa de extremos climáticos. Quando a gente fala do uso de plástico, o nanoplásticos, a gente já vê exames de artérias que estão se obstruindo por nanoplásticos”, explica.
O cenário se soma a problemas de doenças infecciosas atreladas a problemas de saneamento básico – agravadas justamente em eventos extremos, como as enchentes Rio Grande do Sul, que impulsionaram volumes de casos de leptospirose e hepatite.
Saúde precisa aumentar compromissos com sustentabilidade, defende presidente do Einstein
Para além do atendimento à população, o especialista frisa que o sistema de saúde ‘gera carbono e impacta o clima‘, e dessa forma devem ser estabelecidos compromissos para atenuar isso.
Klajner cita que o tema tem sido levado em eventos como a semana do clima em Nova York, na COP 29 e possivelmente na COP 30.
Segundo o especialista o sistema de saúde hoje é responsável por 5% das alterações climáticas, e a situação pode ser atenuada ou revertida com práticas como logística retrógrada de embalagem, descarte adequado e uso de energia renovável no consumo.
“O Einstein hoje tem mais de 60% da energia vindo de fontes renováveis por conta de um investimento em usina eólica”, conta.
‘Precisamos de planos de catástrofe’
Para os eventos extremos, comenta que especialmente o sistema público de saúde precisa ter ‘planos de catástrofe’ para lidar com eventos como as enchentes do Rio Grande do Sul.
“Caso uma unidade feche, onde que esse paciente vai procurar outra unidade? Precisamos da construção de unidades que sejam resistentes ao calor, que tenham diques que evitem que a enchente destrua equipamentos, como aconteceu no Rio Grande do Sul“, comenta.
“Atualmente há uma legislação que obriga os municípios a terem um plano de catástrofe pra saúde também, mas de todos os municípios, aqueles que têm de fato……..se eu não me engano, em setembro do ano passado, eram apenas 23 municípios”, conclui o presidente do Einstein.