Em um cenário de envelhecimento da população e de expectativa de aumento do número de casos de câncer nos próximos anos, o Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner, avalia que o sistema de saúde – público e privado – deve redobrar investimentos e aumentar a prioridade com a oncologia.

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“A expectativa é que 19 milhões de novos casos [de câncer] apareçam ao ano no mundo até 2030, e isso acontece também pelo envelhecimento e pela própria qualidade de vida”, comenta o médico e executivo do Albert Einstein.

Nesse sentido, frisa que o Einstein está caminhando para ter um centro dedicado à oncologia – que inclusive irá centralizar os tratamentos oncológicos da instituição, com 200 leitos.

O empreendimento em questão está sendo construído no Parque Global, um novo bairro planejado na Zona Sul de São Paulo, entre Cidade Jardim e Parque Burle Marx, às margens da Marginal Pinheiros.

A visão da instituição é de que o centro “mudará drasticamente o paradigma do tratamento do câncer” e deve posicionar o Einstein entre os 10 melhores hospitais oncológicos do mundo até o ano de 2030. O centro deva balizar 12 mil atendimentos ao ano.

“O Einstein passou a investir para o futuro, para poder lidar com esses pacientes que vem apresentando um número maior de doenças oncológicas, através do nosso centro de terapias avançadas em oncologia e hematologia, que está sendo construído para lidar de uma forma muito mais eficaz com a população que já tem a doença e capacitando profissionais para que façam o mesmo na sua área de atuação”, diz  Sidney Klajner.

O centro estará localizado em uma área de 38 mil metros quadrados e inclui:

  • 10 salas cirúrgicas (das quais uma sala híbrida e duas salas de cirurgia robótica)
  • 160 leitos automatizados
  • 20 UTIs
  • 20 semi-intensivas
  • 120 clínicas médicas cirúrgicas
  • 84 consultórios
  • 36 salas de quimioterapia
  • 15 postos de laboratório

Além dos casos de câncer, Klajner frisa que, de um modo geral, o sistema de saúde do Brasil necessita de aportes mais robustos de capital e de modernização, dado o cenário de inversão da pirâmide etária.

Junto com isso, destaca que a as decisões devem ser mais parcimoniosas, de olho em cortar desperdícios.

“Não temos dúvidas que o envelhecimento e as pressões deste envelhecimento nos trazem desafios que antes não tínhamos no sistema de saúde, entre eles o manejo das doenças crônicas e principalmente o número de casos oncológicos, que vem aumentando às custas do envelhecimento e às custas da qualidade de vida que temos, das nossas exposições. O envelhecimento tem um papel fundamental, e para isso o sistema de saúde tem que estar muito bem preparado, não só para remediar com tratamento mas para prevenir ou para ao menos fazer o diagnóstico, para ser mais eficaz e mais barato.”

Parcerias público-privadas e SUS

À IstoÉ Dinheiro, o médico também comenta que enxerga as parcerias público-privadas não como ‘único caminho’, mas ‘sem dúvida um dos caminhos’ para melhorar a qualidade dos atendimentos do SUS.

“Eu não tenho dúvidas que diante dos desafios que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem, a parceria público-privada consegue vencer esses desafios de uma forma mais rápida, eficaz e produtiva, dependendo muito da área de atuação, por exemplo em alta complexidade, em atendimentos, ou na medicina que adota novas tecnologias, e na eficiência do giro de leitos.”

A visão dele é de que esse cenário tem se concretizado, dado que ‘cada vez mais o Ministério da Saúde tem tido oportunidade de interagir com organizações privadas’.

Médicos vão precisar de capacitação para eventos climáticos

Citando casos como as enchentes do Rio Grande do Sul em 2024, Klajner adiciona que o futuro da medicina deve envolver protocolos pensados para casos relacionados às mudanças climáticas – que devem ser mais frequentes nos próximos anos de décadas.

“Existem duas formas de atuação. A primeira é mitigando os eventos de extremos climáticos a bem da saúde da população, que envolve transição energética, redução de pegada de carbono, fontes de energia renováveis, mas o segundo ponto é que o sistema de saúde esteja melhor preparado para lidar com essa situação já que ela só tende a crescer à medida que a população está cada vez mais exposta a esse eventos, tanto de temperatura quanto enchentes e ondas de calor.”

Atualmente existe uma Portaria – a GM/MS nº 6.918/2025 – que criou a Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde. A norma tem missão de propor protocolos, planos de contingência, monitoramento e resposta rápida no SUS.

Além disso, há a Lei 14.904/2024, dos planos de adaptação climática, que firma diretrizes para elaboração de planos de adaptação às mudanças climáticas, que devem estar integrados à Política Nacional de Defesa Civil. Essas diretrizes são de esferas municipal, estadual e nacional.

Todavia, o presidente do Einstein frisa que o número de municípios com planos concretos nesse sentido ainda é de poucas dezenas.