13/03/2001 - 7:00
Foi dada a largada. Antes mesmo de a etapa brasileira do circuito mundial de Fórmula 1 ter início ? o evento acontece no dia 1º de abril, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo ?, uma brasileira já se coloca a postos para a corrida. Descendente de árabes, 35 anos, mãe de dois filhos, a irrequieta Maria Regina Yasbek acaba de fechar contrato com a Ferrari. Um privilégio e tanto. A bela filha dos fundadores da Movicarga comandará os trabalhos de um time de cinco mulheres para instalação dos equipamentos da escuderia em seu boxe, área onde tradicionalmente só ingressam membros da própria equipe italiana. ?Vamos cuidar de tudo. Desde a movimentação de motores, ferramentas e computadores até o abastecimento da água Perrier para o pessoal da Ferrari?, explica, sem revelar o valor do contrato. Enquanto esconde as cifras, ela vai seduzindo equipes no circo da F1. A Arrows quer a Movicarga em seu boxe e a MacLaren também já deu sinal verde para a companhia pilotada por Regina.
A convivência com o automobilismo, assunto que a empresária confessa entender muito pouco, começou há dez anos. Na época ela venceu a concorrência feita pela Formula One Management (FOM) ? empresa que administra o campeonato mundial ? para cuidar do transporte de parte dos equipamentos. Mas o contrato não colocava a Movicarga nos boxes. Era um serviço de apoio, bem diferente do trabalho que fará com a Ferrari, Arrows e MacLaren. O acordo com a FOM permitiu a Regina acelerar os negócios. Ela engatou a sexta marcha e passou de uma receita de US$ 800 mil em 1987 para US$ 18 milhões no ano passado. Em 2001, o faturamento deverá superar US$ 25 milhões.
Ao assumir as operações de logística da F1, Regina decidiu arriscar: contratou apenas mulheres para pilotar as empilhadeiras nas pistas do autódromo. Encontrou resistências, principalmente entre os atuais parceiros italianos. Perguntavam: ?O que esta moça está fazendo aqui??, conta. ?Ao contrário do público masculino, nossas profissionais se concentraram no trabalho, sem se distrair com a agitação da Fórmula 1?, acrescenta. Com o sucesso da estratégia, a Movicarga tem garantido, todo ano, o contrato com a FOM. Para a empresária, a temporada brasileira chega sempre mais cedo. Um mês antes da corrida no País, começa a elaborar o plano para a chegada dos valiosos equipamentos. Só para se ter uma idéia, mais de 800 toneladas ? entre pneus, carrocerias, computadores etc. ? chegam de vários países ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas, de onde são transportados em comboios de 60 caminhões para o autódromo paulista. Lá, as peças são distribuídas à frente de cada um dos boxes. A operação no interior deles, até agora, era feita exclusivamente pelas próprias escuderias. Regina quebrou essa regra.
Apesar do glamour da F1, grande parte dos ganhos da Movicarga não vem das pistas ? até porque trata-se de uma atividade sazonal. Hoje, os 800 veículos da companhia, entre empilhadeiras, tratores, guindastes e caminhões, atendem as principais empresas dos setores metalúrgico, químico, farmacêutico, bebidas e papel e celulose. Ao todo, Regina possui 20 escritórios no País e galpões de depósito em São Paulo, Campinas e Porto Alegre. ?O que empolga no trabalho com a F1 é o risco. Não posso errar. Se eu vacilar, minha empresa quebra?, frisa, referindo-se à visibilidade que o campeonato mundial empresta a qualquer empresa.
Apesar disso, a empresária diz não ter medo. Afinal, está acostumada com desafios. Em 1987, foi cobrir férias de um funcionário da Movicarga, fundada por seus pais 14 anos antes, e acabou ficando. ?Não sabia de nada?, relembra. Mas apaixonou-se pelo negócio e tratou de ampliá-lo. A Movicarga, que começou com uma carreta engatada num Dodge Dart ? espécie de escritório móvel ?, hoje tem quase mil funcionários. Quando o piloto vencedor do GP Brasil receber a bandeirada, outra pessoa também sentirá o gostinho da vitória nos bastidores. ?Terei vencido mais um desafio?, diz Regina.