O brasileiro não tem o hábito de alugar carro. Pudera. O preço nunca foi muito convidativo e o serviço, ao contrário do que ocorre em outros países, sempre carregou por aqui aquela imagem de ?luxo para poucos?. Mas as locadoras vêm se esforçando para mudar essa história. Nos últimos cinco anos o aluguel de veículos ficou 30% mais barato, principalmente pela redução da margem de lucro das empresas, que caiu de 15% para 5%. Veio a profissionalização do setor, que provocou o fechamento de uma locadora por dia em 2004, restringiu o mercado às grandes marcas, mas o levou a crescer em média 10% ao ano. A entrada da americana Budget no Brasil deve aquecer ainda mais esse setor. Ela chega prometendo ser a GOL (a companhia aérea) das locadoras de automóvel, ou seja, vem com a proposta de enxugar custos operacionais para praticar preços 15% menores que a concorrência. Cacife não falta. A Budget faz parte do Grupo Cendant, que fatura US$ 22 bilhões por ano e tem 25% dos leitos de hotéis americanos.

Mas como a empresa consegue oferecer preços mais baixos? Antes de tudo, o Grupo Dallas, masterfranqueado da Budget e da Avis no Brasil, vale-se de tecnologia de ponta importada da matriz, que faz com que o cliente feche um contrato no balcão em três minutos, 20% mais rápido do que na concorrência. Outra estratégia é o sistema de gerenciamento do negócio, que permite o acompanhamento da utilização, da quilometragem e da manutenção da frota em tempo real. Tecnologia moderna também é a grande aliada da GOL para diminuir custos. A companhia aérea inventou o e-ticket para substituir os bilhetes em papel e economizar US$ 8 por emissão.

Outra estratégia da Budget está no aproveitamento da estrutura operacional da Avis. Departamentos pessoal, administrativo, financeiro, tecnológico e frota são comuns às duas bandeiras. Só o atendimento ao público e as áreas comercial e de operações são distintos, já que a Avis é focada no cliente corporativo e a Budget no consumidor final. ?Essas iniciativas diminuem em até 17% os custos da Budget, vantagem que vai para o cliente?, diz Afonso Santos, presidente do Grupo Dallas. A diária do carro básico com quilometragem livre na Budget sai por R$ 60, e com quilometragem controlada, R$ 25 mais R$ 0,40 o km rodado.

Depois de 20 anos no mercado financeiro, Santos abriu, em 1995, uma locadora com 21 carros e quatro funcionários. Hoje, tem 11 mil veículos e 800 funcionários e um potencial muito grande. ?O País engatinha neste setor?, diz. As duas mil locadoras no Brasil têm cerca de 10 milhões de clientes. Isso equivale a 10% do mercado americano, segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis.

Esta não é a estréia da Budget no Brasil. Ela já esteve por aqui há 10 anos com o grupo de concessionárias Primo Rossi. Desta vez quer priorizar o gosto local. ?Brasileiro gosta de carro bom e barato?, conta Santos. A resposta da Budget
é uma frota com 70% de carros populares. Ele quer a Budget entre as três
maiores em cinco anos. Olhando a trajetória da Avis, dá para acreditar. Desde
que assumiu a marca, em 2003, a empresa cresce 20% ao ano, o dobro do desempenho médio do mercado.