19/11/2008 - 8:00
“IN VINO VERITAS EST” OU no vinho está a verdade. Esta frase, muito proferida há milhares de anos na Roma Antiga, se tornou uma realidade. Pelo menos no que diz respeito à economia da Argentina. Nossos vizinhos perceberam que possuem uma das melhores regiões para o cultivo de malbec e que o mundo se interessa em degustar o vinho originário desta uva. Prova disso é que o país é o quinto maior produtor do mundo. Diversas crises econômicas atingiram a Argentina, mas as vinícolas resistiram. A maior delas, a Trapiche, acaba de completar 125 anos de história e tem muito a comemorar: produz anualmente 28 milhões de garrafas, sendo 15 milhões delas exportadas para 80 países. Só com o mercado externo, faturou US$ 36 milhões em 2008 ? 17% a mais do que no ano passado e com a mesma expectativa de crescimento para o ano que vem. Os índices só fogem da curva quando o assunto é Brasil. Em apenas um ano as exportações saltaram de cinco mil caixas para 50 mil caixas. Ou seja, os brasileiros consumiram 450 mil litros de vinho Trapiche. ?Vamos dobrar as exportações em 2009?, diz Juan Canay, diretor da vinícola.
O salto da vinícola no Brasil se deve a dois motivos. O primeiro foi a mudança de importadora. ?Há um ano, fechamos com a Interfood, que é maior e tem poder de penetração no mercado?, conta Canay. O segundo ponto foi variar no cultivo da uva. São mais de mil hectares de vinhas próprias, que se dividem entre o cultivo de malbec (cerca de 20% de toda a produção) e uma infinidade de outras, como cabernet sauvignon, chardonay, syrah, merlot, cabernet franc, bonard, sauvignon blanc, pinot-noir e viognier. Para aproveitar ao máximo as condições do solo, a empresa faz até mapeamento via satélite para descobrir a altitude exata e identificar qual o melhor tipo de uva pode ser cultivada em cada parte do terreno. Com isso, a vinícola também pôde diversificar a produção e atingir várias gamas de público. ?Hoje temos bebidas com preços que partem de US$ 1,50 e vão até US$ 40 a garrafa?, diz Canay. Mas a Trapiche quer ser reconhecida como produtora de vinhos premium.
Para isso, ela acaba de inaugurar uma nova bodega só para produzir rótulos especiais. O lugar, onde havia uma vinícola desativada, foi restaurado ao custo de US$ 10 milhões. Novos equipamentos foram instalados, o solo foi revitalizado e o novo espaço foi batizado de Trapiche Tributo. O primeiro vinho dessa vinícola já foi produzido. Trata-se do Manos, um malbec da safra 2004 que chegará ao Brasil custando R$ 300. Ele recebeu este nome porque toda a colheita das uvas foi feita à mão e apenas as melhores uvas foram usadas na sua criação. Tudo supervisionado pelo experiente enólogo Daniel Pi. ?A Trapiche é uma das maiores em termos de produção. Chama a atenção a sua vontade de ser premium?, analisa José Luiz Borges, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo. Os brasileiros agradecem mais uma opção. ?Isso porque o mercado de vinhos premium ainda tem muito espaço para crescer no Brasil?, diz Borges.