Em março próximo a Grendene estréia uma nova peça publicitária. Até aí, nada de mais. Seria apenas mais uma campanha não fosse a presença da estonteante Sharon Stone usando sandálias, sapatos e botas da fábrica gaúcha. No final do ano passado, outro astro de Hollywood, o fortão Arnold Schwarzenegger, pôde ser visto em propaganda da escola de línguas CCAA. E, para delírio das adolescentes, Leonardo DiCaprio também acabou sendo levado para a escola estampado nas capas dos cadernos da Tilibra.

Esses casos envolvendo estrelas do cinema americano com companhas publicitárias no Brasil têm apenas uma coisa em comum: a advogada norte-americana Nathalie Hoffman. É ela quem negocia todos os contratos das estrelas hollywoodianas com as agências de publicidade nacional. ?O País está na mira de Wall Street e as agências brasileiras são muito respeitadas lá fora?, afirma a entertainment lawyer (advogada especializada em entretenimento), que veio ao Brasil semana passada para o lançamento da nova campanha da Grendene. ?Os artistas sabem que estão lidando com profissionais.? E se depender de Nathalie, cada vez mais aparecerão estrelas americanas anunciando produtos brasileiros.

Só o talento e a capacidade de negociação dessa advogada explicam por que esses artistas aceitam ganhar cachê inferior a US$ 1 milhão no Brasil, quando os chineses oferecem até US$ 1,5 milhão por comercial e os japoneses até US$ 3 milhões. Sem dizer que os principais artistas da televisão brasileira cobram cachês ainda mais altos. O interesse de Nathalie pelo Brasil vem dos anos 70. Em 1978, aos 31 anos, divorciada e sem filhos, ela largou um emprego de cinco anos em um renomado escritório de advocacia nos EUA, juntou as economias e desembarcou em Manaus. Ficou quase um ano viajando pelo ?país do futuro?, num curso intensivo de imersão cultural. ?Instalei-me no Rio e tinha aula de português três vezes por semana. Vivia como uma brasileira, comprando pão na padaria e tomando cafezinho?, conta ela, com seu português fluente. O que pode parecer um ato impulsivo de uma jovem hippie foi na verdade um investimento bastante calculado. ?Eu queria transformar o Brasil em um nicho de mercado?, revela. Depois de uma carreira que incluiu a passagem por grandes escritórios e um cargo de executiva no estúdio 20th Century Fox, em 1988 ela abriu o próprio negócio e retomou contatos com o Brasil ? que é de onde vêm 60% de seus contratos.

Mas ela conta que só após o Real os negócios cresceram. O primeiro grande contrato foi na Copa do Mundo de 1994. Depois de conseguir convencer Whoopi Goldberg, Kim Basinger e Ray Charles a fazer campanha para a cerveja Antarctica, a fama de embaixadora das estrelas pegou. Mas a ponte entre Brasil e Estados Unidos tem mão dupla. Em 1998, a advogada levou Pelé a participar de uma campanha interna da Nokia, que incluiu um almoço, em Paris, do astro do futebol com os revendedores mais lucrativos da empresa.

Hoje, Nathalie Hoffman & Associates é mais do que um simples escritório de advocacia. Entre seus clientes estão TV Globo, DM9 e W/Brasil. E ainda que contratos com grandes estrelas seja o lado mais glamuroso, boa parte de seu faturamento vem do licenciamento de produtos americanos no Brasil e vice-versa. Mas, como todo a estrela, Nathalie também tem seus segredinhos e se esquiva de revelar as somas que movimenta.