06/11/2002 - 8:00
Eles são avessos a badalações. Tanto que os Veríssimo só chegaram às manchetes em dois momentos. Um deles foi durante a venda dos supermercados Eldorado para o grupo Carrefour em 1997 por cerca de R$ 200 milhões. Algo muito mais lisonjeiro do que a briga entre os herdeiros dos irmãos João Veríssimo e João Alves Veríssimo, que durou quase toda a década de 90 e dividiu o patrimônio da família em dois grupos. Agora, o clã volta à cena com um ousado projeto para resgatar o glamour da marca Eldorado, hoje restrita ao shopping center localizado na zona oeste paulistana. É o único bem em comum que restou da sociedade original. ?O investimento previsto para a ampliação do shopping é de R$ 12 milhões. Esperamos um aumento de até 20% no faturamento?, disse a DINHEIRO Paulo Veríssimo, diretor de operações do Eldorado. O valor das receitas anuais é mantido em sigilo. ?É um de nossos maiores negócios ?, desconversa Veríssimo.
Na década de 80, o shopping chegava a ser o principal programa de fim de semana de muitas famílias. Foi até cenário de novela. Com o passar dos anos e o desgaste causado pela briga familiar, a popularidade começou a cair, favorecendo concorrentes, como o Shopping Iguatemi e, recentemente, o Villa Lobos. Por dentro, ele foi repaginado e ganhou atrações como o Parque da Mônica e a Academia Fórmula, uma das maiores do País. Mas ainda era pouco.
Agora, a plástica é geral, com reformas que vão do estacionamento à área de entretenimento. Por exemplo: a criação de um espaço
com dez salas Multiplex de cinema, aquelas com som digital e imagem em alta definição. Juntas, oferecem 3 mil lugares. Além disso, haverá um teatro no novo Eldorado. No início de 2003, começa a ampliação do andar térreo, para dar espaço a mais 50 lojas. Toda a reforma fica a cargo da construtora Gafisa, num acordo que ainda prevê a construção de um prédio de escritórios de 32 andares no pátio do shopping. O empreendimento pode atrair mais 5 mil pessoas por dia ao shopping.
Outro trunfo para melhorar o movimento foi abrir um espaço só para grifes alternativas como ?Será o Benedito? e ?Anéis de Saturno?, entre outras, que não tinham lojas em shopping centers. ?Elas devem atrair pessoas mais jovens e aumentar em até 40% o público noturno?, afirma Veríssimo. Daí só ficará faltando marcar a reforma da fachada do edifício.
Mais que recuperar um empreendimento rentável e uma marca forte, esse esforço resgata a própria história da família. ?O varejo está no nosso sangue?, afirma Veríssimo. O clã tem uma trajetória parecida com a dos Diniz. De descendência portuguesa, fez fortuna com o varejo. Os irmãos Veríssimo eram sócios em tudo, de empresas a imóveis. A briga na Justiça se estendeu por anos e custou cerca de R$ 10 milhões, segundo fontes que acompanharam o processo. No final, ficou definido que as herdeiras de João Alves ficariam com os imóveis da sociedade. Para administrá-los, elas criaram o grupo Taveri. João Veríssimo e seus sete filhos ? incluindo Paulo ? ficariam com as empresas, o Moinho Paulista, em Santos, a fábrica de compotas Vega, em Pelotas, e os supermercados Rio Branco, no interior paulista. Um império reunido sob a holding Verpar.
Todos esses negócios prosperaram com a paz entre os núcleos.
A rede de supermercados Rio Branco, por exemplo, rende cerca de R$ 75 milhões ao ano e deve ganhar mais quatro lojas. A taxa de crescimento previsto para a Vega é de cerca de 10% ao ano ? estima-se que fature hoje algo em torno de R$ 35 milhões. E será que a família vai parar por aí? ?Estamos sempre de olho em novas oportunidades. A disposição para empreender é hereditária?, garante Paulo Veríssimo.