Quando assumir a presidência da empresa de telefonia Oi em 1º de setembro, no lugar de Luiz Eduardo Falco, o executivo gaúcho Francisco Valim terá pela frente a tarefa de reconquistar o terreno perdido nos últimos anos. Em poucas palavras: a Oi precisa voltar a crescer. Em 2010, a companhia perdeu participação em todos os mercados em que atuava: telefonia fixa, celular e banda larga.

No primeiro trimestre de 2011, acumulou prejuízo de R$ 395 milhões contra um lucro de R$ 518 milhões, no mesmo período do ano passado. A receita líquida encolheu 7,1%. “A Oi precisava de um executivo para dar conta desse desafio”, diz Juarez Quadro, sócio da consultoria Ôrion e ex-ministro das Comunicações. “Valim é uma pessoa preparada e competente.” Nome preferido da La Fonte e da AG Telecom, controladoras da Oi, ao lado da Portugal Telecom, Valim troca o frio de Londres, onde era o CEO da Experian para a Europa, África,  América Latina e o Oriente Médio, pelo calor tropical do Rio de Janeiro.

 

131.jpg

Valim, futuro presidente da Oi: executivo tem fama de ser disciplinado e bastante religioso

 

Considerado um executivo disciplinado e religioso (é mórmon), por uma fonte que o conhece desde a época em que trabalharam juntos no conglomerado de comunicações gaúcho RBS, Valim já enfrentou desafio semelhante quando assumiu a operação da companhia de tevê a cabo Net em 2003. Na ocasião, a empresa tinha uma dívida estimada em mais de R$ 1,4 bilhão. No ano anterior, havia amargado um prejuízo de R$ 1,2 bilhão. Ele renegociou a dívida com os credores e conseguiu novos investimentos, com a entrada da Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim, no capital da Net, em 2004. 

 

Dois anos depois, a Net teve o primeiro lucro anual de sua história.  Durante sua gestão, a operadora foi pioneira na implantação dos pacotes convergentes, que integram ofertas de telefonia fixa, banda larga e tevê por assinatura. “Valim levantou essa bandeira quando as outras operadoras ainda não estavam enxergando essa estratégia”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Além da Net, Valim também já havia trabalhado nas áreas financeiras da RBS e da Telemar, antes da fusão com a Oi.

 

132.jpg

 

 

À frente de uma companhia com uma receita líquida de R$ 29,5 bilhões e 63,9 milhões de clientes em 2010, Valim não terá de lidar, dessa vez, com um alto endividamento. A dívida líquida de R$ 14,4 bilhões, equivalente a 1,5 vez o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) no primeiro trimestre de 2011. “Isso já está equacionado”, diz Tude.  Na verdade, Valim terá de usar mesmo sua habilidade no campo dos produtos e serviços. 

 

A Oi perde trimestre a trimestre clientes na área de telefonia fixa. A queda acontece principalmente pela migração desses consumidores para outras operadoras, como GVT e Net, atraídos por ofertas mais vantajosas de pacotes com banda larga e tevê por assinatura. Dos assinantes da Oi que têm telefonia fixa, apenas 22,6% possuem também banda larga. Na Net, esse percentual é de 75%. 

 

Para retê-los e estancar a sangria, a Oi terá de investir em redes de banda larga baseadas em fibra óptica, oferecendo pacotes competitivos em preço e velocidade. Exatamente o que fez Valim na Net. Em 2011, ele terá R$ 6 bilhões em investimentos, o dobro do ano passado, para começar a fazer o trabalho de mudar a Oi. Que seja rápido, para que a Oi não o mude.

 

133.jpg