Ouça um resumo da matéria sobre o ex-funcionário que é a pedra no sapato da Disney

 

 

Uma pomposa música clássica com trombetas parece anunciar a chegada do rei do pedaço. Não se trata de um monarca saído dos contos de fadas, mas talvez um do reino de Tão Tão Distante. Como por mágica e em sincronia perfeita, Jeffrey Katzenberg, o chefão da Dreamworks Animation, de sucessos como Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda, surge no outro lado da linha telefônica.
 

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Jeffrey Katzenberg > presidente Dreamworks Animation: “Somos a maior evidência das oportunidades de uma
boa relação entre o Vale do Silício e Hollywood”

 

Ele parece animado. ?Este é, sem dúvida, um grande ano para nós. Temos três desenhos incríveis e com ótimas histórias?, afirmou, Katzenberg, em entrevista exclusiva à DINHEIRO, de seu escritório em Glendale, próxima a Los Angeles. Dezesseis anos depois de deixar a Disney pela porta dos fundos ? e ganhar uma quantia vultosa no processo que moveu contra seu antigo patrão ?, ele se tornou o maior pesadelo para a casa de Mickey Mouse.

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E a principal arma na briga contra o ex-patrão é a tecnologia. Por isso, ele transformou seu estúdio em uma grande incubadora de novas tecnologias, parceiro de empresas como Cisco, HP, Intel e Samsung. ?Somos a maior evidência das oportunidades de uma boa relação entre o Vale do Silício e Hollywood?, afirmou.

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Um dos resultados dessas parcerias pode ser visto nos cinemas desde a sexta-feira 26, quando foi lançado Como treinar o seu dragão, mais uma animação 3D da Dreamworks. Os outros dois estão no forno. Na sequência, vem Shrek 4. E, no final do ano, Megamente. As três animações têm custo estimado de mais de  US$ 500 milhões. ?Ele é um pioneiro e reinventou a indústria de animação?, disse à DINHERO Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount na América Latina.

É difícil discordar. Sem exagero, foi Katzenberg que mostrou (de novo) a Hollywood que as animações podiam ser sim um ótimo negócio. No início do século passado, o lendário Walt Disney era visto como louco por boa parte dos outros donos de estúdios. Enquanto os concorrentes apostavam na venda de ingressos para ganhar dinheiro, a maior parte da receita de Disney vinha das licenças de uso de Mickey Mouse e de outros personagens em toda sorte de brinquedos.

Nas décadas seguintes, poucos estúdios se arriscaram a produzir um desenho. Isso até a Dreamworks Animation lançar Shrek, em 2001. A produção não só conquistou a crítica e o público como satirizou, da primeira à última cena, a Disney. Shrek ainda ganhou o primeiro Oscar de animação, categoria criada em 2002, para coroar a ascensão dos desenhos. Foi um duro golpe para a Disney, que inventou o gênero. Desde que Katzenberg mostrou o caminho, muitos outros estúdios passaram a apostar em animações. Neste ano, nada menos que dez desenhos são esperados. Em 2011, serão 12 lançamentos.
 

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Shrek e Madagascar

 

Qual o segredo do sucesso da Dreamworks? ?Não fazemos filmes apenas para as crianças. Nossos filmes são mais subversivos e irreverentes, o que agrada bastante aos adultos e adolescentes?, afirmou Katzenberg, cuja fortuna é estimada em US$ 800 milhões. Atualmente, apenas cerca de 20% da receita total de um filme de Hollywood tem origem nas bilheterias.
 

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As armas de Jeffrey: depois de Shrek, Kung Fu Panda e Madagascar, a nova aposta é Como treinar o seu dragão
 

O restante vem da venda de DVDs, Blu-Rays, direitos de exibição em televisão e, finalmente, do licenciamento de filmes e personagens para centenas de produtos. ?As franquias são o sonho de todos os estúdios hoje em dia e poucos parecem dominar tão bem esse negócio como a Dreamworks?, afirmou Paulo Sergio Almeida, diretor do site FilmeB, especializado no mercado de cinema.

A aposta em continuações tem se mostrado certeira para a Dreamworks. Seus dois maiores sucessos são justamente as sequências de Shrek, que neste ano chega ao seu quarto e último capítulo. A segundo parte das aventuras do ogro verde, de 2004, aliás, é até hoje a maior bilheteria da história de um desenho, com quase US$ 920 milhões. A Dreamworks desafia a Disney justamente no terreno que lhe é mais sensível: as animações. E Shrek e o panda Po são para os pequenos de hoje o que Mickey, Branca de Neve e Simba foram para gerações anteriores.

Uma fábrica de  inovação

Há 37 anos na indústria cinematográfica, Jeffrey Katzenberg acredita que a sétima arte passou por três grandes revoluções. As duas primeiras, há mais de 60 anos, com a migração do cinema mudo para o falado e a invenção do technicolor. Pode-se dizer que ele e seu estúdio estão no centro da terceira: a chegada dos filmes 3D. Parte da tecnologia utilizada nas duas recentes animações da DreamWorks foi desenvolvida dentro da empresa.

Caso do programa de animação ? conhecido como Emo (E-motion) ? rodado em máquinas de última geração, capazes de processar bilhões de dados simultaneamente. Em Como treinar o seu dragão, a ferramenta permitiu aos desenhistas levar às telas personagens ilustrados a níveis sem precedentes de detalhes, da textura das roupas e imperfeições na pele a um único fio de cabelo. ?Estamos alguns passos à frente da concorrência?, avalia o executivo-chefe de tecnologia, Ed Leonard, numa alusão  à Pixar, seu principal concorrente, que agora pertence à Disney. A evolução pode ser medida em alguns números.

Para dar vida a Shrek, em 2001, os designers definiram 500 linhas de movimento para o personagem. O dragão Toothless da mais nova animação tem 2,5 mil. Tudo isso se traduz em tempo diante do computador. Se para concluir Shrek foram passados cinco milhões de horas diante do computador, em Como treinar… o tempo consumido chegou a 50 milhões de horas, em cinco anos de trabalho. Ao todo, 100 terabytes em dados, o equivalente à capacidade de armazenamento de 20 mil DVDs.

Guilherme Queiroz, de Los Angeles