15/08/2024 - 7:30
O publicitário Fabrício Penafiel sempre foi ligado à cultura canábica. Filho de pais militantes e perseguidos pela ditadura militar brasileira, sempre teve em casa um ambiente em que se falava (e usava) maconha.
Em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro, o autodeclarado militante da causa, viu na maconha uma chance de empreender após um divórcio e uma desilusão com a carreira profissional.
“Depois de 28 anos em agência de publicidade, eu não aguentava mais fazer aquilo. Nesse período eu fiz o caminho de Santiago de Compostela e percebi que eu queria desenvolver um produto inovador. Depois de uma gestação de oito meses, eu pensei e tirei a Bem Bolado do papel”, explicou.
A empresa nasceu em 2010 pelas mãos de Fabrício e mais três sócios: Thiago Almeida, Renato Lucato e Marcelo Dias. No nascimento, a empresa atuava somente na área de sedas para cigarros artesanais. Hoje o Grupo Bem Bolado é formado por quatro frentes: Bem Bolado – voltado para sedas, dichavadores e piteiras; Original – focada em tabaco; Weed Wear – de vestuário e acessórios; e GTI Isqueiros, recentemente adquirida.
Em um mercado ainda cheio de tabus, Fabrício conta que sofreu para convencer investidores de que o negócio valia à pena.
“Quando chegou a primeira caixa de seda a gente não sabia o que fazer. Ninguém tinha experiência de venda, de administração, de nada. Eu era um cara bem sucedido e pedi dinheiro pra todos os meus amigos e ninguém quis me emprestar. Todo mundo me chamava de louco por desistir da carreira pra vender seda”, explicou.
O faturamento da empresa saltou de R$ 15 milhões em 2021 para R$ 40 milhões em 2023. A expectativa dos executivos é que o grupo atinja uma receita de R$ 100 milhões em 2026. O aumento do mercado nos últimos anos também se refletiu no número de funcionários da empresa, que subiu de 12 para 80 funcionários nos últimos quatro anos.
Cuidado para fugir da apologia
Após traçar um plano em que nenhum dos sócios tiraria dinheiro da empresa antes que ela desse lucro, os quatro sócios começaram a se aventurar nas vendas da seda. As primeiras vendas eram feitas no boca-a-boca e o negócio muitas vezes era mal compreendido pelos donos de estabelecimentos comerciais.
“A gente chegava nas padarias pra vender e o dono falava ‘tá louco, meu estabelecimento vai ficar cheio de maconheiro‘ e a gente falava, ‘mas acabou de sair um cara e pegou um guardanapo seu’ então tivemos que mostrar pra ele que os maconheiros já estavam lá”, brincou.
Outra dificuldade do negócio era o medo de que algo pudesse ser entendido como apologia ao uso da droga. No final dos anos 1990 os integrantes do Planet Hemp chegaram a ser presos antes de um show acusados de fazer apologia a maconha. Somente quatro anos após o nascimento da empresa foi que Fabrício e seus sócios entenderam que era o momento de sair do armário.
“Quando a cannabis medicinal começou a ganhar popularidade nós pensamos: ‘agora é a hora’. Então nós assumimos a militância mesmo, começamos a falar sobre maconha mas sempre com um jurídico por trás pra gente fugir da apologia”, afirmou.
Em pesquisa encomendada pela marca entre maio e junho deste ano, a Bem Bolado foi a marca mais lembrada de forma espontânea no mercado de seda para enrolar tabaco no mercado.
Distribuição foi o pulo do gato
Depois de dar o segundo passo a frente, a empresa teve que dar o terceiro. É aí que entrou na sociedade o atual CEO Fernando Costa. Com experiência no mundo corporativo, conheceu a empresa após uma sessão de quiromancia, ou leitura de mãos, com o co-fundador da empresa Marcelo Dias, em 2014. A prática se resume a interpretar as linhas das mãos da pessoa e avaliar, a partir delas, o temperamento, a saúde, o amor, o romance, o casamento, as viagens da pessoa.
“Eu estava chateado com a minha vida profissional e fui em uma sessão de leitura de mão com o Marcelo, co-fundador da empresa. Depois da sessão ele me pediu ajuda no negócio dele. Eu busquei entender mais sobre o mercado e fiz uma apresentação para eles, de onde eles poderiam melhorar”, explicou.
O casamento com a Bem Bolado, no entanto, só foi acontecer em 2017, anos depois. A vontade de construir um negócio próprio fez com que Costa aceitasse se tornar sócio da empresa mesmo sem nenhuma experiência com o mundo canábico.
Como a falta de dados específicos do público consumidor, já que o consumo da maconha é ilegal, o Plano A da empresa teria que ser investir em uma distribuição maciça do produto.
“Nós estamos crescendo ano após ano desde 2017 embasados no conceito da distribuição. Nós precisamos estar perto do consumidor e foi aí que elaboramos toda a nossa estratégia de distribuição. Criar um produto não é tão difícil, difícil é vender e distribuir. A área comercial é central para isso”, explicou.
Hoje o quadro societário da empresa conta com Fabrício, Thiago, Renato e Fernando. Hoje a empresa conta com presença em tabacarias, e lojas de conveniência em todo o Brasil. Em 2019 a companhia resolveu expandir as fronteiras, chegando até Estados Unidos, Portugal, Chile e Uruguai.