29/06/2005 - 7:00
O mundinho fashion é dividido em dois blocos. No primeiro pelotão estão os estilistas que ditam a moda. No segundo, aqueles que copiam as fórmulas consagradas. O paulistano Vinícius Campion, de 33 anos e que assina a grife A Mulher do Padre (AMP), não se enquadra em nenhuma dessas categorias. Adepto de modelitos de corte reto com espírito de brechó, seu nome passou um longo período restrito ao circuito alternativo de São Paulo. Ainda assim, ele conseguiu ir além da condição de queridinho de jovens descolados e atores globais. Ele agora ganhou a cena corporativa, atingindo um patamar tão surpreendente quanto desejado no setor de moda ? aquele em que um estilista é procurado por grandes empresas interessadas em sorver um bocadinho do ?conceito? que ele criou para badalar suas marcas. Campion já fechou acordos com Tetra Pak (embalagens), Pernord Ricard (bebidas), Wow (sucos), Puma e Adidas. Mas diz que isso ainda é pouco para quem abandonou o curso de desenho industrial, em 1995, porque não queria ser ?apenas mais um designer?. ?Não criei só uma grife. Criei um projeto de vida?, resume. Para explorar isso, Campion partiu para a diversificação e colocou sob o guarda-chuva AMP negócios distintos como gravadora, agência de DJ?s, restaurante, boate, loja de móveis e um salão de beleza, o Hairy Label Superstar. Todos eles funcionam num predinho em Pinheiros, São Paulo. Essa pequena holding deve faturar R$ 15 milhões neste ano, 20% a mais que em 2004. Do total, 70% vêm da venda de roupas nas quatro lojas próprias (três em São Paulo e uma em Porto Alegre) e em 170 multimarcas espalhadas pelo Brasil.
E é exatamente para acabar com a grande dependência da divisão de vestuário que ele está transformando o salão de beleza em franquia. Tem pedidos para abrir dez unidades no eixo Rio-São Paulo até o final deste ano. Cada uma delas custará R$ 40 mil. Também está montando outro espaço multiuso, desta vez no shopping Morumbi (SP). A área de 500 metros quadrados terá restaurante, loja de equipamentos para DJ, espaço para shows, salão de beleza e os modelitos da marca. A obra está orçada em R$ 1,5 milhão. ?Os fornecedores vão arcar com todos os custos?, diz o empreendedor. E o que não faltam são interessados em pegar carona no prestígio da AMP. ?A marca fala com pessoas modernas e que valorizam a criatividade?, destaca José Couto diretor de marketing da Puma do Brasil. A grife alemã de artigos esportivos patrocinou diversas apresentações de DJ?s estrangeiros na boate AMPGalaxy. ?Associar-se a um projeto tão ousado é a nossa chance de colocar em evidência um produto com tecnologia, mas que passa despercebido?, completa Eduardo Eisler, diretor da Tetra Pak, referindo-se às tradicionais embalagens da empresa.
O fruto desse casamento, que conta ainda com a participação da Wow (dona da marca Sufresh), é uma linha de sucos prontos vendidos exclusivamente na boate e no restaurante. A Mulher do Padre também virou suco. Se há risco de descaracterizar a marca, atirando para todos os lados? Luciane Robic, diretora da consultoria IBModa, afirma que não: ?Campion construiu uma perfeita arquitetura de marca. Apesar de tanta diversificação, ele conseguiu manter a identidade da grife nos vários negócios. Campion tem o mesmo padrão de criatividade para tudo. Esse é o segredo?.
A ambição do estilista vai além. Ele acaba de acertar a distribuição das roupas na Itália, França e Inglaterra. As próximas escalas são Portugal, Espanha, Suécia e Japão, onde os modelitos já chegam pelas mãos de estrangeiros que passaram pelo Brasil. ?Dias desses recebi uma foto do ex-tenista sueco Björn Börk usando minhas criações?, conta. Em tempo: o nome da grife é pura gozação, não tem um significado especial. E Campion, como se vê, não chegou por último.