O americano Fred DeLuca, 62 anos, fundador da rede de fast-food Subway e dono de uma fortuna estimada em US$ 1,8 bilhão, se dirige aos seus funcionários de uma maneira, digamos, pouco ortodoxa. Sua máxima é: “Mantenha isso simples, estúpido!” Num primeiro momento, a frase pode parecer agressiva, mas os funcionários da empresa não levam para esse lado. Ao contrário. 

 

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“Hoje o Brasil é o nosso maior mercado na América Latina e o sexto maior no mundo”

Fred DeLuca, dono do Subway

 

Eles até gostam e adotam o lema nas 33,5 mil lojas da rede espalhadas por 92 países e responsáveis por um faturamento de US$ 9 bilhões. “Somos maiores que o McDonald’s em número de lojas”, diz DeLucca à DINHEIRO. O concorrente tem hoje 31 mil unidades.  

 

E é justamente por isso que ele usa a máxima diariamente. Ela funciona como uma recomendação do bilionário, que a resume como sistema Kiss. A sigla, que significa “beijo”, em inglês, é uma brincadeira com a frase “Keep It Simple, Stupid”. “Nosso número de lojas é grande, mas o negócio continua relativamente simples e isso nos ajuda a continuar crescendo”, diz De Lucca. 

 

Na prática, diz ele, o Subway é uma cadeia baseada em um modelo de negócios simples. A rede possui uma variedade média de sanduíches nos quais a maioria dos ingredientes se repete, tornando mais fácil a logística dos produtos. Somado a isso, há também um rígido controle de custos para identificar os desperdícios. 

 

A fórmula tem dado certo e permitido que sejam abertas cerca de duas mil novas lojas por ano ao redor do globo, num investimento anual de US$ 400 milhões. Só neste ano, o Brasil ganhou 185 novas lojas e deverá fechar com 550 e um faturamento estimado superior a R$ 400 milhões. “Hoje, o Brasil é o nosso maior mercado na América Latina e o sexto maior globalmente.” 

 

Mas nem tudo foi tão simples como DeLucca prega. Aliás, a “simplicidade” quase decretou o fim da Subway no Brasil. “Quando a rede desembarcou no Brasil, em 1993, escolheu um único franqueado”, diz Brian Marino, diretor da rede para a América Latina e Caribe. “Isso foi um erro.” 

 

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Avanço acelerado: a empresa cresceu 70% em número de lojas no ano passado e

deve encerrar 2010 com um total de 550 unidades no Brasil

 

É que, em vez de ter lanchonetes pequenas e manter relação com fornecedores locais para facilitar a logística, esse franqueado tinha os mesmos fornecedores para atender todas as lojas, mesmo atuando em localidades distantes entre si. Pior: passou a tomar decisões sem consultar a matriz – o que fez a rede quase deixar o País, em 2000, quando sobraram apenas duas lojas. 

 

“Naquele tempo nós seguimos um modelo diferente de negócios no Brasil, que se mostrou custoso e ineficiente. O sistema que usamos agora é o mesmo dos Estados Unidos e nos permite ter mais controle”, conta DeLuca, que voltou a apostar no País em 2003. 

 

O desafio de continuar o rápido crescimento está agora nas mãos da diretoria regional. “Nosso plano é ter 1.500 lojas no Brasil até 2014”, diz Marino. Aos poucos, vem progredindo nesse sentido. Em 2008, possuía 215 unidades e, em 2009, contava com 365, num salto de 70%. 

 

No mesmo período, o McDonald’s cresceu 8%. “Eles voltaram com outra cultura. As lojas hoje se adaptam em regiões de menor circulação de pessoas porque têm custo de funcionamento mais baixo”, diz Ricardo Camargo, diretor-executivo da Associação Brasileira de Franquias. “O investimento para abrir também é menor. Tudo isso auxilia na expansão rápida”, afirma. Enquanto no McDonald’s um ponto pode custar R$ 1 milhão, no Subway ele custa cerca de R$ 250 mil. 

 

A empresa atua em pontos não tradicionais para redes de fast-food, como postos de gasolina e universidades. “Mais de 10% das lojas que temos hoje estão localizadas nesses pontos pouco convencionais”, afirma Roberta Damasceno, gerente de operações da Subway no Brasil.

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A história de vida de DeLuca é também uma das melhores propagandas para incentivar e conquistar novos franqueados para a Subway. Em 1965, aos 17 anos, ingressara no curso de medicina da universidade privada de Bridgeport. 

 

Sem condições de pagar as mensalidades, ele se aconselhou com um amigo da família, o médico Peter Buck, que lhe deu uma ideia: abrir uma loja para vender sanduíches naturais. Buck, então, se tornou sócio do empreendimento, emprestou US$ 1 mil para DeLuca tocar o negócio. 

 

Nascia, assim, o Subway. O negócio deu tão certo que em menos de um ano a segunda loja foi aberta e DeLuca largou a medicina. Em 1974, abriria a primeira franquia. “Nossa meta original era ter 32 lojas em dez anos. Sabíamos que era uma meta ambiciosa, mas nunca imaginamos que podería-mos chegar a mais de mil vezes esse número”, diz. 

 

Hoje, DeLuca é o bilionário de número 556 do mundo, segundo a revista Forbes e se tornou fonte de inspiração para os que pretendem se aventurar no mundo empresarial. Ele, inclusive, escreveu um livro, “Comece pequeno, termine grande: 15 lições-chave para começar e tocar seu próprio negócio de sucesso”. “Meu conselho é: não tenha medo de dar o primeiro passo”, resume o empreendedor. Mesmo se esse passo for estúpido?