Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, não sabia o que fazer depois de voltar do espaço, em abril. ?Não posso subir mais na carreira e nem me sujeitar a ser subalterno dos meus colegas?, confidenciava aos amigos militares. A resposta veio de Fátima, sua mulher. ?Peça a reserva?. Pontes pediu desligamento das Forças Armadas com aposentadoria de R$ 5 mil. Agora, está acertando uma trabalho de consultoria para a Fiesp, que pretende montar um núcleo de apoio à indústria aero-espacial. Pontes também sonha cobrar entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por palestra à iniciativa privada. Depois de oito anos em treinamentos, que custaram US$ 10 milhões aos cofres públicos, equivalentes a 150 bolsas de doutorado no Exterior, muitos acreditam que Pontes mandou a ética para o espaço. Dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia ? de onde veio o dinheiro que o pôs em órbita – sua saída causou perplexidade. Ninguém antecipou que Pontes pudesse, tão rapidamente, pôr a serviço próprio as informações que recebeu dos governos brasileiro, russo e americano. ?Foi uma traição ao investimento que fizemos nele?, fulmina um ministro da área econômica, escondido no anonimato. ?Ele deveria ter esperado.?

Nos Estados Unidos, os militares que participam do programa espacial permanecem vinculados à Nasa. Fazem palestras e atuam como consultores remunerados, mas não antes de se dedicarem por dois anos à instituição que investiu neles. ?A indústria é essencial ao programa espacial, mas não podemos fazer essa transferência de recursos humanos de graça?, afirma Nora Lehman, porta-voz da Nasa. Em sua defesa, Pontes afirma que os milhões gastos pela Agência Espacial Brasileira foram para os oito experimentos que fez durante o vôo espacial, como a germinação de feijões em microgravidade. ?O governo investiu na realização de uma missão que julgou ser de importância para a ciência e para a visibilidade do próprio governo?, afirma. Absolutamente verdadeira, essa informação não altera o fato de que Pontes deveria ter alguma espécie de compromisso pessoal com a AEB. Ao virar as costas ao Estado que (certo ou errado) pôs tempo e dinheiro em sua formação, ele dá margem para ser percebido como um mero arrivista. Enio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência é taxativo. ?Foi uma carona paga?, afirma. ?Agora ele deve passar a vender bonequinhos?. Candotti refere-se ao link da loja virtual que Pontes mantém em seu site. Nela é possível comprar camisetas, chaveiros e adesivos com o nome do ex-astronauta. A aventura espacial brasileira não poderia terminar de forma mais mesquinha do que essa.