O americano Gary Kildall morreu aos 52 anos, em 1994, com a certeza que perdeu a chance de partir como o homem mais rico do mundo, em lugar de Bill Gates, fundador da Microsoft. É isso mesmo. Quando a IBM decidiu massificar o mercado de computadores nos anos 80, Kildall tinha um sistema operacional pronto que poderia ser colocado nas máquinas: o CP/M. Como a negociação não andou, a IBM procurou Gates e fechou o acordo que o transformou no dono do atual império tecnológico. Há muitas versões em torno dessa história. Um livro recém-lançado nos Estados Unidos ? They Made America (Eles fizeram a América) ? tenta arregimentar fatos e dados para mostrar que o dono da Microsoft foi mais um homem de negócios do que um nerd em tecnologia. Afinal, a primeira versão do programa entregue a Gates para a IBM era baseada no software CP/M de Kildall. Desde então, o tempo e os protagonistas desse episódio se encarregaram de espalhar lendas em torno da transação. Uma delas diz que Kildall não fechou o negócio porque, na hora em que os executivos da IBM o procuraram para uma reunião, ele estava pilotando seu avião particular. Recebidos pela mulher do empresário, Dorothy McEwen, os homens da IBM se irritaram porque ela se recusou a assinar um contrato prévio e quis aumentar o valor dos royalties pelo programa. Em função disso, a IBM foi bater às portas de Gates. Nem o bilionário nem a IBM comentam sobre o passado.

O mais interessante dessa história é que Gates não teria, à época, nada pronto. Ele havia sido a primeira opção da IBM, mas sem condições de atender a demanda indicou a Digital Research, de Kildall. Quando a IBM retornou decepcionada, Gates percebeu a oportunidade da sua vida. Ele contratou um programador e pagou US$ 50 mil pelo serviço. Esse profissional se inspirou no software de Kildall para fazer a primeira versão do DOS, o sistema operacional que foi parar nas máquinas da IBM. Após tomar conhecimento da cópia, Kildall procurou Gates e a IBM em busca de satisfação. Saiu com um acordo: os computadores deixariam as fábricas com a opção dos dois programas. O problema é que o CP/M custava US$ 240 por cópia e o DOS estava em US$ 40. O mercado se encarregou de fazer a seleção natural do software. A partir desse ponto, Gates passou a acumular seus milhões e em seguida bilhões de dólares. Kildall ficou para a trás e em 1991 vendeu a sua empresa por US$ 120 milhões. Número bem distante do atual valor de mercado da Microsoft: US$ 304 bilhões.