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Dono de um dos maiores grupos empresariais de Brasília, com faturamento anual de R$ 1 bilhão, o vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio, 59 anos, é um homem respeitado no mundo dos negócios da Capital Federal. Dono de 20 empresas nas áreas de construção, seguros e comunicação, ele tem seu nome gravado nas placas dos mais luxuosos empreendimentos da cidade. Uma delas sinaliza as obras do shopping Iguatemi, no Lago Norte, que será o mais sofisticado de Brasília. Desde 1975, quando entrou para o setor, ele já construiu 2,7 milhões de metros quadrados, que resultaram em 38 mil imóveis vendidos ao longo de 34 anos numa das cidades mais caras do País. E é até comum os corretores de imóveis se referirem ao “padrão Paulo Octávio” para tentar convencer um cliente a comprar um imóvel de luxo. Desde a semana passada, no entanto, com o envolvimento na Operação Caixa de Pandora, que investiga o pagamento de propinas por fornecedores do governo do Distrito Federal, o nome Paulo Octávio deixou de ser sinônimo de sofisticação para se tornar também uma espécie de senha para a discussão de percentuais escusos. “Paulo Octávio tem quanto aí?”, pergunta o empresário Gilberto de Lucena, da Linknet, num dos vídeos da Operação Caixa de Pandora. “Tem 30%”, responde Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do DF e autor das gravações que embasaram as denúncias. Em outro vídeo, o executivo Marcelo Carvalho, braço direito de Paulo Octávio, pega uma mala no escritório de Barbosa. O empresário, no entanto, garante que as imagens não constituem provas. “São armações do denunciante”, disse ele à DINHEIRO (leia sua entrevista).

É possível que Paulo Octávio consiga escapar e tenha um final melhor nessa história do que o governador José Roberto Arruda. O DEM, partido de ambos, deve expulsar Arruda e preservar o vice Paulo Octávio, que assumiria o governo e poderia até disputar a reeleição. Ainda assim, é muito desconfortável para um empresário ver seu nome associado a um escândalo de caixa 2. Especialmente para alguém que já entrou na política milionário e de quem se esperava que colocasse a mão no próprio bolso ou, ao menos, recebesse doações declaradas. “Ele tinha uma boa imagem como senador, como deputado e nós presumíamos que ele estava usando seu próprio dinheiro para financiar campanhas”, disse à DINHEIRO o cientista político David Fleischer, consultor e professor da Universidade de Brasília. “O que não quer dizer que ele não use a política para favorecer seus negócios.”

A mistura de interesses privados com política é antiga na vida profissional de Paulo Octávio. Nascido em Lavras, no sul de Minas, ele vive em Brasília desde os 12 anos e sempre tentou se vender como um dos pioneiros que construíram a nova capital. Atualmente casado com uma neta de Juscelino Kubitscheck, Anna Christina, ele fez até propaganda na televisão colando a sua imagem à de JK. “A presença de um construtor no governo já gera uma certa desconfiança, pela influência que ele poderia ter na questão das terras e da legalização dos condomínios, o que é um problema grave no Distrito Federal”, diz o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília.

Um dos primeiros negócios imobiliários do grupo Paulo Octávio, a construção do Hotel St. Paul, em sociedade com o falecido Sérgio Naya, já foi cercado de polêmica. Corria o governo de João Figueiredo e Paulo Octávio, à época, era casado com a filha do então ministro da Marinha, Maximiliano da Fonseca. Já na construção, a Marinha comprou 40 dos 272 apartamentos do hotel. Nos anos seguintes, ele se tornaria um dos principais empresários da cidade, dono de três shopping centers, três emissoras de rádio, uma de televisão, concessionárias de veículos, centenas de imóveis e vários outros negócios. Amigo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que usou um de seus prédios como sede do comitê da campanha de 1989, ele foi o senador mais votado da coligação PRN/PFL. Leal, apoiou Collor até o fim, mas conseguiu se descolar do ex-presidente após o impeachment. Em 1998, concorrendo a deputado federal, foi novamente o mais votado, desta vez pela coligação PFL/ PSDB. Em 2002, eleito novamente senador, foi indicado por dois anos seguidos, em 2003 e 2004, como um dos parlamentares mais influentes do Congresso pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e só deixou o mandato para concorrer a vice-governador na chapa de José Roberto Arruda, há três anos. Seu grande sonho é governar o Distrito Federal. E pode ser até que ele o realize graças ao mais escrachado escândalo já visto no País.

Em entrevista à DINHEIRO, o vicegovernador do DF, Paulo Octávio, diz que o escândalo foi fruto de uma “armação” do denunciante Durval Barbosa. Leia a seguir.

DINHEIRO – O sr. é citado num diálogo em que Durval Barbosa fala numa comissão de 30% para suas empresas. O sr. reconhece essa situação?
PAULO OCTÁVIO –
De jeito nenhum. Isso é uma armação feita pelo denunciante, que induziu à afirmação. Eu não tenho nenhuma ligação com ele. Estou convicto da seriedade do governo e não tenho nada a temer. Sempre agi na vida pública com isenção e transparência.

DINHEIRO – O sr. foi chamado a dar alguma explicação?
OCTÁVIO –
Eu darei todos os esclarecimentos que forem solicitados. Mas por enquanto só vejo pela televisão. O que está havendo é uma confusão. Muitas imagens de dois, três anos atrás.

DINHEIRO – Que repercussão esta acusação pode ter para o governo e para suas empresas?
OCTÁVIO –
Para quem estava fazendo um governo tão espetacular, que até a semana passada tinha 90% de aprovação, é muito triste. Nós temos 2.032 obras em andamento. Fizemos um grande processo de legalização em Brasilia, regulamentamos o transporte.

DINHEIRO – E qual pode ser a repercussão para as suas empresas?
OCTÁVIO –
É sempre ruim, embora a empresa não tenha nada a ver com isso. Só meu nome foi citado. Muitos amigos e minha família sempre me pedem para deixar a política. Eu faço por amor.

DINHEIRO – E pedem por quê?
OCTÁVIO –
Porque de uma hora para outra seu nome pode virar algo negativo. Mas eu não pretendo deixar não. Não existe nada que me faça desistir.

DINHEIRO – Como o sr. paga suas campanhas políticas?
OCTÁVIO –
Parte importante das minhas campanhas sempre foi paga por mim. Mas esta última eu não sei dizer, porque não era controlada por mim.