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FALTAM DUAS SEMANAS PARA O INÍCIO DO jogo, mas a torcida já invadiu o campo, com apitos, faixas e cornetas. O barulho tem como finalidade colocar em impedimento o principal jogador da partida. A ordem é evitar que Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, aumente os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, marcada para o dia 16, e derrame um balde de água fria na economia. ?Seria um insulto ao País?, dispara Benjamin Steinbruch, dono da CSN. ?Uma insanidade, que quebraria as expectativas dos empresários e afetaria o ciclo de investimentos?, reforça o economista Delfim Netto. Mesmo no governo, a pressão é intensa. ?O Brasil não pode ter medo do crescimento?, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciar um plano de cortes no orçamento, que pode chegar a R$ 30 bilhões. Ao enxugar os gastos, Mantega sinaliza que uma política fiscal rígida seria mais eficiente do que um arrocho monetário. Meirelles, no entanto, parece determinado. Acostumado às pressões e ao fogo amigo, ele já tomou sua decisão. A taxa Selic deve subir dos atuais 11,25% e a única dúvida é se passará a 11,75% ou a 12,25%.

Nesse embate delicado, Meirelles decidiu se recolher, para escapar das caneladas, mas escalou um retranqueiro em seu lugar. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o diretor de Política Econômica do BC, Mario Mesquita, preparou o terreno para a má notícia. ?Um banco central que espera a inflação divergir muito em relação à meta para agir tem que atuar de forma mais intensa e por mais tempo, o que tende a ser danoso para a atividade econômica?, disse ele. Estava dado o recado. Como a inflação acumulada em 12 meses bateu em 4,6%, acima da meta de 4,5%, já há uma divergência. por isso que todo o mercado espera a mudança de rota na política monetária. E foi isso que marcou a última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, na terça-feira 1o.

Diante dos empresários, o presidente Lula ouviu apelos para que os juros fiquem como estão. Mas ele próprio foi cauteloso, ao admitir que o Brasil pode ser afetado pela crise internacional e ao revelar preocupação com o ritmo aquecido da economia. ?Na hora em que houver um descompasso entre oferta e demanda, todos nós sabemos que o risco é muito grande e já vivemos isso em outras vezes?, disse o presidente.

Saber se hoje há realmente esse descompasso, que poderia deflagrar reajustes de preços, é a grande incógnita da economia. Alguns dados preocupam. Por exemplo, aqueles que indicam que a indústria brasileira já trabalha com 85% de sua capacidade instalada ? ou seja, bem perto do teto. Além disso, a Confederação Nacional da Indústria divulgou uma previsão de inflação de 4,7% para este ano ? acima da meta, portanto. Outro sinal de perigo é a deterioração das contas externas. No primeiro trimestre deste ano, o superávit comercial brasileiro caiu 67%, passando de US$ 8,7 bilhões para US$ 2,8 bilhões, em função do aumento acentuado das importações. Elas cresceram 42% e isso mostra que a produção interna não consegue responder, sozinha, ao ritmo de expansão do consumo. Para Alexandre Schwartzman, ex-diretor do BC, o fenômeno é natural. Segundo ele, se não fossem as importações, a inflação já teria se desviado bem mais do centro da meta.

Esses primeiros sinais de desequilíbrio também deram origem a rumores. O mais recente era o de que os economistas Delfim Netto e Luiz Gonzaga Beluzzo teriam levado uma idéia extravagante ao presidente Lula. Em vez de adotar um regime de metas de inflação, o Brasil seguiria o modelo argentino, com metas para a taxa de câmbio. Assim, o real seria desvalorizado, para evitar um déficit externo, e a inflação seria controlada com outros instrumentos. ?É mentira, isso jamais foi levado ao presidente?, disse Delfim à DINHEIRO. Apesar disso, ele rejeita a necessidade de aumento de juros. ?Não há evidências de uma inflação de demanda e juros maiores só piorariam as contas do governo?, diz ele. Nos últimos 12 meses, o País gastou R$ 163 bilhões com o serviço da dívida, mas, ao que tudo indica, a conta vai aumentar. Para o BC, o estrago na economia não seria tão grande. Meirelles prevê ainda um crescimento de 4,8% em 2008. Uma festa menos animada, mas ainda uma festa.