Quem tem mais de 35 anos deve se lembrar da motocicleta Amazonas, potência de 1,6 mil cilindradas que circulou pelo País nos anos 70 e começo dos 80. Era uma moto produzida artesanalmente num galpão do bairro da Penha (em São Paulo), que andava com motor Volkswagen, peças 100% nacionais e, dizem, era capaz até de dar marcha à ré. É sério. Ela existiu. E existiu por obra do empresário Guilherme Hannud Filho, dono do grupo GHF. A Amazonas não vendeu muito ? 420 unidades em quase dez anos ?, mas fez barulho suficiente para surpreender o consumidor. ?Eu sempre gostei de invenções capazes de mudar o mercado?, afirma o empresário. Agora, 26 anos depois, Hannud tenta novamente chacoalhar o mercado brasileiro de duas rodas. Dessa vez com um veículo bem mais leve do que a Amazonas. Vem aí a Super Coisa, espécie de patinete motorizado, elétrico (a bateria pode ser recarregada em qualquer tomada, como um celular), com autonomia para rodar 40 quilômetros a uma velocidade máxima de 20 km/h. Preço do produto: R$ 24 mil. ?A Super Coisa é o veículo do futuro. Não há a necessidade de ter um carro de 1,5 mil kg para transportar pessoas com menos de 100 kg?, diz Hannud. O recado do empresário está dado. Que tal trocar seu carro popular por uma Super Coisa?

 

O nome original do produto é Thing!, inventado por Dean Kamen, dono da empresa Segway. Hannud pegou carona no patinete em outubro de 2005, após sete meses de conversas com o americano. De saída, o brasileiro importou oitenta unidades e está negociando principalmente com empresas, universidades, shoppings e governos. Mas o grande alvo mesmo é o consumidor comum. ?Em um ano, quero vender mil Coisas?, diz o empresário. ?E essa previsão de Hannud é até modesta?, afirmou a DINHEIRO o diretor internacional da Segway, Stephan de Penasse.

A animação do executivo vem da real possibilidade de queda de preço do produto no País. De Penasse está tentando reduzir as tarifas de importação da Super Coisa. ?Trata-se de um veículo ecológico e, portanto, pode ter até alíquota zero. Se conseguirmos, o valor final da Super Coisa no Brasil será equivalente ao preço praticado nos EUA?. Na terra da Segway, o produto custa US$ 5 mil. Outra medida estudada pela matriz é a abertura de uma fábrica na Zona Franca de Manaus, com investimento de R$ 2 milhões na linha de montagem. ?O Brasil será um dos principais mercados da Segway?, promete Hannud. OK. Mas e o trânsito caótico das grandes cidades, os buracos, a falta de segurança? ?Você pode ser assaltado de bicicleta, a pé ou de carro. Quanto aos buracos e ao trânsito, deve-se tomar o mesmo cuidado que um ciclista e escolher trajetos relativamente curtos?, defende o empresário.

Das 23,5 mil unidades já vendidas pela Segway em três anos de mercado, 60% rodam nos EUA e 40% no resto do mundo, com destaque para a Europa. ?Mas essa equação deve chegar rapidamente a 50%/50%, principalmente depois que entramos na Ásia?, diz de Penasse. A busca pelo mercado internacional foi motivada justamente por erros de cálculo no mercado norte-americano. Em recente entrevista à TIME, Dean Kamen afirmou que iria rever suas metas de vendas. Mudar a mentalidade dos consumidores de seu país em relação a transportes alternativos, disse ele, não era tão fácil como a Segway imaginava. Em tempo: na semana passada, a empresa, voluntariamente, fez uma chamada de recall a todos os proprietários do patinete. É que havia o risco de alguns aparelhos, em determinada velocidade, apresentarem problemas no dispositivo que proporciona equilíbrio ao condutor.

Ajustes à parte, Hannud está animadíssimo com sua nova atividade. Dono de um grupo que fatura R$ 100 milhões ao ano e atua com equipamentos para meteorologia e controle de qualidade do ar, além de fazer serviços paisagísticos em cidades e beiras de rodovias, ele agora quer mostrar que a volta ao setor de transporte foi um tiro certeiro. Além da Super Coisa, o empresário já tem planos para reeditar a Amazonas mas, dessa vez, sua moto de 1,6 mil cilindradas será feita em Manaus. Hannud gosta de desafios.