22/06/2004 - 7:00
O barão Federico Bianchi é alto, magro, tem os cabelos brancos e usa gravata rosa, combinando com o lenço de mesmo tom no bolso esquerdo do paletó. A empresária Livia Colantonio também é magra e alta, e, assim como il barone, fala um inglês impecável. Ele é do Veneto, ela da Umbria. Um é aristocrata e a outra, capitalista. Ambos se meteram recentemente a fabricar vinhos. Ele porque herdou uma propriedade familiar que vem desde 1861. Ela, porque o marido advogado resolveu diversificar. Os dois estão se dando bem. Ele criou o Vini de la Duchea, apresentado na semana passada na MiWine, a primeira feira de vinhos de Milão, como uma das grandes promessas da temporada. Ela é dona da marca Castello delle Regine, cujo Sangiovese em sua primeira safra arrancou enormes elogios do respeitado enólogo italiano Remo Pantano. ?É um vinho excelente, uma verdadeira surpresa?, disse ele à DINHEIRO. Ambos os produtores buscaram orientação de técnicos renomados, com a finalidade de cortar caminho e chegar rapidamente ao topo do mercado internacional, ali onde circulam vinhos de US$ 100 a garrafa. O barão já entrou nos EUA e agora mira na China. A plebéia Livia gastou 7 milhões de euros e já exporta metade da sua produção de 150 mil garrafas de 2003.
Os dois casos ilustram uma tendência claríssima na indústria de vinho italiana: um salto de qualidade rumo ao mundo. É uma revolução técnica e de marketing que 30 anos atrás varreu as regiões produtoras de maior prestígio ? a Toscana e o Piemonte ? e agora espalha-se rapidamente pelo resto da península. Os produtores da Sicília e da Puglia, assim como os do Veneto e de Avellino, tentam deixar de produzir commodities anônimas e baratas. Buscam fornecer um produto de marca e qualidade reconhecidas, com preço mais elevado. Querem, à sua maneira, recriar o caminho percorrido décadas atrás por produtores como Ambrogio Folonari, da Toscana, dono do mítico Brunelo de Montalcino. Sua família está nesse ramo desde o século passado, mas foi apenas recentemente que o Brunelo passou a ser vendido por 45 euros a garrafa, na Itália. ?Tivemos sorte?, resume o sexagenário produtor. ?Quando foi preciso elevar a qualidade do vinho, descobrimos que o nosso solo e a nossa uva eram bons.? A reviravolta da qualidade foi motivada por uma queda abrupta e violenta do consumo doméstico italiano. Na abundância que se seguiu ao pós-guerra, as pessoas descobriram outras bebidas e deixaram o vinho de lado. Foi preciso buscar um outro tipo de consumidor ? o de estilo ?, capaz de pagar mais, mas também muito mais exigente.
As vinícolas passaram a copiar procedimentos franceses e até mesmo a usar uvas francesas. Assim nasceram os super Toscanos, vinhos de enorme sucesso, que lembram os Bordeaux. Produzidos na famosa região do Chianti Clássico, eles não se encaixam nas categorias tradicionais italianas, mas têm enorme reputação. É o caso do famoso Tignanello, criado há três décadas com uma mistura pioneira de uvas cabernet francesa e sangiovese, nativa da região. Ele é considerado por muitos como o melhor vinho da Itália ? e vende no exterior por somas acima de US$ 200. ?Foi o primeiro vinho italiano a explodir no mercado americano?, diz Vitorio D?Albertis, diretor da vinícola Antinori. No ano passado a empresa faturou 120 milhões de euros, exportando 65% da sua produção. A Antinori também detém a marca Prunotto, uma das mais respeitadas do mercado italiano, cujos vinhedos se localizam no Piemonte.
O vinho é um grande negócio na Itália. Movimenta 9 bilhões de euros por ano e envolve um contingente de 800 mil pessoas. Ezio Rivella, presidente da Associação Nacional dos Produtores, afirma que os investimentos estão crescendo, embora a produção tenha caído de 1,3 milhão de hectolitros em 1994 para 800 mil hectolitros no ano passado. ?O consumo está caindo, mas a qualidade e o preço aumentam?, disse ele à DINHEIRO. A Itália é o segundo produtor do mundo, depois da França, e busca agora, com a Feira de Milão, reposicionar-se globalmente. O evento será bianual, alternando com a feira de Bordeaux, que tem a mesma periodicidade. Na semana passada estavam em Milão 1.100 expositores, 300 compradores e uma centena de especialistas convidados pelos organizadores. Custo total da iniciativa? Cerca de 8 milhões de euros.
AS BOAS NOVIDADES
Vinhos regionais, marcas recentes e velhas glórias revisitadas
TIGNANELLO 2001
Vinícola Antinori, da Toscana.
Essa jóia da região de Chianti chegará às lojas da Europa no final do ano. No Brasil será vendida pela Expand, de São Paulo. Safra considerada excepcional pelos enólogos.
GRECO DI TUFO 2003
Vinícola Aminea, de Avellino
Primeira safra deste tradicional vinho regional a receber a certificação de qualidade garantida e controlada do Estado italiano. Branco seco e suave ao paladar.
SANGIOVESE 2000
Vinícola Castello delle Regine, da Umbria.
É uma marca nova, orientada pelo famoso enólogo Franco Barnabei. Esta primeira safra promete ser um sucesso. Tinto suave e saboroso.
CHIARANDÁ 2002
Vinícola Donnafugatta, da Sicília
Um dos produtos mais conhecidos dessa famosa vinícola, esse branco teve seu processo alterado pela primeira vez nessa safra para fornecer um aroma mais intenso.