Há décadas, a circunscrição rural inglês de North Shropshire vota, fielmente, nos conservadores de Boris Johnson. Agora, porém, após uma série de escândalos, o partido enfrenta uma complicada eleição parcial na quinta-feira (16), sob o olhar atento de todo país.

Este bastião conservador no centro da Inglaterra poderá virar as costas para a sigla do polêmico primeiro-ministro. A popularidade de Boris despenca a tal ponto que alguns questionam se ele conseguirá se manter no poder por muito tempo. As recentes acusações de corrupção em seu partido e de possíveis violações das restrições contra a covid-19 conseguiram irritar seus seguidores mais fiéis.

“São um bando de mentirosos, é vergonhoso”, revolta-se Martin Price, morador de Whitchurch que votou nos conservadores nas eleições gerais de 2019.

Ele revela à AFP que não fará isso desta vez, afirmando que não vai participar, “de forma alguma”, da votação de quinta-feira, diante de conservadores que “pensam apenas em si mesmos”.

A razão? Os recentes e inúmeros escândalos que mancharam o partido e seu líder, começando com um escândalo de lobby ligado ao membro do parlamento Owen Paterson, que ocupava a cadeira de North Shropshire desde 1997.

Ele foi acusado de ter pressionado o governo em favor de duas empresas que pagavam Owen. O político acabou renunciando ao cargo, o que levou a esta eleição parcial. Johnson também foi amplamente criticado por tentar mudar as regras parlamentares para favorecer este deputado.

– Um golpe para Johnson –

À medida que essa polêmica foi-se esvaindo, outras surgiram, entre elas, a celebração, registrada por fotos e vídeos, de festas e outros eventos em Downing Street, em dezembro de 2020. Naquele momento, devido à pandemia de coronavírus, pedia-se à população que limitasse extremamente suas interações sociais.

“Isso apenas confirma o que eu, minha família e muita gente acha há muito tempo: este homem não está apto para ser primeiro-ministro”, comentou Garry Churchill, um aposentado de 71 anos que “não consegue imaginar” que as pessoas voltarão a votar nos conservadores na quinta-feira.

Nesta circunscrição eleitoral rural, o emprego, a agricultura e o transporte costumam ocupar lugar de destaque na agenda. Desta vez, a votação se transformou em um plebiscito sobre a gestão do primeiro-ministro.

“Boris está fazendo a gente perder tempo”, afirma Gale Groom, de 55 anos, do lado de fora de um supermercado.

“Achei que ele fosse ser competente – porque, obviamente, votei nele antes -, mas, com a pandemia e tudo mais, ele não tem sido o melhor”, completou.

Derrotar os conservadores, que em 2019 conquistaram a cadeira por uma ampla margem de 23.000 votos, seria um feito e tanto para a oposição. Os mais bem colocados parecem ser os liberal-democratas, de centro, os quais os trabalhistas deixaram o caminho livre para infligir uma dura derrota política a Johnson.

“Vou votar nos liberal-democratas”, disse Martin Hill, de 68 anos, que se apresenta como socialista.

“Será um voto tático: quero infligir um revés em Johnson”, esse “homem desonesto”.

Se os conservadores perderem este reduto eleitoral, seu líder poderá enfrentar novos pedidos de renúncia de dentro de suas próprias fileiras e pode ser alvo de uma moção de censura.