Quando o assunto é a contagem de votos em eleições no país, muitas dúvidas ainda persistem na mente dos eleitores. Por exemplo, se, ao votar nulo ou em branco, o eleitor estará favorecendo ou prejudicando algum candidato específico.

De acordo com Cristiano Noronha, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília e vice-presidente da empresa de consultoria política Arko, quando o eleitor opta por votar em branco ou nulo ele acaba tornando mais fácil para o candidato que está liderando vencer a eleição no primeiro turno, por exemplo.

“Se de cem eleitores todos votarem em um dos candidatos, ele vai precisar de 51 votos (50% de 100 + 1 voto para ser considerado maioria) para ser eleito já no primeiro turno. No entanto, se 50 votarem em branco ou nulo, o número de pessoas que votaram cai para 50 e ele passa a precisar de apenas 26 votos (50% de 50 + 1 voto para ser considerado maioria) para se eleger”, diz Noronha.

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O executivo da Arko segue na explicação: “Se dentre os cem eleitores o candidato já tivesse 40 pretendendo votar nele, no primeiro caso ele teria que disputar o segundo turno. Com o menor número de pessoas votando no segundo quadro, ele já estaria eleito logo no primeiro turno. Ou seja, ele acaba precisando de menos votos no fim das contas”, afirma Noronha.

Isso ocorre porque, nas eleições, o que importa de verdade são os chamados votos válidos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os votos válidos são aqueles feitos em um dos candidatos que disputam a eleição.

Todos os demais, sejam eles abstenções, votos em branco ou nulos não são computados para decidir a eleição.

No caso da eleição presidencial de 2022, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera nas pesquisas, acaba precisando de um número menor de votos para ser eleito já no primeiro turno.

Abstenções

Para Fábio Tadeu Araújo, especialista em Economia Internacional e professor de geopolítica pela PUC-PR, as eleições de 2022 também têm um componente ligado à divisão política do país.

“Alguns eleitores, seja por medo de se expor votando no Lula e acabar ficando sujeito a algum tipo de violência, podem acabar não comparecendo e diminuindo o número de votos válidos recebido por ele”, afirma. “Então existe esse receio político de que menos eleitores do Lula podem comparecer.”

De fato, o ex-presidente chegou a afirmar, em entrevista ao SBT, que é importante que os cidadãos assumam a responsabilidade e que só quem vota “pode xingar e reclamar depois”.

Com intenções de voto variando entre 44% e 48% nas pesquisas dos principais institutos do país, o apelo de Lula ocorre em um momento em que é possível vislumbrar uma vitória já no primeiro turno das eleições presidenciais.

Histórico no país

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições presidenciais, em 2018, 20,3% dos eleitores não compareceram às urnas no país (o equivalente a cerca de 30 milhões de pessoas). Foi a segunda maior abstenção registrada nas eleições presidenciais no país (a maior foi em 1998: 21,5%).

Como o voto é obrigatório no país, quem não comparece e não justifica a sua ausência (caso não esteja no seu domicílio eleitoral na data e horário da eleição) é obrigado a pagar uma multa de R$ 3,51.

Caso a pessoa deixe de votar, justificar e pagar a multa, ela fica sujeita a uma série de sanções, que vão desde não poder obter passaporte até deixar de receber salário, se for funcionário público.

Além disso, 6,14% dos eleitores votaram nulo e 2,65% em branco no primeiro turno de 2018.