O Governo tenta a todo custo, na reta final de mandato, fazer uma privatização de peso para chamar de sua. Levou mais de três anos desprezando literalmente essa possibilidade para só agora se atentar sobre a necessidade dela. Não que o capitão, finalmente, tenha sido tomado por um rompante de liberalismo de mercado – algo, aliás, que nunca teve e nem cultiva. É questão pragmática mesmo. De ter o que mostrar como bandeira de campanha nessa área, uma espécie de trunfo para angariar eleitores, levados meramente por impulso às urnas. Funciona mais ou menos como os agrados em forma de Auxílio Brasil, desconto na luz e no gás, para os incautos de baixa renda. Bolsonaro parece enxergar os brasileiros como uma grande massa de cordeirinhos prontos a serem domesticados com um mero apito e ração. No tocante à venda da Eletrobrás – que agradaria à iniciativa privada e também àqueles que estariam se bandeando para o outro lado devido a série de promessas não cumpridas –, o esforço nos últimos dias foi concentrado. A ordem do Planalto é de prioridade total para a venda da companhia – algo com a qual vem acenando desde o primeiro dia que tomou posse e que veio protelando sem fim. No corpo a corpo com ministros do Tribunal de Contas da União, o governo conseguiu estabelecer uma data para que a modelagem da privatização fosse finalmente anunciada. O objetivo maior é que até meados de maio a segunda etapa da desestatização ocorra. O ministro Paulo Guedes, em especial, conta com isso para consagrar seu projeto de uma economia desprovida das amarras do Estado. É uma cantilena que nunca se converteu em realidade por evidente interferência política do mandatário. O repasse da empresa no mês de maio seria estratégico porque ela tem prazo definido caso queira usar os dados do balanço do quarto trimestre de 2021 para fazer a oferta pública de ações. Os números do período foram promissores. A União busca reduzir de 60% para 45% a sua participação na Companhia. Um dos motivos da demora, que tem emperrado o processo, foi uma discordância da área técnica do TCU sobre o valor pedido na operação – tido e havido como muito baixo. Determinaram um reajuste do preço mínimo a ser pedido por ação e a revisão ficou a cargo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável por dar forma final à transação. A privatização da Eletrobrás está, de toda forma, envolta em uma nuvem de incertezas. Não há definido, por exemplo, como ela irá atuar daí para frente, caso efetivamente o negócio saia. Funcionários da estatal temem, naturalmente, pelo seu futuro. O clima de apreensão envolve, inclusive, as subsidiárias. O fato é que, depois de anos protelada, sendo cozinhada, uma venda de afogadilho, apenas para uso do negócio como bandeira eleitoreira, pode representar um grande erro. Algo bem habitual em se tratando do governo Bolsonaro.

Carlos José Marques, diretor editorial