Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) – A Eletrobras está trabalhando em sua “virada de chave” após a privatização e poderá compartilhar com o mercado em novembro algumas diretrizes estratégicas mais claras sobre esse momento de transformação da companhia, disse o CEO da elétrica, Wilson Ferreira Júnior.

Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, a primeira desde que assumiu o cargo neste mês, o executivo evitou detalhar planos futuros, mas destacou esforços para reduzir custos e passivos judiciais bilionários, além de oportunidades de crescimento de receita com venda de energia no mercado livre.

Ele confirmou ainda a intenção da Eletrobras, que é a maior companhia de energia da América Latina, de migrar ao segmento do Novo Mercado da B3, de mais elevado padrão de governança corporativa. Em um cronograma preliminar, a companhia prevê que esse processo possa ser concluído entre oito a dez meses.

“Ao final do primeiro semestre do ano que vem, deveríamos estar migrando ao Novo Mercado”, disse Ferreira Júnior, que retornou ao cargo de CEO da elétrica após cerca de um ano e meio na Vibra Energia.

Segundo o executivo, a companhia pretende divulgar, no início do novembro, um plano inicial de “reorientação” da companhia, para que o mercado passa avaliar e precificar os desafios da Eletrobras pós-privatização.

PILARES DA TRANSFORMAÇÃO

Ferreira Júnior afirmou que o primeiro pilar na mira da Eletrobras é a comercialização de energia no mercado livre, uma vez que o processo de descotização de suas usinas hidrelétricas se inicia já em janeiro de 2023, liberando grandes volumes para serem vendidos no ambiente.

A Eletrobras já vinha se posicionando para atuar de forma mais intensa no mercado livre desde os preparativos para a privatização, destacou o executivo. Agora, o desafio será sofisticar sua estratégia, a fim de aproveitar o momento de ampliação do mercado livre com a abertura a consumidores porte cada vez menor.

“Esse é claramente um mercado que nos interessa, mas há que se reconhecer que esses consumidores são todos menores… Temos experiência com grandes consumidores, vamos ter que desenvolver uma área comercial, uma marca que chegue nesses consumidores”.

Outra frente importante nesse momento de transformação para a Eletrobras são os custos e passivos. Até novembro, deverá ser aberto um plano de demissão voluntária (PDV) para aposentados e aposentáveis, o que deverá permitir uma “oxigenação” do quadro de pessoal, com a possibilidade de contratação de estagiários e pessoas mais novas, disse o CEO.

Ele afirmou ainda que a companhia está estudando como otimizar sua estrutura organizacional, mas que não há intenção de eliminar subsidiárias.

“Essas companhias têm importância regional… Não passa nesse momento aqui na nossa cabeça qualquer tipo de mudança no que diz respeito à eliminação dessas subsidiárias”.

AQUISIÇÕES E DESINVESTIMENTOS

A Eletrobras fará ainda uma reavaliação de seu portfólio para identificar quais ativos tem interesse em manter, disse Ferreira Júnior.

Segundo o executivo, a elétrica não terá uma mentalidade de “investidor financeiro” e, por isso, não pretender continuar com participações minoritárias em empresas e sociedades de propósito específico (SPEs).

Nesse sentido, a Eletrobras poderá ou ampliar sua posição em determinados ativos, comprando o controle, ou aliená-los totalmente, disse ele, sem especificar.

Questionado sobre política de dividendos, o CEO afirmou que a companhia ainda discutirá esse tema e a alocação de capital futura junto ao novo conselho de administração.

“Só faremos isso (nova política de dividendos) na medida que tivermos o ingresso no Novo Mercado… Não imagino que a curto prazo a gente esteja aumentando dividendos”.

PRÓXIMO GOVERNO

O executivo disse não acreditar em uma eventual reversão da privatização da Eletrobras, independentemente de qual seja o próximo governo.

“Não tem sentido econômico, um governo que tem desafio fiscal fabuloso… fazer uma aplicação de recursos pelo simples fato de ter uma participação adicional de uma companhia”, afirmou, lembrando que a própria modelagem da privatização já impõe dificuldades a esse processo, tornando-muito custoso.

(Por Letícia Fucuchima)

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