i98809.jpg

 

QUASE 15 ANOS DEPOIS DE TER O MANDAto de presidente cassado pelo Congresso, Fernando Collor de Mello voltou a Brasília em 2007 como senador de Alagoas. Ocupou um andar inteiro numa das torres principais do Congresso e se aproximou do presidente Lula, mas ficou distante do centro das decisões políticas. Agora, ele volta ao poder de fato. Como presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, vão passar pelas suas mãos boa parte das obras do PAC, o principal projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com um orçamento de R$ 646 bilhões até o fim de 2010. No Planalto, seu principal interlocutor será a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a candidata a presidente escolhida por Lula. Collor deixou o plenário, depois de derrotar a petista Ideli Salvati por 13 votos a 10, prometendo uma postura colaborativa. “Quero ajudar o presidente Lula e pretendo em breve me encontrar com a ministra Dilma”, disse ele, que já ganhou até um apelido: o de “pai do PAC”.

 

DIPLOMÁTICO, COLLOR JÁ PEDIU FORMALMENTE AUDIÊNCIAS A LULA E DILMA E VEM SENDO CHAMADO ATÉ DE “PAI DO PAC”

Como presidente da Comissão, ele manda e desmanda. Dirige os trabalhos e engaveta ou acelera projetos. “Ele passa a fazer parte de um grupo diferenciado dentro do Senado. Politicamente, passa a ter mais evidência”, explica a diretora da Secretaria de Comissões do Senado, Cleide Cruz. Além disso, como presidente de comissão ele tem direito a uma equipe de até 12 assessores, além dos que já tem como senador e como ex-presidente. Collor foi para a disputa pela Comissão de Infraestrutura com Ideli Salvati, do PT, graças a uma articulação de Renan Calheiros, do PMDB, que escalou senadores fiéis para garantir a maioria na votação. O acordo para a eleição de Collor foi feito por Renan depois que o PTB se comprometeu a eleger José Sarney para a presidência do Senado.

Essa decisão deixa nas mãos de Collor a principal promessa econômica do governo num momento delicado. No jogo partidário, o PT fica enfraquecido, fora da Presidência das duas Casas e sem nenhuma comissão importante no Senado. O ex-presidente já tem trânsito no Planalto. Na semana passada, ele e o restante da bancada do PTB almoçaram com o ministro José Múcio, da Articulação Política. Numa reunião em fevereiro da bancada com Múcio no Planalto, o próprio presidente Lula apareceu para cumprimentar os congressistas. Na disputa pelas comissões, ele não se envolveu diretamente. E seu antigo adversário, que deixou Brasília pela porta dos fundos em 1992, agora consegue um lugar de destaque no palco político. “É a volta por cima?”, ouviu Collor dos jornalistas depois da eleição. “Não, é a volta com os pés no chão”, respondeu. Embora cultive a modéstia, desde que voltou ao Senado, Collor ainda acalenta ambições maiores. Dias atrás, ele se reuniu com um velho apoiador, o ex-deputado Roberto Jefferson, que o aconselhou a disputar novamente a Presidência da República, em 2010. Jefferson lhe disse que ele partiria com, no mínimo, 15% das intenções de voto. Se isso ocorrer, o pai e a mãe do PAC poderão se enfrentar.