O advogado Guilherme Coam, de 37 anos, decidiu adotar a bicicleta como meio de transporte do trabalho para casa. O projeto, porém, durou menos de 15 dias. No período, ele encontrou apenas três vezes o equipamento disponível em estações do Bike Sampa – principal sistema de compartilhamento de bicicletas em São Paulo – nas imediações das Avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio, na região central. “Constatei que o sistema não é confiável em relação à disponibilidade”, diz ele, que comprou uma bicicleta elétrica para alternar com o ônibus.

As reclamações se repetem entre outros usuários e ex-usuários do serviço, que teve queda de 41,8% em um ano – passando de 703 mil viagens, entre agosto de 2015 e julho de 2016, para 409 mil, entre agosto do ano passado e julho de 2017. Também caiu o número de viagens do sistema de aluguel CicloSampa. Entre agosto de 2015 e julho do ano passado, foram realizadas 19.206 viagens. Já de agosto de 2016 a julho deste ano, o programa registrou 16.077 (-16,3%).

Entre as queixas mais comuns dos usuários está a dificuldade para destravar veículos nas estações. “Já faz uns dois anos que as estações parecem estar menos cuidadas. Muitas vezes estão até fora de atividade”, diz o publicitário Fabiano Gabilan, de 44 anos, usuário do Bike Sampa desde o início.

Já o designer Lucas Bastos, de 30 anos, afirma já ter encontrado bicicletas sem banco e com o pneu furado nas imediações da Avenida Faria Lima, na região oeste. Por isso e pela dificuldade de encontrar veículos disponíveis, desinstalou o aplicativo do Bike Sampa há três meses, após ter aderido em 2014. Outro reclamação frequente é a dificuldade de encontrar estações em bairros fora das áreas central e oeste da cidade.

As corridas pelo Bike Sampa são grátis até a primeira hora. Se o ciclista ficar mais tempo com o veículo, paga R$ 5 por hora. Pelo CicloSampa não há cobrança nos primeiros 30 minutos. Depois, é preciso pagar R$ 5 a cada meia hora.

Sem cuidado. Para a engenheira Bianca Macedo, da associação Ciclocidade, a redução das viagens se deve a um “sucateamento” do serviço, que inclui falta de manutenção. Para ela, a Prefeitura deveria fiscalizar a oferta do serviço, que teria falhado ao não conseguir fidelizar os usuários. Da implementação até julho deste ano, 750 mil pessoas fizeram o cadastro.

Para Bianca, porém, a redução das viagens não pode ser usada como referência sobre o número de ciclistas na cidade. “O sistema caiu de qualidade. É natural que essas pessoas tenham procurado outras alternativas, comprado uma bicicleta ou pedido emprestado, por exemplo”, afirma.

O pesquisador do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento, Thiago Benicchio, concorda que o levantamento não é preciso para estimar o uso da bicicleta na cidade. “Não tem como avaliar sem saber como o sistema estava funcionando, sem saber se teve momentos em que a disponibilidade era menor que a necessário. Se a pessoa tenta em um dia e não consegue, no outro não consegue de novo, na terceira vez procura alternativa”, diz.

A menos. Em 2012, um termo de cooperação entre a Prefeitura de São Paulo, o Banco Itaú, patrocinador do Bike Sampa, e as empresas operadoras previa a instalação, ao longo de três anos, de 300 estações – cada uma com 12 vagas – e 3 mil bikes. Esse compromisso deveria ter sido finalizado dois anos atrás, em 2015, mas o termo não foi cumprido. Hoje, há na capital paulista 247 estações e cerca de 720 bicicletas na rua (e outras 180 em manutenção).

Também em 2012, a Prefeitura assinou termo de cooperação com o Bradesco Seguros para o CicloSampa. Na ocasião, foram planejadas 20 estações e 200 bicicletas até 2012. Mas o termo também não foi cumprido. Hoje há 17 estações e 170 bicicletas no rotativo (10 por estação).