26/06/2019 - 8:28
Em 28 de junho de 1919, às 15h50, uma salva de artilharia ressoou em frente ao castelo do Rei Sol, anunciando a assinatura do Tratado de Versalhes. A Primeira Guerra Mundial terminava, mas o texto, humilhante para a Alemanha, semeou o terreno para a propaganda nazista.
Uma conferência de paz em Paris preparava o tratado desde 18 de janeiro. Em uma Europa exausta, na qual a tentação revolucionária se propagava, diante do exemplo russo, as negociações entre os Aliados não foram nada fáceis.
A Alemanha foi excluída das discussões, e o projeto de tratado foi apresentado apenas em 7 de maio. Suas contrapropostas foram rejeitadas.
Em 17 de junho, os Aliados deram à Alemanha cinco dias para decidir. O chanceler Scheidemann renunciou, mas a Alemanha se curvou ao “Diktat”.
“A Alemanha vai pagar”: este leitmotiv francês ditou até o local e data de assinatura do tratado, o Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes, para apagar a humilhação que representou, no mesmo lugar, a proclamação do Império Alemão, em 18 de janeiro de 1871, após a derrota na Batalha de Sedan; e, em 28 de junho, para relembrar o assassinato do herdeiro do Império Austro-Húngaro e sua esposa em Sarajevo. O evento deflagrou a Grande Guerra em 1914.
– Cantos patrióticos –
No dia da assinatura, o Palácio de Versalhes estava em festa. “Os cafés estão transbordando de gente. Muitos clientes cantam canções patrióticas, e o público acompanha nos refrões”, informou o popular jornal “Le Petit Journal”.
As fontes do castelo foram ativadas pela primeira vez desde 1914, e soldados e espectadores curiosos aplaudiram os heróis do momento: o francês Georges Clemenceau, o britânico Lloyd George, o americano Woodrow Wilson, que se apresentou como líder do mundo civilizado, e o italiano Vittorio Orlando.
Os representantes alemães, derrotados, entraram no Salão dos Espelhos em silêncio e foram os primeiros convidados a assinar o tratado, perante as 27 delegações representando 32 potências.
“A paz de direito está assinada. Ontem, em Versalhes, 1919 apagou 1871”, foi a manchete um dia depois do “Le Petit Journal”, considerando que os alemães “assinaram o reconhecimento de seus crimes contra a civilização”.
“A paz está assinada, mas a guerra não terminou”, considerou o jornal socialista “L’Humanité”.
As ideias de Wilson sobre o direito dos povos à autodeterminação e o estabelecimento de uma paz duradoura “saem derrotados do Palácio de Versalhes”.
– Alemanha estigmatizada –
O Tratado reorganizou a Europa e criou a Liga das Nações.
Estigmatizada, a Alemanha perdeu suas colônias e foi amputada em 15% de seu território.
A região da Alsácia-Lorena foi devolvida à França, e o Sarre ficou sob o controle da Liga das Nações por 15 anos.
Reconstituída, a Polônia recebeu de volta Posen e Prússia Ocidental. A Prússia Oriental foi separada do restante da Alemanha pelo Corredor Polonês.
As forças terrestres alemãs foram limitadas a 100.000 soldados, e o serviço militar obrigatório foi abolido.
As cláusulas econômicas impunham o pagamento de “indenizações” e fizeram com que a Alemanha perdesse grande parte de seu potencial econômico e agrícola. Além disso, o país deveria reconhecer sua responsabilidade na guerra.
Em 1920, o Senado dos Estados Unidos – dominado pela oposição – recusou-se a ratificar o tratado e o país teve que se retirar da Sociedade das Nações, o que enfraqueceu a organização.
Em 1921, a conferência de Londres estabeleceu em 132.000 marcos de ouro o montante das “indenizações” aos Aliados, principalmente para a França. Os alemães não conseguiram garantir suas obrigações. Para forçá-los, as tropas francesas ocuparam o Ruhr em 1923, e o país mergulhou ainda mais no caos econômico e na hiperinflação.
O tratado criou novos problemas minoritários no Leste Europeu e abriu o caminho para um aumento do nacionalismo.
Um agitador chamado Adolf Hitler encontrou o terreno perfeito para chegar ao poder dez anos depois, antes de castigar a Europa com fogo e sangue.