Nos últimos três anos, os pagamentos totais de dividendos a acionistas cresceram 14 vezes mais do que os salários somados dos trabalhadores em 31 países, que representam 81% da economia global. É o que apontam números divulgados nesta terça-feira, 30, pela Oxfam. 

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O aumento no pagamento de dividendos foi de 45%, em números ajustados pela inflação. O montante total foi a US$ 195 bilhões. Enquanto isso, os salários cresceram 3%.

O relatório também cita dados sobre os resultados das empresas que distribuem esses dividendos. Os números mostram que o lucro somado das 1,2 mil maiores companhias (responsáveis pelo pagamento de 90% do montante de dividendos distribuídos a acionistas) está prestes a passar do recorde histórico de US$ 1,66 trilhão alcançado em 2023, de acordo com o Janus Henderson Global Dividend Index. 

Aumento da desigualdade

Segundo a Oxfam, a tendência de aumento dos dividendos tem efeitos preocupantes sobre a desigualdade. Com base nos dados do Wealth-X, a organização calcula que o 1% mais rico, que atualmente detém 43% de todos os ativos financeiros globais, recebeu em média US$ 9 mil (cerca de R$ 46.620) em dividendos em 2023. Isso corresponde a oito meses de trabalho e salário para um trabalhador comum. 

“Os super-ricos não ganham suas mega-fortunas ‘trabalhando’ – eles tiram esse dinheiro das pessoas que trabalham”, disse em nota o diretor executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar.

A organização também estima que apenas uma pequena minoria dos assalariados recebem remuneração suficiente para suprir as necessidades básicas como moradia, alimentação, saúde, vestuário e transporte. 

Considerando os dados da Global Living Wage Coalition (GLWC) de países da África, Ásia e América Latina, apenas 2 dos 37 países têm um salário mínimo acima de um nível considerado digno. Além disso, segundo o estudo, os salários mínimos, em média, fornecem apenas 38% do valor necessário para uma remuneração considerada digna. 

Com base em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Oxfam estima que aproximadamente 1 em cada 5 trabalhadores no mundo ganha um salário abaixo da linha de pobreza de US$ 3,65 (cerca de R$ 18,90). Segundo o estudo, 66% dos trabalhadores em países de baixa renda recebem salários que não ultrapassam esse valor, e isso representa um aumento de 1% desde 2020, quando houve a reversão após um longo período de declínio.

“Nenhuma empresa deveria estar pagando aos acionistas ricos a menos que esteja remunerando todos os seus trabalhadores com um salário digno. Os governos devem limitar os pagamentos aos acionistas, apoiar os sindicatos e estabelecer leis que garantam salários dignos. Deveríamos estar recompensando o trabalho, não a riqueza”, defendeu Behar.