O bom uísque, já dizia Vinicius de Moraes, é o cachorro engarrafado. O melhor amigo do  homem. Mas os jovens andam preferindo outros animais de estimação. Eis aí o grande desafio enfrentado pela indústria do uísque na Escócia – um setor que exporta 84 milhões de caixas por ano e gera uma receita anual de US$ 4,8 bilhões para as destilarias de lá. Hoje, o consumidor- padrão de um scotch tem entre 35 e 45 anos. O que significa que as novas gerações estão trocando o malte escocês por bebidas como vinho, espumantes, vodca, tequila e, evidentemente, cerveja. Atenta ao envelhecimento de sua base de clientes, a Grant´s, dona de 5,5% do mercado global e a quarta maior destilaria escocesa, saiu em busca da fonte da juventude. 

 

E sua fórmula consiste em usar a tradicional bebida na formulação de drinques e coquetéis para combater a fenomenal expansão da vodca. Com isso, a Grant´s espera se aproximar da líder do setor, a Johnnie Walker. “Queremos ser a empresa número 1 do mundo”, disse à DINHEIRO Peter Gordon, chairman da destilaria e tataraneto do fundador, Charles Gordon.

 

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“Queremos ser a empresa número 1 do mundo”

Peter Gordon, chairman da William Grant & Sons 

 

O desafio da Grant´s é popularizar a bebida sem abrir mão do requinte e da tradição de uma empresa centenária, que começou a nascer em 1886, quando William Grant decidiu produzir sua própria bebida. Para tanto, ele juntou dinheiro durante 20 anos. 

 

Depois, em 1906, passou a anotar as fórmulas de seu uísque ao lado de frases de grandes escritores, como William Shakespeare. Três anos depois, quando o empreendimento começou a se estabilizar, William incumbiu seu genro, Charles Gordon, de visitar vários países para divulgar o Grant’s. Ele só conseguiu sua primeira venda depois de 180 tentativas. Após 100 anos dessa epopeia, a destilaria William Grant & Sons Ltd. vende uísque para mais de 200 países, entre eles o Brasil. 

 

Para comemorar a efeméride, lançou o Grant’s 25 anos, um blended premium confeccionado com maltes raros de destilarias já extintas, em um jantar oferecido em Turnberry, Escócia, por Peter Gordon. Além do Grant’s, a destilaria produz os uísques 

 

Glenfiddich, The Balvenie e Tullamore, além do rum Sailor Jerry e do gim Hendrick’s. Apesar do lançamento de um destilado premium, como o Grant’s 25 anos – cuja garrafa custa 170 libras (R$ 500) –, a destilaria está mesmo é de olho no consumidor que, como seus produtos mais jovens (uísques 8 e 12 anos), também tem o frescor da idade e o ímpeto de estar sempre mudando e experimentando. 

 

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A chegada, aliás, desses uísques raros ajuda a levantar o nome desses “irmãos adolescentes”. Ao contrário da já citada vodca, o uísque envelheceu em todos os sentidos, inclusive na faixa etária de seu principal consumidor. Além desse barulho em torno da marca e do produto, outra saída encontrada para a reconquista de um público que já foi fã do destilado tem sido a coquetelaria.

 

“Hoje todas as destilarias se preocupam com essa retomada do mercado jovem e começam a focar em ações de marketing que promovam esse consumo. E os drinques são os grandes aliados nessa empreitada”, analisa André Duarte, representante do Grant’s no Brasil. 

 

Na Venezuela, país onde o consumo de uísque escocês cresceu 73% de 2008 para 2009, a moda é encher um copo de gelo picado e jorrar uma pequena quantidade de uísque. Na China, a bebida é misturada ao chá verde. Até os próprios escoceses também têm reinventado sua tradicional maneira de beber o principal produto de sua terra, misturando até refrigerante. 

 

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Por que tanta criatividade? Porque a vodca está ganhando novas cores e sabores, que embelezam seu visual e enfraquecem sua consistência para agradar ao paladar mais jovem. Outra estratégia da destilaria é o intercâmbio de seus experts pelo mundo. 

 

O francês Ludo Ducrocq, o embaixador global da destilaria, explica que, por causa da reconquista do mercado jovem, vai se inspirar em Charles Gordon e continuar sua epopeia. Ele diz qual é o primeiro país onde a divulgação da marca vai ganhar um incremento: “o Brasil”. 

 

A diretora global da destilaria, Kate Athanasi, também está impressionada como alguns brasileiros bebem uísque. “Adoro o jeito como vocês apreciam a bebida, misturada à água de coco.” 

 

 

A experiência escocesa de beber uísque

 

Degustar uísque na Escócia não é como no Brasil. Lá, eles colocam meia dose de uísque dentro de uma taça de cristal e derramam por cima um pouco de água mineral. O vapor entra no cérebro e relaxa a estrutura muscular. É a mesma sensação que se tem ao entrar na gigante destilaria, a duas horas de Glasgow, a capital escocesa. 

 

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De lá é possível ver no Atlântico a Ailsa Craig, uma montanha de granito e floresta próxima da praia da baia que leva o mesmo nome da rocha: Ailsa Bay. O privilegiado visitante começa o passeio pelas instalações da destilaria e presencia a produção completa do famoso destilado escocês, desde a fabricação dos barris de carvalho. No caminho, o whisky tecnologist Martin Purvis convida para duas doses de um Girvan que está dentro de um barril de carvalho desde 1964 e vale cerca de mil libras a garrafa. 

 

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O passeio continua na casa do poeta Robert Burns, próxima a Glasgow. Na Escócia, é comum apreciar uísque ouvindo os poemas de Burns.

 

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Depois de todo esse percurso, é hora do jantar no Turnberry, um dos mais sofisticados hotéis da Europa – a diária custa em torno de R$ 2,5 mil. Eles servem haggis, um prato feito de miúdos de ovelha ou vitela, com a bebida nacional para acompanhar: uísque escocês, claro.