28/08/2015 - 0:00
O Governo prepara o bote. Como não tem mais de onde tirar receita e a arrecadação vem caindo gradativamente pelo óbvio motivo da recessão econômica, ele tenta impor novos impostos. Ou aumentar os existentes. A estratégia ficou clara na semana passada em dois movimentos sutis. No primeiro, sob a alegação de simplificação tributária, ele levantou a hipótese de unificar o PIS e o Cofins, o que geraria, na prática, uma sobrecarga de quase R$ 50 bilhões nos pagamentos das empresas. Da mesma maneira, lançou um balão de ensaio sobre a possibilidade de recriação da CPMF, o famigerado imposto sobre os cheques. Nas duas iniciativas, foi prontamente rechaçado por representantes do setor produtivo. É de se perguntar como podem as autoridades formularem tamanho desatino? A ideia de arrancar mais dinheiro daqueles que enfrentam uma brutal queda de renda – por culpa e obra das decisões de Estado, diga-se de passagem – é um hábito recorrente na esfera federal. Na proposta orçamentária desenhada para o próximo ano estão previstas tungadas generosas, que podem afetar de maneira indiscriminada toda a sociedade. Na CPMF, estima-se que a mordida traria para os cofres oficiais algo da ordem de R$ 80 bilhões. Justamente o valor do rombo estimado nas contas da União. Repousa sobre o chamado “pilar fiscal” a maior parte do ajuste em andamento. Para não fugir da regra, o sacrifício tem de vir de fora da constelação estatal, onde reinam despesas extraordinárias e investimentos a rodo para acomodar as demandas políticas que dão base de sustentação a Dilma.
Para quebrar resistências e estimular a bondade empresarial, a presidente voltou a falar com representantes do PIB. Numa reunião de quatro horas na terça-feira, 25, com um time peso-pesado de empreendedores, pediu ajuda, bem ao seu estilo impositivo: “Estamos vivendo um momento difícil. Temos de sair disso juntos e todos têm de ajudar”, convocou. Ato contínuo, o vice-presidente, Michel Temer, mais cordato no trato, foi jantar em São Paulo com CEOs e executivos na sede da Fiesp. Falou em parceria. Há um consenso geral no setor privado que se o Governo não resolver cortar seriamente na própria carne nenhum ajuste será possível. Os empresários estão à espera dessa demonstração e acreditam que já contribuíram além da medida. A coleta de novos impostos, definitivamente, não é o melhor caminho.
Nota publicada na Edição 931 da Revista Dinheiro