De uma usina de cana-de-açúcar espera-se que produza álcool e açúcar. Mas isso deve começar a mudar a partir deste ano. O caldo de cana, extraído há centenas de anos nos engenhos brasileiros, dará origem a um leque cada vez maior de produtos, com valor agregado mais elevado que o das commodities tradicionais do setor. Bem-vindo à era da biotecnologia nos negócios sucroalcooleiros. Com ela, a cana poderá ser transformada em matéria-prima para sabão em pó, fragrâncias, cosméticos, lubrificantes automotivos e até mesmo óleo diesel. 

 

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“Não queríamos apenas vender a matéria-prima”

Fábio Venturelli, presidente do Grupo São Martinho 

 

E quem está liderando esse processo é o grupo São Martinho, de Pradópolis, no interior de São Paulo,  com receitas de R$ 1,3 bilhão na safra 2009/2010. O grupo é controlado pelos primos João, Nelson e Luiz Ometto – parentes de Rubens Ometto, dono da Cosan. 

 

Em 2012, o trio espera colocar no mercado um novo insumo, o farneseno. Feito a partir da fermentação do caldo da cana, o farneseno será produzido em uma fábrica que está sendo erguida em Pradópolis. 

 

A unidade ficará localizada no terreno da Usina São Martinho. A parceira dessa empreitada é a Amyris, gigante americana da área de biotecnologia, que recebeu investimentos da empresa de capital de risco brasileira Votorantim Novos Negócios. 

 

“Não queríamos apenas vender a matéria-prima”, disse à DINHEIRO Fábio Venturelli, presidente do grupo São Martinho. “Nossa intenção sempre foi fazer parte de todas as etapas do negócio até o cliente final.” A empresa resultante dessa sociedade foi batizada SMA Indústria Química. 

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Antes mesmo do lançamento da pedra fundamental da fábrica, previsto para este ano, toda a produção da primeira fase foi vendida para companhias como L’Óreal, Procter&Gamble e M&G, fabricante de garrafas PET. 

 

Elas integram a lista dos clientes que assinaram contratos de compra no total de 30 mil litros de farneseno. “É natural que um insumo desse tipo seja cobiçado primeiro por empresas que têm a sustentabilidade como um componente importante de sua estratégia de negócios”, diz Venturelli.  

 

“A L’Óreal, por exemplo, está há muito tempo buscando um creme de beleza sustentável.” A boa acolhida do mercado fez com que o clã Ometto   aumentasse a aposta nessa nova divisão. 

 

A partir de 2012, a meta é direcionar 11,7% de toda cana moída pela São Martinho para a fabricação de especialidades químicas. Na safra 2010/2011,  a companhia moeu 13,1 milhões de toneladas de cana. 

 

Seu plano estratégico prevê elevar esse montante para 30 milhões de toneladas por ano até a virada desta década. Ao mesmo tempo, a expansão permitirá atender também à crescente demanda do mercado local e do internacional por produtos tradicionais: açúcar, álcool e etanol. 

 

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Venturelli não revela qual será a participação da nova divisão, representada pela SMA, no faturamento do grupo. Segundo ele, o peso relativo dependerá de qual dos subprodutos, cujos preços são bastante distintos, será mais vendido. 

 

Mas não é difícil prever que o peso das linhas de produtos da nova divisão será expressivo: o litro do farneseno, por exemplo, vale cerca de 20 vezes mais que o do etanol, comercializado nos postos de combustíveis da cidade de São Paulo por cerca de R$ 1,80. 

 

Promissor, o filão de oportunidades geradas pela biotecnologia  não deverá ser explorado com exclusi-vidade pelos Ometto da São Martinho. A concorrência, por sinal, começa na própria família. 

 

A Cosan, do primo Rubens, anunciou em dezembro passado, parceria semelhante com a Amyris. Outras empresas do setor sucroalcooleiro que podem apostar as fichas nessa área são  a Guarani, controlada pelo grupo francês Tereos, e a Bunge.