31/10/2020 - 9:29
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou durante a campanha que deseja uma transição “tranquila” depois das eleições, mas foi ambíguo ao impor uma condição: “Mas tem que ser uma votação honesta”.
Há meses, Trump – que tentará a reeleição na terça-feira – tenta provocar dúvidas sobre a legitimidade das eleições.
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O presidente republicano questionou a validade dos votos por correio, deixou em dúvida se vai aceitar os resultados em caso de derrota para o democrata Joe Biden e foi vago a respeito de como aconteceria uma transição.
Nos Estados Unidos, a transição é particularmente longa, com um período de dois meses e meio entra a eleição e a posse.
Depois de uma campanha marcada por uma polarização que nunca havia sido observada, em meio a uma crise de saúde, não se sabe como seria articulada uma transferência de poder entre Trump e Biden.
– O que acontece durante uma transição? –
Durante a transição, a equipe que vai ocupar a Casa Branca, que ainda não tem as chaves, prepara um vínculo com o governo.
Martin Anderson, autor de “Revolution: The Reagan Legacy” (Revolução: O Legado de Reagan”), classifica o período de um “caos delicioso”.
O Centro para as Transições Presidenciais preparou uma lista que serve como guia para as agências governamentais que resume a tarefa titânica:
– Preencher as vagas na Casa Branca;
– Preparar quase 4.000 nomeações para postos chave, sendo 1.200 que precisam da confirmação pelo Senado;
– Organizar a gestão de mais de 100 de agências federais;
– Antecipar os primeiros 100 dias de mandato.
Joe Biden articulou uma equipe específica que, seguindo a tradição, arrecada fundos para trabalhar nesta fase e que, segundo o portal Politico, espera obter sete milhões de dólares para formar uma equipe de 350 pessoas.
– Se Trump perder, qual será sua atitude? –
É difícil prever o comportamento do 45º presidente da história dos Estados Unidos em caso de derrota.
A pergunta obrigou os analistas a examinar algumas declarações do presidente, seja para levar em conta o que ele diz ou para interpretar suas palavras sabendo que Trump gosta de provocar.
Para o veterano analista político Larry Sabato, da Universidade de Virginia, um fator importante será “a margem da vitória de Biden”, caso o democrata ganhe as eleições.
“Se Trump perder por uma ampla margem, para sei pesar ele vai fazer o mínimo esforço na transferência de poder”, acredita, mas em caso de resultados apertados, todos os cenários são possíveis, incluindo atos de violência.
Se os últimos quatro anos são um precedente, alguns apontam motivos para preocupação.
Uma coalizão de 12 organizações não governamentais escreveu uma carta aos Arquivos Nacionais para expressar seus temores.
“Estamos alarmados e profundamente preocupados com o fracasso do governo Trump no momento de honrar suas responsabilidades para criar e preservar documentos”, afirmam.
Outra pergunta provocada pelas dúvidas diz respeito ao que Trump fará nos 77 últimos dias no poder, em caso de derrota. A história está repleta de exemplos de perdões presidenciais polêmicos durante este período singular.
– A tradição e as tensões –
A lei estipula que o presidente eleito deve ter acesso amplo ao que precisar durante a transição, mas o no final das contas tudo depende da vontade do governo no poder e, em particular do presidente.
Neste ponto, às vezes as tensões da campanha não terminam da maneira como deveriam.
Uma anedota que persiste em Washington afirma que, quando Bill Clinton entregou o poder a George W. Bush entre o fim de 2000 e o início de 2001, a letra “W” havia sido danificada ou até mesmo arrancada de vários teclados de computadores da Casa Branca.
Ao mesmo tempo, a transferência de poder entre George W. Bush e Barack Obama, oito anos depois, é citada como exemplar, apesar das profundas divergências entre ambos.
Claramente, sempre é uma tarefa mais fácil para um presidente que conseguiu os dois mandatos e que deixa o poder sem ter sido derrotado nas urnas.
“Quando um presidente está planejando uma transição ao final de oito anos na presidência é mais fácil começar o planejamento com bastante antecedência”, explica à AFP Martha Kumar, acadêmica especializada no processo.
Na história recente, o presidente republicano que exerceu apenas um mandato, George H. W. Bush, virou um destaque por sua elegância na derrota, registrada em uma carta que deixou para o democrata Bill Clinton.
“Querido Bill, te desejo muita felicidade aqui. Eu nunca senti a solidão que alguns presidentes descreveram”, afirmou.
“Eu não sou muito bom para dar conselhos, simplesmente não deixe que os críticos o desanimem (…) O êxito de seu governo é o êxito de todo o país. De todo coração, desejo boa sorte”.
Se Trump perder, fica a pergunta se ele deixará uma carta para Biden e qual será o conteúdo.