Após dois pregões seguidos de alta, em que acumulou valorização de 1,34% e tocou o nível de R$ 5,00 em máxima intradia, o dólar à vista recuou na sessão desta terça-feira, 6, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Segundo operadores, o aumento do apetite ao risco, na esteira da perspectiva de estímulos ao consumo e ao mercado acionário na China, e o recuo das taxas dos Treasuries abriram espaço para ajustes e uma leve realização de lucros no mercado doméstico de câmbio.

Divulgada pela manhã, a ata do encontro do Copom na semana passada apenas reforçou a perspectiva de mais cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual nos próximos encontros do comitê do Banco Central. As rusgas entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o governo Lula em torno do Orçamento foram monitoradas pelos investidores, mas não tiveram papel relevante na formação da taxa de câmbio.

Com mínima a R$ 4,9512 e máxima a R$ 4,9809, o dólar à vista terminou o dia em baixa de 0,39%, cotado a R$ 4,9622. Apesar do refresco hoje, nos quatro primeiros pregões de fevereiro a moeda ainda sobe 0,50%. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para março teve giro razoável, acima de US$ 13 bilhões.

“A possibilidade de a China adotar medidas para dar impulso à economia trouxe mais apetite ao risco e ajudou o câmbio a ceder um pouco. Mas a preocupação com as chances de o Fed cortar os juros apenas no segundo trimestre, mais especificamente em junho, ainda não saiu do radar”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Ouribank, para quem não dá para dizer que há uma tendência de recuperação do real após a depreciação recente.

Referência do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY trabalhou em leve queda ao longo do dia, sem conseguir romper o piso de 104,000 pontos. As taxas dos Treasuries caíram em bloco, com o retorno da T-note de 10 anos recuando de 4,159% para menos de 4,10%.

Segundo analistas, passado o momento de “reprecificação” de ativos de risco em razão do rearranjo das apostas para o início de corte de juros nos Estados Unidos, que se deslocaram de março para maio, o dólar pode buscar uma acomodação, com possibilidade de devolução de parte dos ganhos acumulados recentemente.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, afirma que, após uma redução forte de posições vendidas de dólar futuro na semana passada, que resultou em diminuição parcial da exposição ao risco, o posicionamento técnico do mercado de câmbio melhorou. Na semana passada, os fundos locais compraram mais de US$ 3 bilhões em dólar futuro, reduzindo a posição vendida, que chegou a superar US$ 15 bilhões no fim do ano, para a casa de US$ 12 bilhões.

“Agora que a posição técnica está melhor, podemos ver o real se valorizar. Hoje e amanhã não temos dados de peso nos Estados Unidos. Na quinta-feira, temos o resultado dos pedidos de auxílio-desemprego, que podem mexer um pouco com os preços. Se o mercado de Treasuries ficar mais tranquilo, o dólar pode cair um pouco”, afirma Weigt.

Sem indicadores nos EUA hoje, investidores acompanharam falas de dirigentes do Banco Central americano ao longo do dia. Presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, que vota nas reuniões de política monetária do Banco Central americano, disse que a autoridade deve cortar os juros em algum momento neste ano, mas alertou que reduzir a taxa cedo demais ou muito rapidamente poderia comprometer as conquistas alcançadas no processo de desinflação.