Em meio a dificuldades econômicas, a petroquímica Unigel demitiu e recontratou 280 funcionários. Pressionada por investidores no Brasil e no exterior, a empresa tem realizado um processo de reestruturação financeira com o objetivo de impedir uma eventual recuperação judicial.

A informação sobre as demissões foi revelada pelo site Brasil 247 e confirmada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). A assessoria de imprensa da Unigel confirmou o movimento e informou que a ação foi tomada por causa de dificuldades operacionais que a empresa vem enfrentando, mas houve a recontratação dos quadros após pressão de sindicatos.

Questionada sobre a quantidade de funcionários, a assessoria de imprensa não confirmou o número exato de demitidos e recontratados. O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química, Petroquímica, Plástica e Farmacêutica do Estado da Bahia (Sindiquímica) e o Sindicato Unificado dos Trabalhadores Petroleiros, Petroquímicos, Químicos e Plásticos (Sindipetro) participaram das negociações para reverter as demissões nas fábricas de fertilizante nitrogenado (Fafens).

De acordo com o Sindiquímica, foram realizadas 280 demissões no dia 9 de fevereiro. Assim que tomado conhecimento dos fatos, o órgão entrou em negociação com a Unigel para reverter a ação. No dia 10 de fevereiro, a empresa recontratou todos os trabalhadores que haviam sido dispensados.

O Sindiquímica acrescentou que 148 trabalhadores foram demitidos e recontratados na unidade de Sergipe, em conjunto com 132 demissões que também foram revertidas em uma fábrica na Bahia. No total, 476 funcionários diretos trabalham nas duas plantas. A demissão em massa reduziria o quadro das duas unidades em 58,8% (em Sergipe, 70% dos funcionários foram demitidos e recontratados. Na Bahia, 50%).

Dificuldades

A Unigel é uma das maiores empresas químicas da América Latina e a maior produtora nacional de fertilizantes nitrogenados. A empresa tem enfrentado o ciclo de baixa mais desafiador de sua história em relação aos produtos que comercializa, visto que os fertilizantes nacionais enfrentam forte concorrência contra os importados.

No dia 29 de dezembro de 2023, a Unigel e a Petrobras firmaram um contrato de tolling (industrialização por encomenda), onde a estatal prevê o pagamento de R$ 759,2 milhões para que a petroquímica fique responsável pela produção, armazenagem, expedição, faturamento e pós-venda de fertilizantes. A negociação foi fechada em meio a dificuldades que a petroquímica vem enfrentando para manter a operação das duas plantas (de Sergipe e da Bahia) em atividade.

Em novembro, a Unigel chegou a colocar os 384 trabalhadores da fábrica de Camaçari, na Bahia, em aviso prévio e sinalizou um possível fechamento da planta. A parceria com a Petrobras por meio do contrato de tolling é tida como vital para garantir a continuidade das operações nas duas fábricas. No início de fevereiro, contudo, o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de irregularidades no acordo e exigiu explicações das duas empresas. O órgão fiscalizador avaliou que o contrato poderia causar um prejuízo de até R$ 487 milhões ao caixa da Petrobras.

A Unigel enfrenta ainda uma difícil negociação com investidores nacionais e internacionais. No Brasil, a empresa está sob o risco de pagar R$ 500 milhões em debêntures e tem realizado esforços para encontrar uma alternativa junto aos credores. No dia 14 de dezembro, a petroquímica obteve uma garantia cautelar para suspender eventuais execuções por 60 dias. O prazo, formalmente, termina nesta semana.

No fim de 2023, a Unigel divulgou os resultados operacionais referentes ao segundo e terceiro trimestre do ano anterior. A Deloitte, auditora independente, se absteve de dar uma conclusão sobre as demonstrações financeiras da empresa, mas avaliou existir “incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional da companhia”.