24/02/2015 - 8:15
A controladora da Souza Cruz, a British American Tobacco (BAT), planeja fechar o capital da fabricante brasileira de cigarros em uma operação que deve ultrapassar R$ 10 bilhões. Em fato relevante publicado na segunda-feira, 23, a Souza Cruz informou que sua sócia majoritária avalia uma possível oferta para adquirir a totalidade das ações em circulação da companhia.
Segundo a BAT, o eventual preço a ser pago por ação da Souza Cruz será de R$ 26,75, o que representa um prêmio de 13,1% sobre o valor do fechamento do papel da empresa na Bovespa na última sexta-feira, 20. Se concretizada a operação e se houver a adesão de todos os acionistas minoritários, a companhia inglesa desembolsará R$ 10,1 bilhão para adquirir a fatia de 24,74% da empresa brasileira. A BAT informou que pretende completar em até 30 dias todas as análises e considerações relevantes para continuar, ou não, com a oferta.
Do total de 24,74% em circulação no mercado, os acionistas minoritários possuem 19,74% e o fundo Aberdeen Asset Managers Limited detém 5%. Após o anúncio, as ações da fabricante brasileira dispararam e acabaram fechando o dia com valorização de 7,74%, a maior alta da Bovespa. No entanto, analistas recomendam cautela dos investidores ao comprar os papéis da companhia. Segundo análise da corretora Concórdia, é importante frisar que a definição sobre a realização da oferta está sujeita à obtenção de aprovações societárias e à finalização de um laudo por avaliador independente.
Já os analistas do Credit Suisse alertaram em comentário que o fato de os termos da oferta ainda estarem sujeitos a alguns fatores pode levar o papel da companhia a apresentar volatilidade. Eles opinam que o ativo pode registrar fortes variações diante de qualquer indicação a respeito dos termos da oferta ou até mesmo de que a oferta pode não se materializar.
Para um experiente estrategista, ao mesmo tempo em que o fechamento de capital da Souza Cruz não era esperado, a decisão não surpreende totalmente. Ele explica que o BAT já tinha fechado capital de outras empresas em outros países nos últimos anos. “A Souza Cruz deve ser uma das últimas que ainda restam com capital aberto no grupo”, afirma.
Além disso, acrescenta, a empresa não tem nenhuma grande necessidade de buscar o mercado de captais via ações e pode acessar financiamentos através da controladora. “Concentrar a listagem apenas no controlador (BAT) faz todo sentido para eles lá fora”, avalia.
O profissional ressalta ainda que a empresa vai fazer falta, já que será menos uma empresa listada na Bovespa. “Novos IPOs (oferta inicial de ações, em inglês) estão difíceis dado o atual momento adverso do Brasil. Então, há um risco de fechamentos superarem novas listagens, diminuindo o nosso mercado”, lembra.
Nos últimos 14 meses, apenas uma empresa abriu capital na Bolsa brasileira, a companhia do setor veterinário Ourofino, em outubro do ano passado. Segundo uma fonte de um banco que estrutura ofertas públicas iniciais de ações, o primeiro semestre já está sendo dado como perdido para novas operações de IPO, com algum otimismo para a janela de possibilidade de setembro, mas que ainda há muita incerteza se essa expectativa irá, de fato, se concretizar.
Fechamento de capital
A Souza Cruz já é vista como o primeiro anúncio do ano de empresas que podem fechar o capital em 2015. Com a percepção de que o ano não será fácil para o mercado de renda variável, muitas empresas podem acelerar o processo para saírem da Bolsa diante de preços de ações mais depreciados, de acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Se prosseguir com os planos, a Souza Cruz se unirá a outras que já possuem laudos e editais de oferta pública de ações (OPAs) registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) neste ano. Nesta lista estão GTD Participações, Cacique Café Solúvel, Indústria Verolme e SEB Participações. Outra empresa que já divulgou interesse em realizar a OPA é Providência, fabricante de não tecidos, mas teve em janeiro seu pedido suspenso pela CVM, até que estudos e análises adicionais forem concluídos.
Analistas lembram que Souza Cruz é uma clássica ação para estratégia defensiva, já que a companhia é apontada como uma boa pagadora de dividendos. Segundo um gestor, sem Souza Cruz, Petrobrás e elétricas, que já foram no passado vistas como boas opções em momentos ruins de mercado, fica mais difícil a busca de ações com perfil defensivo para composição do portfólio. No momento, destaca o gestor, restam opções do setor financeiro.
“O momento em que estamos é propício para vermos algumas companhias fechando capital, principalmente aquelas que têm boa geração de caixa, que não atuam em mercados com perspectiva de alto crescimento para os próximos anos, e que contem com outras alternativas de captação de recursos”, disse um advogado, especialista em mercado de capitais, de um grande escritório paulista.
No caso da Souza Cruz, uma fonte com conhecimento no assunto disse que o interesse da BAT, que possui capital aberto em Londres, em fechar o capital da controlada é antigo e que viu agora um bom momento para executar seus planos. “É importante lembrar que com a OPA, a BAT investirá mais R$ 10 bilhões e isso é confiança no negócio”, destacou a fonte.
O sócio de transações da Ernst & Young (EY), Sérgio Almeida, destaca que um momento de mercado mais fraco, com as ações de empresas depreciadas, pode incentivar as que veem no fechamento de capital uma estratégia de longo prazo.Para Carlos Lobo, sócio da área de mercado de capitais do Veirano Advogados, o movimento de fechamento de capital neste ano poderá partir tanto por iniciativa do controlador, caso da Souza Cruz, como também por conta de aquisição estratégica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.