Em pregão morno, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira 4, em baixa de 0,12%, cotado a R$ 4,9348. Houve oscilação de menos de quatro centavos entre mínima (R$ 4,9082) e máxima (R$ 4,9430), ambas pela manhã. Com as bolsas norte-americanas e o mercado de Treasuries fechados, em razão de feriado do Dia do Trabalho (Labor Day) nos Estados Unidos, a liquidez foi bem reduzida.

Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para outubro movimentou menos de US$ 6 bilhões.

Operadores atribuíram a leve apreciação do real a ajustes de posições e movimentos de realização de lucros, após a alta de 1,33% da moeda na semana passada. A favor da moeda brasileira no curto prazo, analistas citam as expectativas em torno de anúncio de novas medidas de estímulos à atividade na China e a redução de temores de quebradeira no setor imobiliário. A incorporadora chinesa Country Garden escapou da falência ao renegociar suas dívidas.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em leve queda ao longo do dia, mas ainda em níveis elevados, acima dos 104,000 pontos. A moeda americana apresentou comportamento misto em relação ao grupo formado por divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Pares do real como peso mexicano, peso colombiano e, principalmente, o rand sul-africano amargaram perdas.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que as medidas recentes de estímulo econômico na China favoreceram os preços das commodities e contribuíram para evitar uma alta mais forte do dólar por aqui na semana passada. “Se tem algo que tem segurado um pouco a moeda é a China com essas medidas. Por outro lado, a pressão que vem dos Estados Unidos, com as taxas dos Treasuries em alta, continua prejudicando o real”, afirma Lima.

Segundo o economista, a formação da taxa de câmbio no Brasil ao longo de agosto, em especial na primeira quinzena do mês, foi dominada pela dinâmica das taxas dos Treasuries, que subiram bastante. Na reta final de agosto, o chamado “risco idiossincrático”, representado pelas dúvidas em torno do cumprimento das metas fiscais domésticas, ganhou momentaneamente certo protagonismo.

Para Lima, as moedas emergentes e, por tabela, o real seguem ameaçados neste mês pelo risco de nova arrancada dos retornos dos títulos americanos, diante da possibilidade de indicadores ainda fortes nos EUA e da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) mantenha a taxa básica elevada por mais tempo.

“Se as taxas dos Treasuries se acalmarem, mesmo que em patamares altos, pode haver um respiro para o real, mas não muito grande”, diz Lima, ressaltando que, por aqui, o governo vai enfrentar resistências política para aprovar medidas que ampliem a receita e garantam o cumprimento da meta de déficit primário zero em relação ao PIB no ano que vem. “Já partimos de um patamar de gasto elevado neste ano. O governo não quer mudar a meta no Orçamento. O tamanho do contingenciamento no ano que vem vai ter que ser muito grande.”

A CNN Brasil noticiou que a equipe econômica cogita ressuscitar uma ideia do governo Jair Bolsonaro de antecipar receitas do pré-sal como “plano B” para atingir a meta de déficit zero em 2024. Segundo a reportagem, a proposta está sendo avaliada com cautela e é tida como último recurso para evitar déficit no ano que vem.

O potencial de arrecadação é estimado em, pelo menos, R$ 150 bilhões. Na lei orçamentária de 2024, entregue ao Congresso na semana passada, o governo estima elevar as receitas em R$ 168 bilhões para cumprir a meta fiscal.