Menos de um mês após assumir, o novo subprefeito da Sé, coronel Alvaro Camilo, diz que vai intensificar ações de zeladoria e quer manter o plano de desmontar barracas usadas pela população de rua durante o dia – medida que recebeu críticas e foi barrada por liminar. A Justiça cobrou dados e plano de acolhimento dos sem-teto.

“A gestão já vinha fazendo isso. O que nos comprometemos a fazer é aumentar essas ações em locais onde está ficando muita coisa”, disse, em entrevista ao Estadão. A remoção, afirmou, visa a diminuir a “desordem” no centro e tornar mais efetivas ações de segurança. A dispersão da Cracolândia no último ano, para ele, facilitou internar os usuários, mas resultou em outros problemas – como sensação maior de insegurança e espalhamento da sujeira em alguns pontos. “O lixo é o grande problema da região central”, disse Camilo, que foi secretário executivo da Polícia Militar até o fim de 2022. Leia os principais trechos:

A Justiça barrou a remoção das barracas de sem-teto na rua. O que vai fazer?

Houve interpretação equivocada. Há três grupos com tratamentos diferentes: 1º) pessoa em situação de rua, que merece acolhimento – a Prefeitura tem mais de dez programas, como a Vila Reencontro -; 2º) a Cracolândia, com pessoas que precisam de auxílio, prioritariamente de saúde – há o programa Redenção, Siat (acolhida terapêutica), proteção continuada -; e 3º) o infrator, caso de polícia. Sobre barraca: o pessoal da Cracolândia monta tendas que até abandonam. Onde há mais barraca? Na situação de rua. De forma equivocada, associaram ações que falei que poderiam ser feitas contra dependentes da Cracolândia (ele já defendeu munição química, como gás lacrimogêneo, na área de uso de droga, mas diz que essa é prerrogativa da polícia, não da Prefeitura) com a população de rua. Como subprefeitura, entro apoiando principalmente a limpeza: 22 toneladas de lixo são retiradas por dia na Cracolândia. No centro, de 600 a 650 toneladas. (Dos sem-teto), na realidade, não retiramos a barraca. Falamos para tirar para limpar, até para deixar mais sadio. Ali tem doença, tudo. Que desmonte e não monte durante dia. Foi permitido (manter a tenda) na pandemia; antes não podia. A ideia é retomar (o veto), pois as barracas causam um ambiente de degradação.

Mas melhorar a limpeza passa necessariamente por remover as barracas?

Sim. Quando desmonta, fica tudo visível. A assistente social vai um dia antes, fala com eles: ‘vai ter zeladoria amanhã. Não querem acolhimento? Tem essas opções’. Alguns vão. No dia seguinte, na limpeza. Pedimos para desmontar a barraca, a maioria desmonta. Saem do local e ficam não muito longe. Ali, fica o lixo. Tira, lava, para deixar o ambiente sadio, e (os sem-teto) voltam. Cria sentimento diferente, aumenta de novo a autoestima. Fazemos em toda a cidade normalmente, mas onde tem barraca estamos impedidos pela decisão judicial. Há 20 mil vagas (de acolhimento da população vulnerável) para serem usadas.

E haverá 32 mil vagas de acolhimento (tamanho da população de rua estimada na cidade)? Até quando?

O prefeito (Ricardo Nunes) trabalha para que, ainda na gestão dele, isso aconteça. A cidade aumenta a cada dia. Não justifica a pessoa ficar (na barraca de dia), com todo o acolhimento que a cidade oferece. É mais digno ir para o acolhimento do que a rua. Não está em vulnerabilidade e tem dignidade.

E o lixo aumentou?

Com a diluição de pessoas em situação de rua, aumentou a distribuição de comida, e até pela pandemia, não era em lugar digno. Agora (o atendimento organizado) volta, dentro do Bom Prato. Mas, na época, se dava marmita e comia na rua. Infelizmente, num comportamento de descartar em qualquer lugar. Tem lugar que limpamos três, cinco vezes, principalmente na Cracolândia. Como eles não têm noção de viver em comunidade, é aquele jeito. Estamos fazendo um trabalho também de mudar horário, conversar com comerciantes para não por lixo na rua, ser entregue no caminhão, ir para cooperativa. O lixo é o grande problema da região central.

Em 2022, roubos e furtos cresciam mais na área central do que nos subúrbios. Pelos dados recentes, isso se mantém. O que fazer?

Prevenção primária. Num local iluminado, sem pichação, sem desordem urbana, o infrator fica com receio, pois está visível e pode ser pego. O contrário também é verdadeiro: um ambiente degradado, pichado, com camelôs irregulares, lixo, fica mais fácil para praticar crime e se esconder.

Há arrastões em Santa Cecília, gangues de bicicleta na República…

A ideia é ter mais PMs trabalhando para Prefeitura (Operação Delegada) em regiões de aglomeração. Largo de Santa Cecília, 25 de Março, Rua José Paulino. Aumentar o número de policiais na fiscalização do comércio irregular. Inibe gangues, não só a pé, mas de bicicleta. Eram 1,2 mil vagas (para PMs). O prefeito, há 10 dias, aumentou para 2,4 mil. As primeiras 1,2 mil são usadas por 19 subprefeituras e a ideia é que as outras 1,2 mil sejam para a região central, não só na sub da Sé, mas Mooca, Vila Mariana.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.