Às 21h30 do sábado, 14, a fila de carros já dava a volta no terreno do Memorial da América Latina, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista. Com 14 drive thrus e 3 megapostos preparados para atravessar a madrugada, a “Virada da Vacina” da Prefeitura conseguiu atrair milhares de jovens de 18 a 21 anos que chegavam a aguardar mais de duas horas nos veículos para receber a primeira dose do imunizante anticovid. Foi aplicado um total de 471.421 doses, segundo a Prefeitura.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) contratou 440 artistas, entre animadores, pernas de pau e DJs, para interagir com o público e animar o evento de imunização. Variado, o repertório tinha clima de festa e incluía músicas eletrônicas, axé e astros do universo pop, como Anitta, Pabllo Vittar e Britney Spears. Para evitar aglomerações, no entanto, era proibido sair do carro. A medida foi respeitada nos locais visitados pelo Estadão, exceto por um ou outro que saía para fazer selfie, mas voltava rapidamente.

“A ideia de passar a madrugada vacinando é muito legal”, aprovou a estudante Sthefany Paes, de 19 anos. Acompanhada por três amigos, ela enfrentou uma fila de 2h30 e não escondeu a alegria quando finalmente recebeu a agulha no braço. “Eu estava muito ansiosa. É um momento de muita felicidade e, ao mesmo tempo, de se sensibilizar com o outro. Não dá para deixar de pensar nas pessoas que se foram”, disse. A jovem perdeu um tio para o vírus.

Só nas primeiras dez horas do sábado foram aplicadas 238 mil doses. Segundo a Prefeitura, trata-se do recorde de vacinas em um dia desde o início da campanha contra a covid. A alta adesão também era constatada pela plataforma De Olho na Fila, criada para informar a situação dos postos de saúde em tempo real. Às 23h30, 11 drive thrus abertos eram classificados com “fila grande”, dois com “fila média” e apenas um “sem fila”.

Apesar da demora, a atmosfera do público era predominantemente de satisfação. As queixas só apareciam se algum veículo tentava entrar na frente ou quando os enfermeiros atendiam pessoas que aparentavam ter mais de 21 anos – motivo pelo qual uma motorista, sozinha, chegou a tentar promover um “buzinaço” de protesto no Memorial. A Prefeitura alertou, porém, que a aplicação de segunda dose estava autorizada.

No Anhembi, na zona norte, o número de veículos começou a crescer a partir das 18 horas e o congestionamento chegou à Marginal do Tietê. “Tenho sentido uma receptividade muito grande”, afirmou a palhaça Tetê Purezempla que, empoleirada em pernas de pau, brincava com quem chegava para se vacinar no drive thru.

Nas interações, só não valia perguntar sobre a pandemia. “Evito, porque a gente não sabe as dificuldades que cada um passou nem como está lidando com isso”, argumentou ela. “Para mim, embora não tenha perdido ninguém próximo e reconheça alguns privilégios, é muito difícil. Falta trabalho. Para conseguir sobreviver financeiramente, está igual a essa perna de pau: ‘Opa, vou cair… Só que não’.”

Em isolamento há um ano e cinco meses, a estudante Líris Tavares, de 18 anos, se emocionou ao receber a vacina contra o coronavírus. “É um privilégio poder estar aqui, muitas pessoas não tiveram essa oportunidade”, disse. “Faz muito tempo que eu não abraço aqueles que eu amo: meus tios, minhas tias, meus primos. Sei que, fazendo isso, estou protegendo as outras pessoas também.”

Balanço

A capital paulista atingiu 12.531.598 de imunizantes aplicados desde o início da campanha – com 8,7 milhões de primeiras doses. Os índices de cobertura vacinal chegaram a 98,5% (primeira dose e dose única) e 40,7% (ciclo completo). Para o grupo de 18 a 19 anos, a capital atingiu 60,2% neste fim de semana. De 20 a 24 anos, está em 80,4%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.