03/12/2010 - 7:00
DINHEIRO ? O sr. acaba de assumir a gestão da Google TV. O que podemos esperar?
MÁRIO QUEIROZ ? A Google TV combina o poder da busca, um navegador completo, aplicativos Android e a experiência de televisão, que as pessoas amam e já possuem. Isso é uma inovação. É diferente de outras soluções de internet na tevê. Nossa proposta é mais integrada e simples.
DINHEIRO ? E quando a Google TV chega ao Brasil?
QUEIROZ ? Não posso comentar sobre isso. Mas o mundo vai conhecer a Google TV em 2011 e temos o interesse em trazê-la para o Brasil o quanto antes. Quando formos considerar novos países, isso vai depender de parcerias com as emissoras, fabricantes de hardware, varejistas e produtoras de conteúdo. Uma das razões da minha visita ao Brasil é iniciar as conversas com potenciais parceiros. Mas o mais importante é que a internet começa a ser acessada pela televisão. No máximo em três anos, todas as televisões vão ter um navegador de internet incorporado. As emissoras de tevê precisam se preparar para essa nova era de conteûdo.
DINHEIRO ? Nos Estados Unidos, algumas das principais emissoras bloquearam o acesso via Google TV ao seu conteúdo online. Por quê?
QUEIROZ ? Nosso objetivo é encontrar a melhor forma de permitir essa integração entre tevê e internet tanto para o usuário como para os parceiros. E as emissoras e qualquer site podem bloquear isso. Mas achamos que o acesso à internet sem restrições e de forma completa é melhor para o usuário e permite ainda que os donos do conteúdo possam produzir material complementar online.
DINHEIRO ? O receio das emissoras é quanto à rentabilidade do modelo de negócios? Afinal, quase toda a receita delas ainda vem da televisão e não da internet.
QUEIROZ ? Estamos no início disso tudo. São os primeiros minutos do primeiro tempo de uma longa partida. Estamos todos aprendendo como isso vai se desenvolver. Mas já há muitas grandes empresas de mídia e emissoras nos Estados Unidos, como a Turner, a Time Warner, a NBA, a HBO, que não só oferecem seu conteúdo como desenvolveram aplicativos com novos recursos inovadores.
“A Google TV combina o poder da busca com a experiência de tevê, que as pessoas possuem”
Executivo da Sony lança primeira tevê com software do Google nos EUA
DINHEIRO ? As ações do Google estão em níveis similares aos do começo do ano. E muitos analistas têm dito que a empresa precisa de uma nova fonte de renda além das buscas. Entre Android e Google TV, qual deles têm esse potencial?
QUEIROZ ? Os dois têm potenciais imensos, mas são apenas duas de muitas apostas do Google. Continuamos a investir muito em buscas e publicidade. E temos lançado muitas inovações nesta área. Uma das últimas foi a Google Instant (em que o resultado da busca aparece enquanto o usuário escreve sua busca), que é incrível. É algo que algum concorrente não pode copiar em um fim de semana. A base de engenharia por trás disso ilustra a capacidade que a companhia tem para continuar inovando. A área de banners, chamadas também de display, e a de publicidade móvel estão se tornando grandes negócios de bilhões de dólares muito rapidamente.
DINHEIRO ? O sr. também está envolvido com a estratégia do YouTube?
QUEIROZ ? O YouTube é um negócio enorme em termos de número de usuários e de vídeos vistos diariamente. Temos um projeto de extensão da plataforma do YouTube para gerenciamento de vídeos, que vai poder ser usado por companhias de mídia integradas com a Google TV. São negócios que fazem parte da nossa estratégia de longo prazo. Mas o ponto principal do YouTube é o seu próprio crescimento, inclusive de receita. Ele já é um negócio grande.
DINHEIRO ? Eric Schmidt, CEO do Google, já disse que o futuro da tecnologia está na mobilidade. Como foi estar à frente de uma área estratégica?
QUEIROZ ? O crescimento do Android é um dos maiores sucessos em todos os tempos em termos de plataforma tecnológica. O número de telefones ativados com o nosso sistema operacional diariamente passa dos 200 mil. Somos líderes nos Estados Unidos e logo seremos em todo o mundo. O Android é usado em 96 aparelhos de 22 fabricantes, vendidos em 49 países por 59 operadoras. O número de aplicativos no Android Market, loja de aplicativos do Android, saltou de 20 mil em fevereiro deste ano para mais de 100 mil neste mês. Contribuir para tudo isso foi realmente incrível.
“Consumidores preferem ver e tocar o celular em uma loja antes de comprar”
Nexus One, celular do Google vendido online que foi descontinuado
DINHEIRO ? O Android já é a plataforma ideal para tablets?
QUEIROZ ? As empresas de hardware podem implementar o Android em diferentes formatos, mas creio que o software pode melhorar muito ainda para atender produtos com telas maiores, como os tablets. Temos muitos projetos nesse sentido.
DINHEIRO ? Com a evolução dos smartphones e o surgimento dos tablets, o PC está ameaçado?
QUEIROZ ? Acredito que vamos ter diferentes aparelhos para cada uso ao longo do dia. A internet móvel será maior que a web no desktop, mas isso não quer dizer que o PC vai desaparecer. O smartphone vai se tornar cada vez mais importante, com novas maneiras de interação, como viva voz. Não queremos restringir a escolha das pessoas e sim levar a experiência plena da internet e do Google para o maior número de dispositivos, inclusive a tevê, com a Google TV.
DINHEIRO ? Quais as diferenças entre a web móvel e a web do PC?
QUEIROZ ? Ela é diferente de incontáveis maneiras. E esse é um dos motivos de trabalharmos com uma plataforma aberta. Acreditamos que os desenvolvedores de todo o mundo podem ir além do que estamos fazendo. Mas a web móvel é diferente principalmente de duas maneiras. Primeiro, estamos sempre acessando a web pelo celular. Segundo, o tipo de acesso é muito mais pessoal. Os novos aparelhos têm recursos como GPS, acelerômetro e câmera. Isso abre uma infinidade de possibilidades.
DINHEIRO ? E qual o papel da computação em nuvem neste contexto?
QUEIROZ ? A computação em nuvem é crucial. Sem ela, os aparelhos móveis não seriam tão atraentes. A nuvem é a web e você não precisa armazenar tudo em um hardware. Se você perder seu celular Android hoje, pode comprar outro e recuperar praticamente tudo. O hardware deve mudar muito nos próximos anos, mas as possibilidades realmente revolucionárias estão nessa integração cada vez maior dos aparelhos com aplicações e recursos que estão na internet. E isso está apenas começando.
DINHEIRO ? O Android é um software, mas em janeiro deste ano o Google lançou um celular de marca própria: o Nexus One. Por quê?
QUEIROZ ? Por duas razões. A primeira era estabelecer um novo patamar de desempenho para aparelhos Android. Não estávamos satisfeitos com o nível de qualidade e performance dos celulares lançados até então. Acho que fomos muito bem-sucedidos nisso, já que a qualidade atual é realmente muito superior. A segunda era fazer uma experiência de venda online direta ao consumidor. E descobrimos que as pessoas preferem ver e tocar o aparelho em uma loja antes de comprá-lo.
DINHEIRO ? O Nexus One foi descontinuado, mas há a previsão de outro modelo próprio?
QUEIROZ ? Ele se tornou um telefone para desenvolvedores, que vai continuar a receber atualizações de software normalmente. Quanto a outro aparelho nos moldes do Nexus One, não posso comentar sobre produtos não lançados. Mas o nosso objetivo é sempre promover e fortalecer o desenvolvimento do nosso ecossistema de parceiros.
DINHEIRO ? Havia o intuito de tornar a área de mobilidade mais rentável com o Nexus One, afinal o Android é gratuito?
QUEIROZ ? O negócio do Google é de software e serviços pela internet. Nosso modelo de negócios é de que quanto mais pessoas online melhor para o Google. Temos uma forma de ganhar dinheiro com o uso da web que é muito bem-sucedida. E estamos sempre procurando novas formas de publicidade e de atrair mais pessoas para a internet.
DINHEIRO ? Há pouco mais de um ano Chad Hurley, fundador e então CEO do YouTube (comprado pelo Google em 2006), disse que o iPhone oferece uma experiência mais completa do que os modelos Android. Hoje o sr. acha que isso já mudou?
QUEIROZ ? Sem dúvida. E esse era um dos nossos objetivos com o lançamento do Nexus One. Nossa relação com os fabricantes de celulares é muito próxima e há uma série de requisitos que os aparelhos têm que atender para receber os serviços do Google. E hoje já chegamos a um patamar de integração hardware e software que oferece uma experiência muito boa para os consumidores.