A chanceler alemã Angela Merkel defendeu, nesta sexta-feira (20), o diálogo com a Rússia, apesar de suas “diferenças profundas”, em um encontro com o presidente Vladimir Putin durante sua última visita a Moscou antes de deixar o poder nos próximos meses.

A viagem ocorre exatamente um ano depois do envenenamento, atribuído às autoridades russas, do opositor Alexei Navalny, que foi atendido e tratado na Alemanha, mas voltou para a Rússia, onde foi novamente preso.

Depois de depositar uma oferenda de flores no túmulo do soldado desconhecido em Moscou, a chanceler foi recebida no Kremlin pelo próprio Vladimir Putin, que a esperava com um buquê de flores.

“Embora tenhamos profundas divergências, conversamos. E isto deve continuar assim”, disse Merkel, que em seus 16 anos de mandato manteve uma relação complexa e ambígua com o presidente russo.

A chanceler afirmou que havia muitas questões para tratar durante o encontro, como a situação no Afeganistão ou as relações bilaterais, mas não mencionou o caso de Navalny.

Putin afirmou que não é simplesmente uma visita de adeus e sim um encontro “sério” entre dois veteranos da política europeia, porque “muitas questões devem ser discutidas”.

Após a reunião está programada uma coletiva de imprensa conjunta.

Merkel, que fala russo e cresceu na Alemanha Oriental, e Putin, que fala alemão pelos seus anos de serviço na KGB na Alemanha Oriental, sempre reivindicaram ter estabelecido uma verdadeira relação de trabalho, apesar de suas diferenças.

Desde 2005, quando a chanceler chegou ao poder, eles discutiram arduamente ou com ironia sobre muitos temas, desde a Síria até Ucrânia ou Belarus, passando pelos ciberataques atribuídos por Berlim a Moscou ou o envenenamento de Navalny.

No entanto, o diálogo nunca foi completamente interrompido entre esses dois veteranos do cenário internacional.

Também estará sobre a mesa a questão do Afeganistão, um assunto sobre o qual Rússia e Alemanha mantêm posicionamentos diferentes.

Merkel considerou a situação “amarga, dramática e terrível”. Já o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, afirmou na terça-feira que os talibãs enviaram sinais “positivos” sobre a liberdade de opinião.

Nesta 20ª viagem oficial à Rússia, Merkel encerra a relação com a constatação do fracasso em um assunto que estabeleceu como prioridade: a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia, em ponto morto.

A chanceler alemã viajará no domingo para Kiev, onde se reunirá com o presidente Volodimir Zelenski.