18/01/2025 - 16:53
Primeiro-ministro de Israel fala em atraso por parte do Hamas e do Catar em divulgar nomes de reféns a serem liberados; organizações humanitárias se mobilizam para prestar ajuda e prevêm cenário de caos.Mesmo com um cessar-fogo à vista, ataques israelenses em Gaza continuaram neste sábado (18/01). O Ministério da Saúde do território informou que 23 corpos foram levados para hospitais, vítimas de bombardeios.
Na sexta-feira, o serviço de emergência civil palestino informou que 116 palestinos, quase 60 deles mulheres e crianças, foram mortos em Gaza desde que o acordo foi anunciado na quarta-feira, antes de sua aprovação no sábado pelo governo israelense.
“O que é essa trégua que nos mata horas antes de começar?” disse à Associated Press Abdallah Al-Aqad, irmão de uma mulher morta num ataque aéreo em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.
O exército israelense disse ter interceptado dois mísseis lançados do Iêmen em direção a Israel neste sábado. Os rebeldes houthis, que controlam grande parte do Iêmen, anunciaram que combateriam “violações ou escalada militar” por parte de Israel durante o período de cessar-fogo.
Atraso na lista dos reféns
O primeiro-ministro de israelense, Benjamin Netanyahu, alertou no fim da tarde de sábado que o cessar-fogo em Gaza só avançaria se ele recebesse a lista com os nomes dos reféns que serão libertados pelo Hamas, como fora acordado. A trégua na guerra que durou 15 meses está prevista para começar neste domingo às 8h30, horário local.
O grupo extremista palestino se comprometeu a informar ao mediador do acordo, o Catar, os nomes desses prisioneiros, o que não aconteceu na hora combinada, segundo o governo israelense, que espera a confirmação de quem ainda está vivo.
Desde o anúncio da ratificação do acordo, nas primeiras horas de sábado, famílias dos reféns detidos em Gaza se preparam para ter notícias de seus entes, e palestinos se organizam para receber familiares libertados.
Centenas de milhares de palestinos que foram deslocados à força de suas casas pelas forças israelenses agora esperam retornar ao que resta de suas casas ou para reconhecer corpos dos escombros. Grupos humanitários também se articulam para viabilizar ajuda.
O acordo de cessar-fogo estipula que os reféns mantidos em Gaza sejam trocados por prisioneiros palestinos mantidos por Israel durante várias fases.
Como estão previstas as trocas de reféns
Na primeira fase, 33 reféns em Gaza deverão ser libertados ao longo de seis semanas em troca de 737 prisioneiros mantidos por Israel. O Ministério da Justiça israelense publicou uma lista de prisioneiros – todos os menores de 19 e todas as mulheres estão incluídos nessa primeira etapa.
A primeira troca está prevista para começar às 16h deste domingo – o acordo diz que três reféns mulheres vivas serão devolvidas. No sétimo dia, quatro, e os demais nas cinco semanas seguintes.
Durante cada troca, prisioneiros palestinos serão libertados por Israel após os reféns chegarem com segurança.
Também serão libertados 1.167 residentes de Gaza que não estiveram envolvidos nos ataques de 7 de outubro de 2023, que deram início à guerra.
Todas as mulheres e crianças menores de 19 anos de Gaza detidas por Israel serão libertadas durante a primeira fase.
Os outros reféns em Gaza, incluindo soldados homens, serão contemplados em uma segunda fase a ser negociada durante a primeira.
Também durante a primeira fase do cessar-fogo, a presença das tropas israelenses deverá se restringir a uma zona tampão com cerca de um quilômetro de largura dentro de Gaza, ao longo de suas fronteiras com Israel.
Isso permitirá que muitos palestinos deslocados retornem às suas casas, como na Cidade de Gaza e no norte, em grande parte isolado e devastado.
Com a maior parte da população de Gaza abrigada em enormes e miseráveis acampamentos de tendas, os palestinos estão desesperados para voltar para suas casas, embora muitas tenham sido destruídas ou gravemente danificadas.
Ajuda humanitária
O Egito inpecionou a passagem de fronteira de Rafah com Gaza e uma área de logística onde cerca de 600 caminhões de ajuda estão estacionados, disseram autoridades locais.
Autoridades também visitaram hospitais e instalações médicas no norte do Sinai que estão se preparando para receber os feridos de Gaza.
Agências humanitárias em Gaza estão se preparando para um cenário caótico nesta semana, enquanto centenas de milhares de pessoas tentam retornar para suas casas.
Em maio passado, Israel assumiu o controle do lado de Gaza da passagem de fronteira de Rafah com o Egito em uma operação que interrompeu as entregas de ajuda.
De acordo com o acordo de cessar-fogo, a passagem de Rafah será aberta na primeira fase do plano, mas o exército israelense não se retirará de lá.
Acordo “precário”
Para Mairav Zonszein, analista sênior do International Crisis Group, o cessar-fogo programado para amanhã é muito “precário”, e que os Estados Unidos desempenharão um papel importante para garantir que ele seja mantido.
“Gostaríamos que ele entrasse em vigor amanhã de manhã. Isso já será um grande alívio”, disse à DW.
Netanyahu afirmou que tanto o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que assume o cargo nesta segunda-feira (20/01), quanto Joe Biden, deram aval para que Israel volte a lutar em Gaza se os próximos estágios do acordo não forem cumpridos.
Netanyahu afirmou que a primeira estapa da trégua será temporária, acrescentando: “Se tivermos que voltar a lutar, faremos isso de maneiras novas e vigorosas”.
“Espero que Trump, por ter investido tanto capital político para fechar um acordo, também se envolva em sua manutenção”, afirmou Mairav Zonszein.
sf (AP, DW)