Embaixador da Alemanha em Israel, Steffen Seibert diz que colonos vêm “assediando e atacando” comunidades palestinas e que isso “precisa parar”. Episódios violentos na região cresceram nos últimos dois anos, aponta ONU.O embaixador da Alemanha em Israel condenou nesta sexta-feira (04/07) a onda de agressões de colonos judeus contra palestinos na Cisjordânia ocupada.

“A violência de colonos extremistas não é apenas repreensível quando eles atacam reservistas das [Forças de Defesa de Israel]. Eles assediam e atacam comunidades palestinas regularmente, e isso precisa parar”, publicou Steffen Seibert em inglês na rede X.

O embaixador fez o comentário ao compartilhar uma publicação feita por Oliver Owcza, chefe da missão diplomática alemã em Ramallah, cidade da Cisjordânia.

“O aumento da violência dos colonos e a pressão resultante sobre as comunidades locais levaram a um número crescente de deslocamentos”, escreveu Owcza. “Isso viola direitos essenciais dessas comunidades e precisa parar com urgência.”

Violência aumenta de forma “significativa”, diz ONU

Desde o ofensiva terrorista cometida pelo grupo palestino Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, e o consequente conflito em Gaza, o outro território palestino, colonos judeus intensificaram de forma “significativa” os ataques contra palestinos na Cisjordânia, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Os grupos são acusados de invadir repetidamente vilarejos palestinos portando armas de fogo, tacos de beisebol e pedras, incendiando casas e carros, além de campos e olivais.

Há relatos de famílias inteiras expulsas de suas casas durante a noite. Em outros casos, colonos uniformizados como soldados atacam cisternas de água, e bloqueiam vias de acesso para inviabilizar o sustento de agricultores palestinos e forçá-los a sair.

Atuação das Forças de Defesa de Israel é considerada insuficiente

A mídia israelense e testemunhas oculares relatam que as forças armadas israelenses estão intervindo cada vez menos para evitar estes embates. Muitas vezes, dando apoio aos agressores.

“Durante anos os militares não agiram para proteger os palestinos, mas desde o 7 de outubro, quando a guerra começou, temos uma realidade onde as equipes de resposta rápida dos assentamentos, os colonos daqui, foram recrutadas como reservistas, e agora estão uniformizados, armados e totalmente equipados, com a autoridade de soldados”, disse Yehuda Shaul, um ativista israelense, à DW, em novembro de 2023.

Conflitos entre colonos e as Forças de Defesa de Israel também são registrados. Há menos de uma semana, colonos extremistas chegaram a atacar uma instalação militar israelense e atearam fogo no local. O ministro da Defesa, Israel Katz, defensor da ampliação de assentamentos, condenou veementemente as ações dos colonos.

Israel expande assentamentos

A escalada de violência acontece enquanto o governo israelense anuncia novos assentamentos na região. Em maio, o ministro das Finanças de Israel, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, afirmou que 22 novas colônias judaicas seriam criadas na Cisjordânia, marcando a maior expansão nesse território palestino em três décadas.

A expansão é defendida por políticos israelenses como uma forma de fortalecer o domínio sobre a região. “Não estamos tomando terras estrangeiras, mas a herança de nossos ancestrais”, disse Smotrich na ocasião.

As colônias ou assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental têm se expandido constantemente desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel passou a ocupar os territórios, onde vivem cerca de 3 milhões de palestinos. Contudo, o ritmo de ampliação das colônias havia diminuído até o início do conflito mais recente entre Israel e Hamas.

Há também mais de uma centena de colônias não oficiais, conhecidas como “postos avançados”, que normalmente são instalados por colonos sem endosso oficial do governo israelense. Nestes locais a violência armada costuma ser mais presente e muitos destes postos se posteriormente recebem a chancela de Tel Aviv.

Ações violentas de colonos extremistas, especialmente no estabelecimento dos “postos avançados”, também já levaram a União Europeia, o Canadá e o Reino Unidos a impor sanções contra indivíduos que moram nas colônias.

Aumenta pressão militar na Cisjordânia

O conflito entre Hamas e Israel também provocou o aumento de ações militares israelenses na Cisjordânia, sob o pretexto de desarticular células terroristas.

O grupo palestino está presente nos territórios ocidentais administrados por palestinos, mas não é uma força dominante, como ocorre na Faixa de Gaza. A região é oficialmente controlada pela Autoridade Palestina, que tem pouco poder de impedir as ondas de violência.

Em janeiro deste ano, as Forças de Defesa de Israel (FDI) chegaram a realizar uma operação na cidade de Jenin, terceira maior cidade da Cisjordânia, deixando mortos e feridos.

As FDI detonaram simultaneamente quase 20 prédios da zona leste, alegando que abrigavam postos de vigilância, laboratórios de explosivos e outras infraestruturas terroristas. A ofensiva aconteceu dias após Israel iniciar um acordo de cessar-fogo com o Hamas.

Desde então, a ofensiva militar tem se expandido gradativamente para outras localidades da área, como Tulkarem, outra cidade de porte maior do noroeste da Cisjordânia, que abriga dois acampamentos de refugiados (o segundo se chama Nur Shams), construídos após a criação do Estado de Israel, em 1948, para abrigar palestinos desalojados.

gq (DPA, DW)