O Brasil, que no ano passado se tornou o sexto maior fabricante de embalagens de papelão ondulado do mundo, deve alcançar neste ano nova marca de produção, impulsionada pelo crescimento da economia e de datas mais quentes de vendas, como a Black Friday e Natal. Formado por companhias de peso nacionais e estrangeiras, o setor tem maior robustez produtiva com vários programas de investimentos que começaram um ano antes da pandemia.

Desde 2019, os aportes em novas fábricas e em expansão das unidades instaladas somam R$ 17 bilhões, disse José Carlos da Fonseca Jr., presidente da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), em entrevista ao Estadão. “A nossa indústria deu um salto e superou a da Itália, um grande feito. À nossa frente estão China, EUA, Japão, Índia e Alemanha”, destacou Fonseca, ex-embaixador do País.

As grandes fabricantes no Brasil, conforme ranking de 2023, com base em volume, são a brasileira Klabin, líder de mercado, seguida pela americana WestRock, por Trombini, Penha, a irlandesa Smurfit Kappa e Irani. A fusão das duas gigantes estrangeiras, que deu origem à Smurfit Westrock, só foi oficializada em julho deste ano, com a consolidação de ativos das duas companhias. Outra empresa de destaque dessa indústria é a Adami S/A, de Caçador (SC), que tem unidades de papel e embalagens, além de uma área madeireira.

Em 2024, com o desempenho aquecido da economia até agora, a previsão é de que a expedição de papelão ondulado aos consumidores vai superar 2021, quando se registrou o maior volume de um ano na indústria de embalagens do País – 4,05 milhões de toneladas. Aquele ano foi marcado pela retomada pós pandemia, com aceleração da demanda econômica e elevado crescimento na maioria dos setores que demandam embalagens. As vendas atendem produtos de consumo interno e também os voltados à exportação.

De janeiro a outubro de 2024, os despachos desse tipo de embalagem – não inclui as de papel-cartão – tiveram aumento de 5,5% na mesma base de comparação, informou a Empapel, que acaba de finalizar o levantamento de outubro. O volume expedido somou 3,56 milhões de toneladas. Os dados de novembro serão divulgados no final deste mês e devem trazer mais reflexos de alta da Black Friday, pagamento de metade do 13º salário (em 30 de novembro) e das vendas de fim de ano, diretas ou por e-commerce.

No ano passado, o volume de material de papelão ondulado para fabricação de caixas e acessórios encostou no volume de 2021, com 4,043 milhões de toneladas. Com o desempenho verificado até agora, a previsão é que este ano supere 2023. A projeção da Empapel, elaborada em parceria com a FGV/Ibre, é de alta de 4,2%. “Começamos 2024 projetando 2%”, comentou o executivo.

As vendas de embalagens de papel marrom, com destaque para papéis tipo ondulado e kraft, são um medidor significativo da atividade econômica. Apontam o que vai acontecer com os setores no contexto da macroeconomia, afirma Fonseca. A grande demanda desse tipo de embalagens vem de produtos alimentícios – 48,6% conforme os números de outubro. A seguir vêm horticultura, fruticultura e floricultura; químicos e derivados; produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos; e avicultura. Outros somam 23%.

Neste ano, informa a Empapel, as expedições de embalagens bateu recordes em três meses – julho, agosto e em outubro. No mês de outubro, atingiu 391,2 mil toneladas despachadas, com aumento de quase 9% na comparação com um ano atrás. “São resultados muito positivos. Geralmente, o desempenho é mais robusto no segundo semestre do ano. Eles retratam maior poder de compra das famílias, melhoria no nível de emprego, programas de transferência de renda para famílias mais vulneráveis”, diz o executivo. Por isso, observa, o uso de mais de 62% das embalagem marrom na área de bens não duráveis (especialmente alimentos).

De janeiro a junho, o desempenho dos despacho havia surpreendido ao atingir alta de 5,4% no papelão ondulado, ante mesmo período de 2023. Já o papecartão, que não é ainda consolidado nos números da Empapel, registrou aumento de 11,1% nas vendas na mesma base de comparação, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade do setor de celulose e papel.

Na fabricação das embalagens marrons (caixas de papelão, acessórios e chapas de papelão ondulado) cerca de 70% da matéria-prima gerada e que entra no processo de produção é papel reciclado (aparas), numa combinação de material reciclado com fibra virgem (30%). Alguns tipos embalagens, por exemplo para alimentos que não podem ter contato, por norma técnica, têm de ser fabricados com 100% de fibra virgem de celulose.

O presidente executivo da Empapel destaca o papel da sustentabilidade na produção das embalagens, cuja matéria-prima vem de fontes renováveis. “Toda folha de papel é procedente de árvores plantadas, eucalipto e pinus, com certificação de entidades internacionais”, diz o CEO, que assumiu o cargo em setembro de 2023.