Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – O prêmio negativo para a exportação de soja do Brasil, com uma safra recorde agravando o déficit de armazenagem do país e pressionando as operações nos portos, tem atraído a China, maior importador global, avaliou nesta sexta-feira a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) em boletim semanal.

A associação que reúne as principais tradings e processadoras de soja do mundo notou, contudo, que há sinais de a demanda chinesa estar inferior ao previsto, ao apontar projeções de exportações em maio abaixo do embarcado em abril e março pelo país.

Isso mesmo com uma demanda pouco usual dos Estados Unidos, segundo produtor e exportador global depois do Brasil, pela oleaginosa brasileira.

“Os Estados Unidos produziram menos do que o esperado e estão importando pelo grande diferencial de preços que ofertamos. E, até o momento, já importaram quatro navios com soja brasileira. Ademais, os prêmios de exportação negativados estimularam a China”, disse a Anec.

“Apesar disso, há indícios que a demanda chinesa pode estar menor do que o esperado, devido ao esmagamento chinês estar menor, com baixos volumes de processamento no país”, comentou a associação.

A Anec comentou ainda que a Argentina, terceiro produtor global, também precisará importar “muita soja” do Brasil, após a quebra de safra pela seca. Carregamentos brasileiros já foram feitos para o país vizinho, tradicionalmente o maior exportador de óleo e farelo de soja.

Neste contexto, de países sendo atraídos pelos prêmios negativos da soja brasileira, mesmo que a demanda chinesa não esteja das melhores, a Anec estimou com base na programação de navios que o Brasil deverá aumentar a exportação de soja em maio ante o mesmo mês do ano passado para cerca de 12 milhões de toneladas, mas o volume será inferior a abril e março de 2023.

Se o volume de soja previsto para maio for confirmado, o Brasil exportaria este mês menos do que as 13,9 milhões de toneladas de abril e também ficaria abaixo do total de março deste ano (14,4 milhões de toneladas), segundo dados da Anec, que apontam crescimento de quase 2 milhões ante maio de 2022.

DÉFICIT DE SILOS

A safra recorde acima de 150 milhões de toneladas –com colheita perto do final– e o déficit de armazenagem no Brasil têm feito o setor pagar um preço, com o valor da soja recuando pressionado por prêmios negativos nos portos brasileiros ante os valores internacionais.

Na véspera, a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio estimou que os prêmios negativos em boa parte do ano devem gerar perda para a cadeia produtiva do país de 30,5 bilhões de reais em 2023, considerando soja e milho que poderiam ser vendidos em melhores condições se o produtor tivesse melhor capacidade de armazenagem.

Segundo a Anec, “esse problema está fazendo com que os portos trabalhem muito perto da sua capacidade máxima”.

“Há baixa expectativa de melhoras de preços para milho e soja a curto prazo, consequência deste déficit (de armazenagem)”, acrescentou.

“O problema logístico brasileiro, que está causando queda nos preços da soja, deverá ocorrer também após a colheita do milho segunda safra”, disse a Anec, em referência ao cereal que deverá chegar em maiores volumes ao mercado em junho.

A associação estimou ainda a exportação de milho do Brasil em 324 mil toneladas em maio, ante 1,09 milhão no mesmo mês em 2022, após quase 7 milhões de toneladas de exportação do cereal no primeiro bimestre.

Já a exportação de farelo de soja do Brasil deve alcançar 2,2 milhões de toneladas neste mês, contra 1,89 milhão em maio de 2022 e 1,7 milhão em abril.

(Por Roberto Samora)

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