06/11/2020 - 13:03
O Brasil aumentou sua contribuição no ano passado com o aquecimento global. As emissões de gases de efeito estufa, como o gás carbônico, subiram 9,6% em 2019. No primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, a alta de desmatamento, principalmente na Amazônia, foi a principal responsável pelo aumento de emissões.
Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), ligado ao Observatório do Clima. De acordo com o levantamento, o País lançou no ano passado na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), ante 1,98 bilhão de toneladas de CO2e em 2018. Com o aumento, fica mais difícil para o Brasil cumprir sua meta interna de redução de emissões até 2020, que tinha sido estabelecida na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), de 2010.
“O PIB nacional no mesmo ano subiu 1,1%, o que sugere que as emissões no Brasil, diferentemente das da maioria das outras grandes economias, estão descoladas da geração de riqueza”, indicaram os pesquisadores responsáveis pela análise.
O Seeg, que chega a sua oitava edição, estima, de modo independente ao inventário que tem de ser feito pelo governo federal, quanto foram as emissões da cada setor da economia a cada ano, seguindo metodologia recomendada pela ONU para fazer esse tipo de cálculo. De acordo com o levantamento, o setor de mudança do uso da terra, onde entram os dados de desmatamento, teve uma alta de 23% no passado, respondendo por 968 milhões de toneladas de CO2e. Em 2018, o setor emitiu 788 milhões de toneladas de CO2e.
O dado reflete a alta de 34% no desmatamento da Amazônia no período de agosto de 2018 a julho de 2019, em relação aos 12 meses do período anterior, batendo pela primeira vez, desde 2008, a marca de 10 mil km² de devastação na região. A política de clima tinha como meta principal que o desmatamento da Amazônia caísse 80% até 2020 (em relação à média observada entre 1996 e 2005), chegando a cerca de 3,9 mil km².
Segundo a análise feita pelo Seeg, porém, desde que a PMNC entrou em vigor, as emissões do setor de uso da terra cresceram 64% no Brasil. Altas recentes acabaram jogando por terra um grande esforço que tinha sido feito de redução do desmatamento até 2012.
“Estamos numa contramão perigosa. Desde 2010, ano de regulamentação da lei nacional de clima, o País elevou em 28% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja no ar todos os anos, em vez de reduzi-la”, disse Tasso Azevedo, coordenador do Seeg, em nota à imprensa.
“No ritmo em que está e com os indicativos de que dispomos, o País não consegue cumprir a meta de 2020 e se afasta da de 2025”, complementa. A meta total para 2020 era de reduzir as emissões nacionais de 36,8% a 38,9% em relação à trajetória que se imaginava que elas fossem seguir quando a política foi aprovada. De acordo com os cálculos do Seeg, mantida em 2020 a variação média das emissões dos últimos dez anos, o País ultrapassará em cerca de 9% o limite menos ambicioso da meta.
Considerando que o desmatamento observado entre agosto do ano passado e julho deste ano deverá vir ainda mais alto que no ano anterior, a expectativa é mesmo que as emissões ficarão mesmo além da meta. Sobre 2025, Azevedo se refere ao compromisso feito pelo Brasil junto ao Acordo de Paris, de reduzir em 37% as emissões totais até aquele ano, na comparação com o que era emitido em 2005.
“O País já chega devendo em 2021, ano em que deveria ter início o cumprimento da NDC, nossa meta nacional no Acordo de Paris”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Com um governo negacionista da mudança climática e que nem sequer entregou um plano de implementação da NDC até agora, nossa participação no Acordo de Paris se resume a uma assinatura num pedaço de papel. Isso terá consequências sérias para a inserção internacional do Brasil e para nosso comércio exterior”, disse.