24/04/2022 - 16:30
Após um mandato assolado pela crise, o liberal Emmanuel Macron se tornou o primeiro presidente a conseguir sua reeleição na França desde 2002, mas além de aplicar suas polêmicas reformas, seu principal desafio será unir o país.
Entre 57,6% e 58,2% dos votos, o candidato de 44 anos do La República en Marcha (LREM) derrotou novamente sua rival de extrema-direita, Marine Le Pen, 53, mas com uma diferença menor do que em 2017 (66,1 %), de acordo com as primeiras estimativas.
Macron já estava ciente no final da campanha da tarefa pela frente. De Figeac, no centro rural da França, defendia a “reconciliação” entre as cidades, o mundo rural e os bairros. “A França é um bloco”, defendeu.
Desde que chegou ao poder em 2017, o centrista enfrentou duros protestos contra suas reformas, uma pandemia global e as consequências da guerra na Ucrânia, com o mesmo ímpeto com o qual mais uma vez derrotou a extrema-direita.
Mas não conseguiu apagar sua imagem de “arrogante” e alienado das classes populares. Macron “prometeu que mudará sua maneira de reformar e muitos eleitores esperam isso”, disse o especialista do CNRS, Bruno Cautrès, ao jornal Libération.
– “Presidente jupiterino” –
Meses antes de chegar ao Eliseo, há cinco anos, já avisava que seria um “presidente jupiterino”, expressão que, segundo o dicionário Larousse, significa o “caráter dominador e autoritário” do deus romano Júpiter e fez juz ao sua auto-denominação.
A crise dos “coletes amarelos” foi sua maior controvérsia. Este protesto, que surgiu em 2018 devido ao aumento dos preços dos combustíveis, espalhou-se por toda a França para denunciar as medidas contra as classes populares deste ex-banqueiro.
A mobilização sustentou sua imagem de “presidente dos ricos” e desconectada da realidade, conquistada com frases polêmicas como quando disse que nas estações de trem “você encontra pessoas que fizeram sucesso e pessoas que não são nada”.
“Acho que cheguei [ao poder] com uma vitalidade que espero continuar a ter, e com vontade de abalar” o sistema, justificou-se em dezembro numa entrevista sobre o seu mandato, na qual reconheceu “erros”.
– “Estamos em guerra” –
A partir de 2020, a pandemia de coronavírus pôs fim a estes protestos numa nova França de confinamentos e máscaras e promoveu o perfil mais “jupiterino” de Macron: “Estamos em guerra” contra a covid-19, enfatizou.
A gestão pessoal da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial rendeu-lhe ataques da oposição e, apesar da desconfiança inicial da população, soube ganhar a sua confiança e impor medidas controversas como o passaporte sanitário.
A atual ofensiva russa na Ucrânia representa outra crise que trouxe à tona a hiperliderança do presidente centrista que, apesar de fracassar em sua tentativa de evitar a guerra, reforçou sua aura internacional entre os franceses.
“O voto em Macron não se baseia em uma melhora na situação dos franceses, mas na capacidade de administrar crises, de enfrentar crises em um mundo que os franceses sabem que está cada vez mais instável”, afirmou ele à rádio France Bleu.
Este homem elegante de corpo esguio e olhos azuis era pouco conhecido até sua nomeação como ministro da Economia em 2014 pelo então presidente francês, François Hollande, depois de servir como seu conselheiro econômico.
Três anos depois, Macron, nascido em 1977 em Amiens (norte) em uma família de classe média, tornou-se o presidente eleito mais jovem da França, aos 39 anos, resultado de uma ascensão meteórica de um homem apressado.
– “Brilhante e carismático” –
Em 1995, graduou-se com honras no prestigioso Lycée parisiense Henry IV, após o qual obteve o título de Mestre em Filosofia. Durante seus anos de faculdade, trabalhou como assistente editorial do renomado filósofo francês Paul Ricoeur.
Nos seus tempos de estudante já era “brilhante e carismático”, “um bom orador”, “com perfil de Barack Obama”, disse em 2016 Julien Aubert, seu colega na Escola Nacional de Administração (ENA), antigo centro de elite formação.
Até então, ele já havia encontrado o amor de sua vida. Aos 16 anos, ele se apaixonou por sua professora de teatro, Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha e mãe de três filhos, que acabou se divorciando. O casal midiático que quebra os moldes se casou em 2007.
Macron agora espera concluir seu ambicioso programa de reformas, interrompido pela pandemia, e para isso deve primeiro alcançar a maioria parlamentar nas eleições legislativas de junho. Mas 66% dos franceses esperam que isso não aconteça, de acordo com uma pesquisa recente da BVA.
Entre suas promessas de transformar a França estão o “renascimento” da energia nuclear, alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e sua medida impopular de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, embora já tenha dito que está disposto a se limitar aos 64 anos.